Ex-empregados da empresa aérea
e da Transbrasil vivem situações dramáticas depois da liquidação do fundo de
pensão das companhias
Vânia Cristino
Do céu ao inferno. Assim pode
ser resumido o calvário dos ex-trabalhadores da Varig. Com um bom e glamouroso
emprego em uma companhia que era um símbolo do país, eles tinham acesso a
programas e serviços top de linha, como um plano de previdência que lhes
garantiria uma expressiva aposentadoria complementar no fim da vida. Mas tudo
isso mudou com a falência da empresa e com a liquidação do seu fundo de pensão,
o Aerus, também compartilhado pelos funcionários da Transbrasil, outra gigante
da aviação que afundou em dívidas e má gestão.
Em abril de 2006, quando foi
decretada a liquidação extrajudicial dos Planos I e II de Benefícios da Varig,
a vida dos participantes virou de ponta-cabeça. Simplesmente não existia
dinheiro suficiente para honrar as aposentadorias e pensões já concedidas, nem
recursos para ressarcir os beneficiários que ainda continuavam pagando,
religiosamente, as suas contribuições. Isso porque, antes de falir, as empresas
patrocinadoras deixaram de honrar as suas parcelas ao Aerus e descumpriram,
sistematicamente, todas as repactuações de dívidas firmadas com o fundo. No
caso da Varig foram feitos 21 acordos; com a Transbrasil, oito.
O resultado desse descaso é
dramático. Passados seis anos e quatro meses da liquidação do Aerus,
aposentados e pensionistas não estão recebendo quantias suficientes até mesmo
para a compra de comida e de medicamentos. Pior: as verbas que ainda restam no
caixa do fundo está prestes a acabar. Não à toa, o comissário de bordo aposentado José Paulo Resende, de 62 anos, se diz indignado. Ele recebe R$ 592
por mês. Antes da intervenção no fundo, seu benefício chegava a R$ 3.475.
"É inacreditável, mas há pessoas em situação pior do que a minha,
recebendo apenas R$ 40 ou R$ 100 mensais. Uma vergonha", protesta.
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Paulo Resende, Copacabana, 24-01-2009. Foto: JP |
Depressão
Em situação desesperadora está Maria das Graças Carrilho, 57 anos, viúva de um comissário de bordo. O marido,
José Luiz, era beneficiário do Aerus. Enquanto ele trabalhava, os dois tinham
um padrão de vida excelente. Ela não sabia o que eram contas atrasadas e nada
faltava em casa. A situação mudou drasticamente depois que o fundo de pensão
quebrou. O marido teve um câncer devastador, que o levou à morte em 2009.
"Já durante a doença dele, a situação estava difícil. Não tínhamos plano
de saúde e, recebendo tão pouco, havia dias em que não tínhamos dinheiro para
comprar nem um pote de geleia de mocotó, que ele adorava", diz, emocionada.
A morte do comissário só
piorou as coisas para a pedagoga com licenciatura em estudos sociais, que,
devido às constantes viagens do marido, optou por ser dona de casa e cuidar dos
sogros idosos e dos dois filhos. "Minha vida tornou-se um pesadelo",
sentencia Graça, que entrou numa depressão profunda, agravada pela difícil
situação econômica. O quadro a levou a adquirir outra doença, vitiligo.
Constrangida, ela praticamente não sai de casa. "Quem compra comida é
minha mãe, uma senhora de 83 anos. Minha filha está desempregada e não pode
ajudar com as despesas. Todo dia ligam e mandam cartas cobrando os empréstimos
que meu marido fez quando estava doente. Como acertar as contas se não nos
pagaram?", pergunta.
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Antonio Melo e Graça Carrilho, Copacabana, 31 de maio 2009, foto: JP |
A vida também não é nada fácil
para outro comissário aposentado, João Roberto Moura Benevides. Ele recebe, há
seis anos, R$ 275. Antes, seu benefício era de R$ 2,6 mil. A sorte dele é que
voltou a estudar e, como tradutor, consegue algum dinheiro. A esperança dos
ex-funcionários da Varig de conseguir o que lhes é devido está em ações que
correm na Justiça. Numa delas, a massa falida pleiteia do governo uma vultosa
indenização pelos prejuízos que teria sofrido com o controle de preços das
passagens aéreas. Em outra ação, aposentados e pensionistas pedem que a União
seja condenada a recompor o valor dos benefícios.
Esperança
na Justiça
Nos anos de 1980, a política de reajuste das
passagens aéreas no Brasil não era regida pela lei da oferta e da procura.
Cabia ao governo estabelecer limites para o valor dos bilhetes. Com o choque do
petróleo, os custos de operação dos aviões dispararam, mas os preços foram
mantidos artificialmente baixos, resultando em enormes prejuízos para as
gigantes da época, justamente a Varig e a Transbrasil. Muitos acreditam que a
defasagem tarifária foi decisiva para a falências das empresas.
Em 1992, já com sérios
problemas financeiros, a Varig recorreu à Justiça para receber a diferença
entre as correções autorizadas e o aumento real dos custos. Ganhou em todas as
instâncias. Falta apenas a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), onde a
relatora do processo é a ministra Cármem Lúcia.
Os aposentados e pensionistas
da companhia, assim como os demais participantes do Aerus, têm interesse direto
nessa ação, já que ela foi dada como garantia do pagamento da dívida que a
Varig acumulou com o fundo de pensão. O débito foi estimado, à época, em mais
de R$ 3 bilhões. Os cálculos do valor da indenização variam de R$ 4 bilhões a
R$ 8 bilhões. Se receber uma bolada dessas, a massa falida da Varig acertará
suas pendências com a entidade de previdência complementar, o que permitirá
tirar os beneficiários da precária situação em que se encontram atualmente.
(VC)
Omissão
Os participantes do Aerus
estão batalhando para reaver seus direitos. Em 2004, o Sindicato Nacional dos
Aeronautas (SNA) iniciou uma ação judicial, chamada de antecipação de tutela,
na qual pede que a União seja responsabilizada pela quebra do Aerus e condenada
a restaurar o valor dos benefícios de aposentados e pensionistas. A alegação é
de que a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) falhou ao dar aval para
todas as repactuações de dívidas feitas e nunca cumpridas pelas empresas, não
agindo a tempo de salvar o fundo. No mês passado, o juiz Jamil Rosa de Jesus
Oliveira, da 14ª Vara Federal de Brasília, deu ganho de causa aos participantes
do fundo de pensão, mas a Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu da sentença.
Título e Texto: Vânia Cristino, Correio Braziliense, (link
para o jornal) 02-9-2012
Obrigado amigo Jim Pereira por postar esta excelente matéria da Jornalista VANIA CRISTINO do Jornal Correio Brasiliense. Valeu Jim. Grande e fraternal abraço do amigo Paulo Resende.
ResponderExcluirEu é que agradeço, Paulo!
ResponderExcluirContinuo sonhando com 60 mil "manifestantes" na Causa no Facebook... aí, nossa! Já pensou?
Grande abraço./-
Muito bom dia Jim e Paulo,
ResponderExcluirExelente trabalho que vcs vem proclamando nos meios jornalísticos.
Precisamos incrementar cada dia mais e mais. Apertar o cerco até "espanar a rosca" desses que estão na contra-mão de nossa luta. Nossa luta é justa e honesta, honestíssima. Precisamos resgatar nosso dinheiro roubado por esses canalhas incompetentes que administram o país via os tres poderes. Governo??? Melhor dizendo, o desgoverno, a corrupção, a inversão de valores, o despreparo, a insensibilidade, o descaso e por fim a falta total de respeito pelos direitos à vida do cidadão que teve sua trajetória correta em detrimento aos seus governantes.
Lutarei até meus últimos dias de vida, no sentido de banir essa página obscura de nossa história.
Nivaldo Barbosa
Que Deus continue dando coragem aos poucos que lutam pela volta da felicidade de todos os perto de dezessete mil ex Variguianos hoje comendo pão que diabo amassou. Pudéssemos ter sangue de união e juntos, em multidão pelo0 Brasil todo ir às ruas e de ha muito a solução definitiva teria sido honrada. Porém, como fala a Jornalista, nem todos recebem tão pouco, há os que com outras rendas garantidas e ajudantes, recebem mais e então, se acomodam, e isso faz crescer o descaso dos governantes sempre interessado em levar, mas nunca dar.
ResponderExcluirNo parágrafo de onde retirei este trecho que segue abaixo,
ResponderExcluir"Se receber uma bolada dessas, a massa falida da Varig acertará suas pendências com a entidade de previdência complementar, o que permitirá tirar os beneficiários da precária situação em que se encontram atualmente. (VC)"
me ocorre que este é um problema deles e que eles , tenho certeza, querem resolver. Quem não quer uma bolada destas? E eles tem causa ganha
Entretanto, o que garante a vcs que receberão sua parte?
Me desculpe a intromissão mas, será que não seria melhor se pusessem foco e pressão sobre aquele quem lhes devem tanto?
Quero dizer que , cada um deve cuidar do que é do seu interesse. Vocês ja conquistaram a garantia de recebimento? E se sumirem com esta grana?
Me desculpa se falo besteira.
circe aguiar
De Marcio Valério, por e-mail:
ResponderExcluirHi Jim,
Obrigado. E parabéns pelos acessos ao teu Blog.
Continuamos atentos. Como sempre foi e disso sabiamos, - enquanto outros corriam atrás de Acordos impossíveis e enganadores, quando o proprio Governo dizia que "o problema está com a Justiça", nós só temos a Justiça. A da 14a Vara em Brasília e a do STF, também em Brasília.
E vemos como é dificil transformar em resultado palpável que mitigue um pouco a dor, uma decisão favorável e vencedora em dois julgamentos dada a revoltante resistência da AGU em aceitar que a decisão favorável aos participantes do AERUS é definitiva e Justa. Apelam por retardar ao máximo a nossa Vitória esquecendo (esqueceram de tanta coisa) que a TORTURA NUNCA MAIS é uma bandeira do velho PT.
A Justiça se fará. Aguardemos todos, eu, você, Paulo Resende, Graça... tantos e tantos colegas de lutas nas ruas com faixas e com vontade.
Grande abraço,
Marcio
O Governo precisa cumprir a decição da justiça e pagar os aposentados do Aerus.
ResponderExcluirMarcia Almeida
De Graça Carrilho, por e-mail:
ResponderExcluirBom dia, Jim.
Obrigada por sua luta, obrigada por me manter com esperanças. Você, Paulo, Dayse, Márcio, e seria injusto não colocar os "gatos pingados", é que me fazem ter coragem. Espero que possamos um dia comemorar. Você, como o Paulo, representam muito...
Não posso esquecer jamais, que essa luta também é em memória do meu marido, que sofreu muito. Gostaria que ele estivesse aqui entre nós, mas como isso não é possível, tentarei até o fim, para que ele lá do céu, junto com todos que se foram na esperança de ter esse drama resolvido, comemorem, por nós que estamos na luta de sobreviver.
Muitas estrelas brilharam, junto com o símbolo da VARIG.
Com minha gratidão e carinho.
Graça Carrilho.
Oi, Graça
ResponderExcluirObrigado!
E nós também agradecemos a você, uma das "gatas-pingadas" das manifestações nas ruas e praças do Rio de Janeiro!
Beijos mil./-