Rodrigo Constantino
O leitor já está cansado de
ver a palavra “suspeito” estampada em manchetes de jornais. Há até certo
exagero, convenhamos. Um sujeito com uma arma na mão, com a vítima morta
estendida no chão, e lá vai a chamada: “Suspeito teria atirado em vítima após
assalto”.
Nesses casos, a excessiva
cautela seria justificada com a máxima de que todos são inocentes até prova em
contrário, e mesmo no caso em que as imagens sirvam como prova, os jornais
optam muitas vezes pela linguagem dúbia, talvez com receio de algum processo
judicial.
Já nos casos de terrorismo
islâmico a coisa parece mais deliberada mesmo, para proteger o Islã e não ser
acusado de “islamofobia”. Foi assim que os Transformers saíram da ficção para a
vida real. O sujeito está sempre oculto na cena do crime. Caminhões matam
dezenas de pessoas. Aviões explodem. Facas perfuram barrigas. Armas disparam.
Mas vejam que interessante: na
hora em que é Donald Trump o potencial malfeitor, toda essa cautela é
abandonada. As aulas de jornalismo são esquecidas. Trump não teria feito
algo errado, como ensina o bom senso, preservando a dúvida: ele fez,
e ponto final. Mesmo que as “evidências” sejam muito fracas. Eis a capa do GLOBO
de hoje:
Trump pediu. Ele
não teria pedido, ele pediu. O jornal “sabe”. Como
exatamente ninguém pode dizer. Mas como se trata de Trump, então ele é culpado até
que prove o contrário. Leandro Ruschel comentou sobre o
caso:
Qual
é “a prova” que Trump mandou o diretor do FBI parar uma investigação sobre um
ex-assessor seu?
Um
memorando escrito pelo próprio diretor…que o NYT não viu, apenas relatou o que
uma fonte diz ter visto.
Ora,
se o diretor receber essa ordem e apenas escreveu num memorando, ele
prevaricou. Se não recebeu essa ordem, apenas escreveu algo que pode ter sido
mal interpretado, nem Trump nem ele fizeram nada de errado nesse caso.
A
única coisa líquida e certa é o desejo da imprensa esquerdista americana de
derrubar Trump, custe o que custar. Não dá para acreditar numa imprensa dessas.
Não sabemos se Trump foi
amador o suficiente para dar ordens ilegais a um inimigo como Comey, e se
deixou rastros no caminho. Tudo precisa ser devidamente investigado, claro,
como devem ser investigados mais a fundo os emails de Hillary Clinton, a
estranha postura do próprio Comey sobre o assunto, ou o assassinato de um
funcionário do Partido Democrata que seria a fonte de vazamentos para o
WikiLeaks.
Casos envolvendo políticos
poderosos merecem sempre atenção redobrada, pois as instituições precisam ser
fortalecidas, a lei deve valer para todos. Não sei se Trump cometeu um crime ou
não, mas a imprensa tampouco sabe. Só que isso não parece importar tanto assim.
O desejo de condenar Trump, de impor uma pauta de impeachment
a todo custo, turva a razão, o bom senso e o bom jornalismo. A mídia virou
torcedora, o que é a morte do jornalismo isento.
Uma pena. Mas se tiver que
apostar minhas fichas, diria que a choradeira vai durar ao menos quatro anos,
quiçá oito. E daqui a sete anos e meio, lá estará a mídia mainstream cantando o
impeachment iminente do presidente republicano de cabelo estranho…
Título, Imagem e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 17-5-2017
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