quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Relato de um assalto


Sueli Silva
Eu sempre dizia que se algum dia fosse assaltada na rua ou mesmo dentro de casa não reagiria, e em casa eu até ajudaria o assaltante a levar as coisas até o seu ou o meu carro, contanto que ele me deixasse viva e à minha família. Você acredita que eu fiz tudo ao contrário quando fui assaltada em pleno centro da cidade de Aracaju, na rua São Cristóvão, às 10 horas da manhã?

Eu levava uma quantia expressiva em dinheiro pra depositar no banco, esse dinheiro era do condomínio onde eu era a síndica. Como eu iria provar que fora assaltada? A maioria dos síndicos tem fama de ladrões e eu achava que mesmo apresentando um BO (Boletim de Ocorrência), os condôminos não iriam acreditar e por isso eu reagi. Eu, na véspera, tinha tirado o gesso do braço direito e ele estava ainda imóvel devido ao tempo que ficara imobilizado e doía um pouco, e justamente desse lado eu pendurara a minha bolsa no ombro. A rua estava apinhada de gente e o bandido achou de me assaltar passando o braço no meu ombro como se fosse um amigo, pra disfarçar, e segurando com força o ombro me puxou ao seu encontro colando nossos quadris, foi quando eu ouvi um estalo. Era um canivete grande e ele apertou na minha cintura e me pediu a bolsa. Eu olhei ele de cima abaixo e vi que dava pra encarar, já que ele era mais baixo que eu e com uma rapidez e coragem que não sei de onde veio, levantei o braço doente pra atingir com o cotovelo o nariz dele, só que ele também foi rápido e levantou a cabeça e o meu cotovelo atingiu o seu gogó, onde ele perdeu o fôlego e eu deitei a correr. O filho da puta me perseguiu se arrastando e me jogou no chão e fomos rolando até o meio da rua. Grudei meus dentes na sua orelha que arranquei ela quase toda. Não gosto nem de lembrar daquele gosto de sangue na minha boca e o pedaço de orelha que cuspi longe e a partir daí ele cheio de dor fraquejou e eu comi ele de porrada e o sacana conseguiu fugir. Lembro que ele estava com uma calça igual aos que os petroleiros usam (amarela) e estava com as pernas cortadas até o joelho como um bermudão e uma camiseta fragata que não sei se era cinza ou antes fora preta e estava desbotada. Sandálias Havaianas, uma vermelha e outra azul, que ele deixou pra trás. O assalto foi em frente à guarita da PM, cujo soldado estava batendo papo na outra esquina com um PM que orientava o trânsito. Mesmo com a rua cheia de gente, não apareceu ninguém pra me ajudar, inclusive homens que faziam lanche num trailer. Lembro de uma vendedora de uma loja de eletrodomésticos que gritava muito e pedia socorro e foi ela que me acudiu quando o bandido fugiu me levando até à loja, me dando água com açúcar e limpando os meus cotovelos e joelhos que estavam ensangüentados, pois rolamos muito no meio da rua e na calçada. O gerente da loja se ofereceu pra me levar em casa e eu me recusei, pois tinha que ir ao banco e depois caçar o PM que se encontrava fora do seu posto. Fui ao banco, só Deus sabe em que condições. Eu tremia dos pés à cabeça, mas fiz o depósito e depois fui a esquina da rua Santo Amaro e lá estava o safado do policial. Eu já cheguei aos gritos e sacudindo ele: "Muito bonito, não, seu filho da puta?! Você aqui batendo papo atrapalhando o seu colega e eu sendo assaltada em frente à sua guarita! Veja o meu estado, seu corno do cacete!" Ele não teve reação, já que atrás de mim tinha muita gente que me acompanhou por curiosidade, pois ouviram quando eu disse que iria procurar o PM e dizer-lhe poucas e boas. Ele então perguntou se eu reagira e eu gritei que sim. Ele respondeu que eu era irresponsável, pois poderia ter morrido. Nessa hora eu perdi a paciência e parti pra cima dele gritando que se eu tivesse morrido a culpa seria dele e xinguei ele de tudo quanto foi palavrão. Nessa hora chegou uma viatura (fusquinha) e o policial veio em minha direção pedindo calma e perguntou o que acontecera. Eu não deixei o safado PM falar. Relatei tudo, inclusive sobre a sua ausência do posto e o pessoal que me seguiu endossou o meu relato. Fui conduzida até à praça, até a uma outra viatura que tinha rádio e o tenente deu os dados sobre o assaltante e surgiram vários policiais à caça do bandido. O tenente mandou que o policial ausente do seu posto me conduzisse até o ponto de ônibus e só me deixasse quando ele desse partida. O cara ficou impaciente, porque o ônibus demorou a sair do ponto. Eu sempre viajava em micro ônibus e este só saia do ponto quando lotava e o safado dava muxoxo de impaciência e quando o ônibus estava dando a partida ele perguntou se eu estava satisfeita por prejudicá-lo perante o tenente. Eu mandei que ele tomasse naquele lugar bem alto.
Concluindo, eu fiz tudo ao contrário devido à revolta que senti só em pensar que poderia ser desacreditada perante os condôminos. Então, a nossa reação depende do momento.
Texto: Sueli Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-