Alberto Gonçalves
O meu terceiro voto para 2017 é que as
forças progressistas percam a timidez e inaugurem 30 ou 40 novos feriados,
todos dedicados a datas marcantes de Portugal e do mundo
1.
Após o dr. Costa [foto] ter cometido a sua
mensagem de Natal no cenário de um jardim-escola e fechado o ano aos risinhos
no Governo Sombra, é Tiago Brandão
Rodrigues que concede uma entrevista a uma rádio de catraios. Durante duas
horas, além de explicar que é um melómano (prova: ouve imensa rádio, que,
sobretudo graças ao Fórum TSF, é exactamente a ocupação predilecta de quem
gosta de música), o dr. Rodrigues respondeu às perguntas incómodas dos “jornalistas
de palmo e meio” (palavras, assaz originais, da reportagem da RTP). Exemplo: o
que é que faz um ministro da Educação? A resposta devia estar na ponta da
língua: ajuda o chefe Mário Nogueira a servir convenientemente as clientelas. O
dr. Rodrigues preferiu inventar: “Pensar de que forma a Educação tem que ser
feita nas nossas escolas.” A julgar pela espantosa retórica do senhor, há muito
que se pensa mal e se faz pior
O meu primeiro voto para
2017 é que o PS assuma de vez a convicção de que governa para crianças. Nas
respectivas aparições públicas, o dr. Santos Silva poderia usar bibe e o dr.
Centeno um boné com ventoinha. O discurso de todos eles já está bom assim. E
quanto a substituir os “telejornais” que divulgam a propaganda oficial por remakes do Caderno Diário, também não se notaria a diferença.
2. Pessoas
com menos de 18 anos não podem fumar, beber álcool, conduzir um carro ou eleger
os espíritos profundos que enchem as autarquias e o parlamento. Mas em breve
poderão mudar de sexo aos 16 ou até aos 14, sem atestado médico e logo que
sejam aprovadas as alterações devidas à Lei da Identidade de Género, ideia do
BE (Bloco de Esquerda) que o PS agora consagra.
O meu segundo voto para 2017 é que se
permita a mudança de sexo numa idade anterior aos embaraços da puberdade e,
ainda mais importante, que não se limite o sexo disponível às arcaicas
concepções burguesas de “homem”, “mulher” e “trans”. A velhinha sigla LGBT é
herança de um mundo conservador e bafiento. Da última vez que vi, a modernidade
impunha no mínimo a LGBTQQIP2SAA+ (não pergumtem), o que, embora obrigue os
cirurgiões a formação e criatividade adequadas, responde com outra precisão às
necessidades das crianças que, de acordo com a ILGA, sentem “desconforto total
com o seu corpo”. Desconheço se intervenções do tipo “Enlarge your penis” serão financiadas pelo SNS (Sistema Nacional de
Saúde).
3. A extrema-esquerda no poder por
interposto partido exige mais dias de férias (nos sectores público e privado) e
mais feriados. Abençoada seja. Há muito que a menina Mortágua, economista de
renome regional, demonstrou a falta de nexo entre a produtividade e a riqueza
de uma nação – e entre a massa encefálica e a lucidez, mas esse é outro
assunto.
O meu terceiro voto para 2017 é que as
forças progressistas percam a timidez e inaugurem 30 ou 40 novos feriados,
todos dedicados a datas marcantes de Portugal e do mundo (revolução cubana,
fundação do Chapitô, etc.). E que em simultâneo alarguem as férias do povo para
80 dias úteis, aliás utilíssimos: para descansar de tantos festejos e para ir à
“Europa”, passear na Eurodisney, renegociar a dívida, mendigar “fundos”,
arranjar emprego, o que calhar.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Sábado, nº 662, 5 a 11 de janeiro de 2017
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Sábado, nº 662, 5 a 11 de janeiro de 2017
Digitação e Edição: JP
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