quarta-feira, 14 de junho de 2017

Carta aberta a José Gomes Ferreira

Sérgio Barreto Costa

José Gomes Ferreira
Meu caro,

Foi com enorme pesar que assisti à entrevista que fez ao nosso querido líder. Como jornalista e investigadora na área da comunicação social, fiquei boquiaberta com a falta de isenção e parcialidade por si demonstradas. Apeteceu-me sugerir-lhe que se inspirasse nos versos do poeta seu homónimo e se suicidasse por seis meses; ou, de preferência, por mais algum tempo.

Não sei se esta minha missiva adiantará alguma coisa; no entanto, quero poder dizer que tentei, como professora de jornalismo que também sou, ensiná-lo a conduzir uma entrevista equilibrada e imparcial a um chefe de Governo oriundo do PS, o único partido do mundo que, adaptando Almada Negreiros, consegue conciliar a presença de todas as qualidades com a ausência de todos os defeitos.
Deixo-lhe por isso aqui as perguntas que deveria ter feito na passada quarta-feira:

– Boa noite, Sr. Primeiro-Ministro. Após um ano e meio de intensa devolução de rendimentos começam a surgir relatos de pessoas, idosos principalmente, que aparecem mortas em casa, esmagadas pelo peso das notas e moedas que, entretanto, acumularam. Não acha que chegou o momento de abrandar o ritmo de enriquecimento dos portugueses?

– Dr. António Costa, agora que as previsões de crescimento de 2,4% para 2016 inscritas no Plano Macroeconómico de Mário Centeno foram largamente ultrapassadas pelo crescimento de 1,4% efetivamente alcançado, não tem medo que as grandes potências económicas queiram contratar o seu Ministro das Finanças?

– Ilustríssimo líder, depois de ter anunciado a aposta no consumo interno e no investimento público, verifica-se que foram afinal as exportações e o investimento privado a puxar pela economia. Quando é que se lembrou dessa ideia genial de enganar o crescimento com uma estratégia falsa para depois o apanhar desprevenido pelo outro lado?

– Luz da pátria, pastor do povo, será que o Sr. Dijsselbloem, agora que passaram três meses da ameaça de demissão que lhe dirigiu, já consegue adormecer sem ansiolíticos?

– Babush, o líder do PSD tem dito, com uma imensa lata, que o senhor anda a colher os frutos que ele plantou. Até quando é que os portugueses terão de aturar disparates da boca de um político que, tendo vencido as últimas eleições apenas por poucochinho, já tinha mais era que ter abandonado a vida pública?

– Primeiro-Ministro-Sol, não lhe parece que, dado o estrondoso sucesso da parceria PS/PCP/BE, seria boa ideia avançar para uma revisão constitucional que ilegalizasse, para bem do povo, os partidos feios, porcos e maus da direita portuguesa?

– Messias, a Presidente da CMVM afirmou que as cativações orçamentais estão a colocar em causa o funcionamento da instituição. Não estará na altura de organizar uma ação de formação para todos estes ignorantes que continuam a confundir os saudáveis instrumentos de rigor financeiro do seu executivo com os desumanos cortes austeritários do último governo?

– António, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul. An-tó-ni-o: os portugueses merecem-no?

Certa de que não deixará de refletir profundamente na fraca figura que fez diante de todos, dou por terminada esta epístola.

Atentamente

Estrela Serrano

Título e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias, 14-6-2017

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