Sueli Silva
Eu sempre dizia que se algum
dia fosse assaltada na rua ou mesmo dentro de casa não reagiria, e em casa eu
até ajudaria o assaltante a levar as coisas até o seu ou o meu carro, contanto
que ele me deixasse viva e à minha família. Você acredita que eu fiz tudo ao
contrário quando fui assaltada em pleno centro da cidade de Aracaju, na rua São
Cristóvão, às 10 horas da manhã?
Eu levava uma quantia
expressiva em dinheiro pra depositar no banco, esse dinheiro era do condomínio onde
eu era a síndica. Como eu iria provar que fora assaltada? A maioria dos
síndicos tem fama de ladrões e eu achava que mesmo apresentando um BO (Boletim
de Ocorrência), os condôminos não iriam acreditar e por isso eu reagi. Eu, na
véspera, tinha tirado o gesso do braço direito e ele estava ainda imóvel devido
ao tempo que ficara imobilizado e doía um pouco, e justamente desse lado eu
pendurara a minha bolsa no ombro. A rua estava apinhada de gente e o bandido
achou de me assaltar passando o braço no meu ombro como se fosse um amigo, pra
disfarçar, e segurando com força o ombro me puxou ao seu encontro colando
nossos quadris, foi quando eu ouvi um estalo. Era um canivete grande e ele
apertou na minha cintura e me pediu a bolsa. Eu olhei ele de cima abaixo e vi
que dava pra encarar, já que ele era mais baixo que eu e com uma rapidez e
coragem que não sei de onde veio, levantei o braço doente pra atingir com o
cotovelo o nariz dele, só que ele também foi rápido e levantou a cabeça e o meu
cotovelo atingiu o seu gogó, onde ele perdeu o fôlego e eu deitei a correr. O
filho da puta me perseguiu se arrastando e me jogou no chão e fomos rolando até
o meio da rua. Grudei meus dentes na sua orelha que arranquei ela quase toda.
Não gosto nem de lembrar daquele gosto de sangue na minha boca e o pedaço de
orelha que cuspi longe e a partir daí ele cheio de dor fraquejou e eu comi ele
de porrada e o sacana conseguiu fugir. Lembro que ele estava com uma calça
igual aos que os petroleiros usam (amarela) e estava com as pernas cortadas até
o joelho como um bermudão e uma camiseta fragata que não sei se era cinza ou
antes fora preta e estava desbotada. Sandálias Havaianas, uma vermelha e outra
azul, que ele deixou pra trás. O assalto foi em frente à guarita da PM, cujo
soldado estava batendo papo na outra esquina com um PM que orientava o trânsito.
Mesmo com a rua cheia de gente, não apareceu ninguém pra me ajudar, inclusive
homens que faziam lanche num trailer. Lembro de uma vendedora de uma loja de
eletrodomésticos que gritava muito e pedia socorro e foi ela que me acudiu
quando o bandido fugiu me levando até à loja, me dando água com açúcar e
limpando os meus cotovelos e joelhos que estavam ensangüentados, pois rolamos
muito no meio da rua e na calçada. O gerente da loja se ofereceu pra me levar
em casa e eu me recusei, pois tinha que ir ao banco e depois caçar o PM que se
encontrava fora do seu posto. Fui ao banco, só Deus sabe em que condições. Eu
tremia dos pés à cabeça, mas fiz o depósito e depois fui a esquina da rua Santo
Amaro e lá estava o safado do policial. Eu já cheguei aos gritos e sacudindo
ele: "Muito bonito, não, seu filho da puta?! Você aqui batendo papo
atrapalhando o seu colega e eu sendo assaltada em frente à sua guarita! Veja o
meu estado, seu corno do cacete!" Ele não teve reação, já que atrás de mim
tinha muita gente que me acompanhou por curiosidade, pois ouviram quando eu
disse que iria procurar o PM e dizer-lhe poucas e boas. Ele então perguntou se
eu reagira e eu gritei que sim. Ele respondeu que eu era irresponsável, pois
poderia ter morrido. Nessa hora eu perdi a paciência e parti pra cima dele
gritando que se eu tivesse morrido a culpa seria dele e xinguei ele de tudo
quanto foi palavrão. Nessa hora chegou uma viatura (fusquinha) e o policial
veio em minha direção pedindo calma e perguntou o que acontecera. Eu não deixei
o safado PM falar. Relatei tudo, inclusive sobre a sua ausência do posto e o
pessoal que me seguiu endossou o meu relato. Fui conduzida até à praça, até a
uma outra viatura que tinha rádio e o tenente deu os dados sobre o assaltante e
surgiram vários policiais à caça do bandido. O tenente mandou que o policial
ausente do seu posto me conduzisse até o ponto de ônibus e só me deixasse
quando ele desse partida. O cara ficou impaciente, porque o ônibus demorou a
sair do ponto. Eu sempre viajava em micro ônibus e este só saia do ponto quando
lotava e o safado dava muxoxo de impaciência e quando o ônibus estava dando a
partida ele perguntou se eu estava satisfeita por prejudicá-lo perante o
tenente. Eu mandei que ele tomasse naquele lugar bem alto.
Concluindo, eu fiz tudo ao
contrário devido à revolta que senti só em pensar que poderia ser desacreditada
perante os condôminos. Então, a nossa reação depende do momento.
Texto: Sueli Silva
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