sábado, 11 de fevereiro de 2012

Democracia, poder e patologia


Valfrido M. Chaves
Uma das tentações humanas é o desejo de poder. Sabe-se que tal tendência tem suas raízes no início da vida psíquica onde, devido às limitações da percepção da criança, ela não distingue o que é ela, do que é o mundo externo a ela. Assim, em seus primórdios, a criança percebe a mãe, seu seio e colo, como partes dela mesma. Nesse momento, a“fúria” da criança frente a um atraso da mamada, é uma fúria com ela mesma, pois, para ela, o “outro” ainda não existe. Com o crescimento, no damos conta de haver um outro mundo que não somos nós, que há “outros” que ora nos atendem e ora nos frustram. Tais frustrações nos educam, nos ensinam a controlar nossas raivas e nos conformarmos com o fato de que o mundo não nos pertence e que não o controlamos. Essa caminhada faz parte do que chamamos “amadurecimento” do sujeito e todos percebemos que há pessoas mais ou menos amadurecidas que outras. Noutros termos, há pessoas mais ou menos conformadas com o fato de não dominarem ou controlarem o seu meio ambiente, como se fosse ele um pedaço do próprio corpo. Quanto menos amadurecida, então, maior será a sede de poder, a fúria e a intolerância desse sujeito diante da diferença, da divergência. A maior parte deles acaba marginalizada, após oprimir algumas pessoas, principalmente de seu meio familiar. Outros, mais talentosos, tornam-se pregadores, lideres, através do que tentam diminuir a diferença entre o que há em suas cabeças e a dos outros. E há os mais furiosos que, simplesmente, encontram justificativas para eliminarem os diferentes, os herejes, seja nas fogueiras medievais, seja nos campos de concentração nazistas, comunistas, etc. No século passado, com respingos neste milênio, as ideologias totalitárias fascista e marxista ofereceram ambientes ideais para aqueles dominados pela intolerância face a um mundo plural, como vemos na democracia brasileira que, mal ou bem, aí está ou, melhor dizendo, ainda está. E nessa democracia, leitor, parece que nada incomoda tanto a alguns que não são tão poucos, quanto a liberdade de opinião e de imprensa. “Democratização da imprensa” é o doce nome com que volta bater à tona a tentativa dos imaturos, organizados ideologicamente em torno de catecismo totalitário, em eliminarem a diferença, a pluralidade de opinião. Coincidentemente, são os mesmos a afirmarem que o “Mensalão” é boato; que coordenam a transformação do Congresso Nacional num imenso BBB, para desmoralizarem a “democracia burguesa”, como gostam de dizer; que reviram os olhos de prazer com a invasão e depredação de propriedades legítimas e produtivas, seja para expansão de aldeias ou de assentamentos afavelados. São práticas, leitor, que dão sensação de poder aos manipuladores, porque estupram a lei, a moral, o trabalho digno, a propriedade privada, ou seja, o mundo que, até então, não controlavam. E tudo sob habilidosa complacência do poder e cofres públicos. Quem nos desmente?
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, Psicanalista, Pós-Graduado em Política e Estratégia (Adesg /UCDB)

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