quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

MERCOSUL – O Mercado que não funciona

Peter Wilm Rosenfeld
Acompanhei de forma bastante intensa muitas discussões quando Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai debatiam a formação de uma zona de comércio que seria, a longo prazo, uma zona comum, em que uma empresa de qualquer dos quatro países poderia comerciar com empresas de outro país com absoluta liberdade, sem quaisquer entraves e sem pagamento de quaisquer taxas de importação ou emolumentos.
À época, eu era membro do Conselho de Comércio Exterior da Federação de Indústrias do Estado em que residia e trabalhava.
Era membro muito atuante desse Conselho, nunca deixando de comparecer às reuniões do mesmo e, durante as reuniões, participando ativamente das trocas de idéias e, claro, muitas vezes, discutindo e defendendo minhas opiniões.
Tinha então, e não mudei de opinião até hoje, uma idéia bastante clara sobre o sistema de comércio que se discutia; desde já adianto algumas dessas idéias:
- As diferenças entre os países, principalmente devido à grande distância entre o porte dos mesmos (Brasil, um gigante muitas e muitas vezes maior, em todos os sentidos, do que os outros três).
- As diferenças culturais que, a sua vez, motivavam muitas outras grandes disparidades.
- Uma dessas diferenças, o tamanho e a geografia, geravam muitas outras; é sabido que o Brasil, na realidade, não e um só País, mas sim, pode ser considerado vários países, desde o idioma (muitos nordestinos não conseguem entender o que dizem os sulistas, e vice-versa). As diferenças climáticas são tão grandes que geram todos os tipos de hábitos e de comportamento.
- Essas diferenças também influíam nas políticas, e nos sistemas políticos.
 A lista é extensa e não preciso me alongar. Mas olhando para os muitos anos que já decorreram desde a criação formal do Mercado Comum do Sul, ou Mercosul, o que se pode concluir quanto ao êxito (ou fracasso) do mesmo?
Afirmo, com convicção, que para o Brasil foi uma decepção (opinião pessoal, mas certamente compartilhada por muitos).
Com franqueza e sem rodeios, lá vai:
O maior dos outros três parceiros, a Argentina, não permite que se pratique o livre comércio. Os industriais brasileiros que o digam. A toda hora e ao menor sinal de que um produto qualquer está sendo vencedor no mercado argentino, os portenhos inventam sistemas de licenciamento prévio, ou de contingenciamento, retendo importações de produtos brasileiros na fronteira por muito tempo.
Dezenas de caminhões, com cargas valiosas, ficam retidos durante longos períodos; é fácil pensar quantos milhares de reais, ou pesos argentinos, ou dólares, são “queimados” assim, com prejuízo direto do produtor/exportador brasileiro!

Não só do produtor/exportador como, também, do transportador.
Para “gáudio” dos argentinos, muitas empresas brasileiras resolveram instalar montagem parcial ou total, ou mesmo fábricas inteiras, na terra do tango! Desemprego no Brasil!
E isso acontece com razoável freqüência, afetando principalmente a economia do Estado em que resido, o Rio Grande do Sul.
O Paraguai tem, há muitos e muitos anos, permissão do Brasil para importar determinada quantidade de mercadorias via portos brasileiros e transportá-las livremente para seu País. Qualquer mercadoria!
A grande, significativa quantidade dessas mercadorias retorna ao Brasil como contrabando (os lojistas da Rua 25 de maio em S. Paulo e os camelôs em geral do Sul do Pais têm mercado certo para o que vem do Paraguai...)
Como há uma grande quantidade de inspetores alfandegários comungados com esses “importadores”, não é necessária muita imaginação para saber que isso é prejuízo para o Brasil!
Finalmente o Uruguai, país extremamente sério, penso ser o mais leal de nossos parceiros.
Talvez meu juízo seja um pouco prejudicado pelo fato de ter, há já muitos anos, vivido e trabalhado em Montevideo durante 16 meses, período em que aprendi a apreciar sua educação, seu caráter e sua seriedade.
Mas não posso ignorar que cada vez mais automóveis chineses e coreanos, são importados como “made in Uruguay”, mas nesse país receberam apenas um polimento ou algo parecido.
De lembrar que alguns produtores asiáticos já faziam exatamente o mesmo com importações que “transitavam” por qualquer terceiro país apenas para mascarar sua origem. Não é novidade.
À vista de tudo o que antecede, pergunto: “que diabo de mercado comum é esse, sabendo-se que muitas mercadorias apenas transitam no estado-membro para poder receber um selo de “made in...”?
Em que um “País membro” retém mercadorias na fronteira, durante períodos mais ou menos longos, sem qualquer desculpa ou aviso prévio, causando perdas de milhões de dólares ao exportador.
Ou em que um País, que nada produz, exporta quantidades significativas como se fossem produção local e ainda o faz como contrabando?
Que me desculpem meus leitores, mas que isso é uma grande farsa, lá isso é.
Ah, foi criado um parlamento, que tem sua sede em Montevideu. E Senadores, Deputados e uns tantos burocratas se reúnem de tempos em tempos para discutir certamente o sexo dos anjos; para isso, cobram diárias em dólares, podem comprar produtos que não se vendem no Brasil, manter contas bancárias em moeda estrangeira em paraísos fiscais, etc., etc. Excusado dizer que viajam em primeira classe!
Uma entidade assim tem que existir, se não o Mercado Comum não funcionaria.
Para finalizar, quero afirmar com plena convicção que há muitas empresas, principalmente brasileiras, que estão operando fábricas, indústrias, escritórios de representação absolutamente autênticos, legítimos e sérios em outros países-membros do Mercosul que não os seus de origem!!.
Conheço algumas!
Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre (RS), 08 de fevereiro de 2012

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