
2. Entre os argumentos contra Juncker há considerações falsas,
contraditórias, ou apenas parcialmente verdadeiras. A acusação de que o pai era
nazista baseia-se em que Joseph Juncker, operário luxemburguês de profissão,
combatera no exército alemão durante a II Guerra Mundial. Mas, tendo o Reich
ocupado o seu país, quantos jovens considerados alemães podiam recusar o
alistamento? Igualmente sem sentido parece a acusação de alcoolismo. Juncker
pode ser fã do seu conhaque, mas isso dificilmente o torna uma raridade entre
os políticos europeus. Quanto aos relatos sobre uma ou outra cena de fúria - um
tabloide conseguiu descobrir que uma vez gritou com um alto funcionário durante
cinco minutos - também não bastam para distingui-lo.
3. Jean-Claude Juncker tem atualmente 59 anos. Nasceu e cresceu no
Luxemburgo, estudou lá e na Bélgica, fez o curso de Direito em Estrasburgo.
Registrou-se como advogado em 1980, mas nunca exerceu a profissão. Nessa altura
já era membro do Partido Cristão Social Popular há seis anos e tinha iniciado a
sua carreira política. Foi Secretário parlamentar, deputado e ministro do
Trabalho. Em 1989, Juncker recebeu a pasta das Finanças. Em 1995 passaria a
acumulá-la com a chefia do governo. Enquanto membro do executivo começara cedo
a presidir a reuniões na União Europeia, a vários títulos. Teve certa
proeminência no processo de formação do euro. Ao mesmo tempo, era governador no
Banco Mundial e depois no FMI. E ocupou sempre mais que uma cadeira no governo,
quer antes de ser primeiro-ministro quer depois.
4. Juncker só ficou gravemente embaraçado quando se descobriu que
os serviços secretos do seu país andavam fazendo escutas ilegais. O escândalo
também envolvia corrupção e abusos de dinheiros públicos. Junker tentou
minimizar (não é surpresa que no mundo dos serviços secretos haja segredos,
disse), mas acabou por se demitir.
5. Não deixa de ser irônico que a sua candidatura agora vencedora
tenha sido contestada pelo Reino Unido com o argumento de que não deve ser o
Parlamento Europeu, e sim os chefes de governo dos Estados, que devam escolher
o presidente da Comissão Europeia. Afinal quem é que quer tomar as decisões com
as portas fechadas?
6. Se Cameron realmente pretendia evitar a nomeação de Juncker e
não apenas obter dividendos internos, terá cometido o erro de tornar a sua
oposição demasiado pública, encostando Merkel e outros líderes à parede.
Juncker aproveitou. Garantiu que não se ia ajoelhar perante os britânicos.
Lembrou que era importante resistir a esse tipo de pressões. 26 dos 28 chefes de governo da UE
concordaram com sua defesa.
Título e Texto: Cesar Maia, 02-07-2014
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