terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A sorte grande da União Europeia

Portugal tinha tudo a ganhar com Atenas nas mãos de comunistas e quejandos

Foto: Nikolas Giakoumidis/AP
António Ribeiro Ferreira
O parlamento grego aprovou mais um pacote de austeridade. Não tinha outro remédio e a grande maioria dos gregos assistiu ao debate e aos distúrbios com a certeza de que não havia qualquer alternativa. Sessenta mil manifestaram-se em Atenas, os energúmenos do costume incendiaram edifícios e em Salónica 20 mil saíram à rua em protesto contra a dureza das medidas. Ponto final. Agora há eleições em Abril e as sondagens apontam para um crescimento dos comunistas e quejandos. É natural. Os do costume acreditam que com esta gente no poder o acordo com a troika ia para o lixo e a Alemanha, ou a União Europeia, ou a Comissão Europeia, ou o FMI, tanto faz, iam logo a seguir dar os muitos mil milhões que Atenas deve aos credores e aprovar logo de seguida mais um intenso pacote de investimentos para voltar a dar aos gregos o mesmo salário mínimo, as mesmas reformas e o mesmo nível de emprego público. A austeridade seria varrida do mapa e os gregos teriam mais e melhores empregos, maiores ordenados e continuariam isentos de pagar impostos. Seria, portanto, o paraíso na Terra, com um fortíssimo poder comunista em Atenas a bater o pé proletário aos malditos alemães que andam outra vez a dar cabo de uma Europa cheia de virtudes e potencialidades que só os imbecis ou os distraídos ainda conseguem vislumbrar no meio da total decadência a que chegou o velho continente reconstruído das ruínas da Segunda Guerra Mundial.

Obviamente, a conquista do poder em Atenas por comunistas e quejandos seria a sorte grande da Europa e, já agora, de Portugal. Seria uma extraordinária vacina e a derrota definitiva dos que andam a brincar com coisas sérias e imaginam que o regresso a um passado de políticas económicas insustentáveis, baseadas no Estado, na dívida, no défice e nos impostos ainda é possível. Com os comunistas e quejandos no poder, obviamente que a Grécia dava um enorme salto mortal para fora do euro e os gregos seriam, por muitos e bons anos, o exemplo acabado da miséria e da opressão na Europa em pleno século xxi. A vacina teria um efeito muito benéfico para países como Portugal, em que a cultura esquerdizante comanda a vida e a economia. E em que muitas almas acreditam que a vida na Grécia com os comunistas e quejandos no poder seria verdadeiramente extraordinária, cheia de dinamismo, qualidade de vida, emprego, crescimento económico e muita felicidade na cara dos cidadãos. Infelizmente, é pouco provável que este cenário se concretize. Lamentavelmente, os gregos vão votar à direita e os principais partidos irão tentar, desta vez, cumprir uma parte do programa de austeridade para terem dinheiro para pensões, salários e liquidar uma parte das dívidas aos credores. Para mal dos pecados de Angela Merkel, Atenas não será, para a Europa e para o mundo, o exemplo vivo e acabado de um modelo de sociedade que já devia estar morto e enterrado há anos e anos. Para mal dos pecados de Bruxelas e Washington, os gregos continuarão mais algum tempo no euro. Para mal dos pecados de Lisboa, ainda não será desta que a Europa se livra de uma Grécia falida, miserável e comunista. Os gregos não querem. Maldita democracia.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 14-02-2012

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