Quando tudo isto terminar é
quase certo que as muitas cabeças que estão divergindo agora, continuem a
divergir depois. Assim, como o pouco que pode vir de um acordo pode ser muito
para quem está mais necessitado, se algo vier que atenda às nossas melhores expectativas,
será pouco para os que, devido a variadas circunstâncias, precisam menos do que
os outros. Isto, que se pode alegar pela natureza de sermos diferentes uns dos
outros, demonstra muito mais a nossa cegueira voluntária, pois se podemos ter
situações pessoais altamente diferenciadas, temos uma causa comum que devia nos
unir acima de nossas diferenças eventuais. Se é aceitável que antes do calote
no Aerus nós fossemos “desligados”, como fomos apesar dos muitos sinais de que
nem tudo ia bem com a Varig e o Aerus, depois de abril de 2006 essa desculpa
desapareceu. No entanto a cegueira voluntária prevaleceu até ao ponto de nunca
ter permitido a criação de um discurso único, elemento fundamental quando se
necessita lutar por uma causa contra um oponente muito mais forte do outro
lado.
A partir deste ponto, os mais
afoitos que me leem irão imediatamente identificar e apontar os culpados de um
lado e de outro, isto se não houver, mas parece que há sim, mais do que dois
lados alegando a compreensão absoluta de todas as causas que nos levaram a este
caos e, ao mesmo tempo, se auto elegendo como os portadores de todas as
soluções.
Para nossa infelicidade, este
foi caminho que nos levou a esta situação e do qual, renunciando a vaidades e
picuinhas pessoais, deveríamos nos afastar imediatamente e nos - (re)unirmos -
em busca de um bem maior, seja ele um acordo – mas um bom acordo – ou decisões
da justiça que já deram passos animadores. Penso inclusive que, nós, como uma
classe mais consciente de seus direitos e mais unida em busca e de soluções
pela volta desses direitos, possivelmente já teríamos logrado alcançar
resultados melhores e quiçá estaríamos agora falando dessa crise como coisa do
passado.
Infelizmente ainda há pouco,
não sabendo tirar proveito de mudanças que vêm ocorrendo na sociedade cansada
da corrupção crônica e de ver, como diria Rui Barbosa, “triunfar as nulidades”,
nós, variguianos, não soubemos valorizar esforços, como a greve de fome levada
a cabo pelo colega José Manuel. Em vez de ser colocada no mesmo nível de luta
em que se deram as ocupações do Aerus, no Rio e da Câmara Federal, em Brasília
- movimentos que aliás, de minha parte, merecem todo o respeito – o ato do José
Manuel, em vez de ser entendido como um marcante reforço à nossa luta comum,
acabou gerando manifestações como uma irresponsável insinuação de que ele, o
José Manuel, teria sido induzido a um ato impensado e perigoso pelo presidente
da Aprus, Sr. Thomaz.
A referência que faço a este
infeliz episódio é menos o desejo de censurar - e mais no sentido de evitarmos
atitudes divisionárias no tempo que ainda nos separa de uma solução que nos
satisfaça.
O fato de continuarmos a
divergir depois de uma solução para essa infeliz questão Aerus/Varig, não tem
nada de errado na medida em que ocorra em nível respeitoso e no uso das
liberdades democráticas que ainda temos – e que só valem alguma coisa se forem
usadas responsavelmente. Mas o que quer que falemos e façamos agora nesse
período angustiante de espera, deve contribuir para uma união acima de nossas
pequenas diferenças e focar no bem maior que é alcançar o nosso objetivo comum:
A solução para as questões dos
aposentados e demitidos; o pagamento dos salários, aposentadorias e pensões que
foram suspensos e a retomada dos pagamentos mensais. Enfim a solução de todos
problemas gerados com o fim da Varig e o calote no Aerus. E por último, mas não
menos, que o acordo ou qualquer outro nome que receba, venha com as garantias e
as marcas da segurança jurídica devidamente definidas e documentadas.
Encerro com a reflexão que fiz
no início, quanto ao fato de uns tantos entre nós serem menos dependentes do
Aerus e outros – a maioria talvez – que possam se contentar com um acordo ruim
que os alivie do desespero atual. É compreensível que para sair do sufoco se
aceite menos do que é de direito. Mas a contrapartida é que, ao se aceitar
menos – em termos de recursos e clareza de propósitos da parte do governo – os
que em desespero aceitarem qualquer coisa, em pouco tempo retornam ao estado de
penúria. E aí se estabelece a sobrevivência (não é Charles Darwin?) do mais
apto.
Trabalhemos juntos, sem deixar
mais uma vez a cegueira voluntária nos levar ao abismo.
Um abraço fraterno a todos,
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 20-8-2013
Muita coisa do que foi colocado pelo sr.Bolognese também é compartilhado pelo meu pensamento.Penso que a disputa por ego neste momento não construa nada de positivo, ao contrário, dá "forças" ao outro lado (governo) na medida em que possa perceber que o "acordo" não é o caminho preferido principalmente pelos aposentados do Aerus.Aqui cabe um comentário à parte:Não são só os aposentados da Varig mas também os da Transbrasil que estão nesse barco embora as diversas correntes façam questão de frizar "Varig".Eu trabalhei 20 anos na Varig e depois mais 10 na Transbrasil por onde me aposentei pelo Aerus e contribui por ambas as empresas.Muita gente se esquece de que o que motivou o caso Aerus a vir ser tema de discussão no Congresso e "despertar" o Governo a falar em acordo foram as ações, tanto dos que forçaram a permanência no Congresso, como a heróica atitude do Jose Manuel, como as diversas manifestações pelas ruas e aeroportos de varias cidades brasileiras, promovidas ou não pela Aprus,Sna,Cut,Fentac,etc.. O que importou foi trazer a visibilidade à tona, já que na esfera judicial o caminho é e continuará sendo "devagar quase parando". Por tanto é hora de darmos às mãos e torcer para que seja lá quem for que estiver diante do governo para discutir o acordo ( partindo do principio de que o anuncio da presidentA Dilma seja de alma e não de enrolação)e que busquem o melhor para nós, OS APOSENTADOS.Os demais interessados no resultado das ações em pauta também deverão estar preparados para aceitar o acordo, se ele vier.Os que não quiserem ajudar muito fazem se não atrapalhar.
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