Luciano Ayan
O evento de ontem, da Rede
Globo, foi o melhor dos debates presidenciáveis até o momento. Simplesmente
foram quatro blocos de candidatos questionando-se mutuamente, o que ajuda a
manter o interesse. Era até difícil cochilar.
No debate anterior, da Record,
Aécio havia se saído vitorioso, enquanto podíamos dizer que Dilma empatou
com Marina. Agora, Aécio novamente se saiu vitorioso, mas com larga vantagem.
Ele definitivamente reinou no debate e pode ter carimbado aí sua ida ao segundo
turno. Já Marina desta vez perdeu para Dilma. A candidata do PSB parecia mais
irritada, mas ao mesmo tempo desanimada, que o costumeiro.
O cansaço da campanha pode ser
um motivo para esse cansaço. Outro motivo (mais provável) é a desconstrução
feita do PT contra Marina. Simplesmente, Marina está abalada. Se isso vai ser
suficiente para tirá-la do segundo turno eu não sei.
Antes de falar mais do “trio”
principal, preciso tratar de forma resumida os candidatos menores, que deviam
começar a ficar de fora dos próximos debates para 2018. Minha sugestão é que
somente candidatos acima de 5% nas pesquisas participem desses eventos, pois os
pequenos quase sempre entram para não dizer coisa com coisa e atrapalhar.
Tomemos como exemplo o Sr.
Eduardo Jorge. Basicamente, ele dedicou-se a fazer duas perguntas servindo como
linha auxiliar de Dilma. Na primeira, era para ele perguntar sobre corrupção,
mas optou por questionar sobre mulheres que morreram em decorrência do aborto.
Momento ideal para Dilma fugir da pergunta e responder outra coisa qualquer.
Depois, a questionou sobre saneamento, o que permitiu que ela respondesse que a
questão é “muito importante”. Para retribuir a ajuda, Dilma também chamou
Eduardo Jorge para lhe questionar sobre o Pronatec. E, é claro, ele disse que é
tudo muito importante. Patético e vergonhoso.
Pastor Everaldo foi o
verdadeiro candidato que merece ser equiparado a alguns alimentos: Bolacha Água
e Sal, Tapioca sem Recheio e Polenta sem Molho. As suas respostas parecem ser
elaboradas para gerar uma espécie de transe no eleitor, tamanha a vacuidade.
Bem, não colou.
Pelo menos, ele fez as
tradicionais escadinhas para Aécio Neves, principalmente ao questioná-lo sobre
a corrupção. Nesses momentos, digamos que ele foi linha auxiliar de Aécio tanto
quanto Eduardo Jorge foi de Dilma. Justiça seja feita, Everaldo também se deu
bem em sua fala final ao citar a proposta de Dilma por diálogo com
terroristas que assassinam pessoas. Tanto que Dilma pediu direito de resposta,
no que não foi atendida. Fico imaginando que raios ela diria nesse direito de
resposta. Talvez fosse algo assim: “olha, Everaldo errou, pois os terroristas
não assassinam as pessoas, na verdade elas se suicidam”. Enfim, Everaldo não
leva zero por fazer a escadinha para Aécio e dar essa estocada final em Dilma.
Dos nanicos, Luciana Genro é
um espetáculo. Simplesmente não há a menor base de comparação com os outros
candidatos nanicos. E olhe que todas as propostas dela são um lixo bem fétido.
Como esperado, ela também fez escada para Dilma logo na introdução do debate,
ao perguntar sobre corrupção, dizendo que se o PT fez corrupção “é por alianças
com a direita”. Ou seja, os esquerdistas são anjos que se corrompem ao visitar
o inferno, onde estão os direitistas. O problema seria ela explicar como a
filha de Hugo Chavez tem 800 milhões de dólares no exterior, e como a fortuna
de Cristina Kirchner cresceu 687% na Argentina. Mas falemos do aspecto técnico:
em termos de guerra política, em linhas gerais, ela é extremamente competente,
usando recursos como polarização, retórica de conflito, lançamento de culpas, shaming, a técnica da metralhadora e até
encenações teatrais. Se fosse apenas pela técnica de guerra política, eu a
definiria como a vencedora do debate, mas suas propostas vazias e a falta de
foco a atrapalharam. Num cômputo geral, ela ficaria em segundo lugar, atrás de
Aécio.
Mas e o Levy Fidelix? Digamos
que ele foi um verdadeiro desastre. Logo de cara entrou nervoso e já foi
questionado por Eduardo Jorge, que o constrangeu por causa de suas respostas no
debate anterior. Jorge concluiu sua pergunta dizendo que Fidelix deveria pedir
desculpas ao povo brasileiro por “homofobia”. Fidelix engrossou o tom de voz e
disse que Jorge não teria moral nenhuma por apoiar a maconha e o aborto, lembrando
que o casamento entre homem e mulher está previsto na Constituição. Jorge disse
que eles iriam se encontrar na Justiça, afirmando que Fidelix envergonha o
Brasil. Fidelix disse que Jorge é quem envergonha o Brasil por fazer apologia
de drogas. Bate-boca mesmo.
Em seguida, Fidelix, sem
juízo, resolveu questionar logo quem: Luciana Genro. Ele falou de um suposto
acordo pré-debate (para o debate anterior, da Record) com o marido de Luciana
Genro, que esta última negou existir. Coitadinho. Fidelix deveria saber que
acordo com ultra-esquerdista só se for na base da ata, com envio por e-mail
para todos. Mas o pior foi a sessão de constrangimento que Luciana lançou
sobre ele, chegando a compará-lo aos nazistas, rotulando-o como apologista de
discurso de ódio, desumano, inimigo das minorias e daí por diante. Restou a ele
ficar na defensiva. Em termos de guerra política, Fidelix merece um zero bem
redondo. Não foi assertivo, mas agressivo, atacando sem direção e, pior,
ficando na defensiva em vários momentos. Em resumo, enquanto atacava, atirava
para lugar nenhum. Daí se defendia, o que é sempre um erro estratégico.
Marina, em um de seus raros
bons momentos, demonstrou as contradições de Dilma a respeito da autonomia do
BC. Como os leitores deste blog sabem, Dilma defendeu em 2010 (a autonomia do
BC) o que criticou em Marina em 2014. Ou seja, mentiu na caradura. Marina
deixou bem clara esta mentira de Dilma, que deveria ser explorada de forma bem
taxativa por quem for para o segundo turno contra ela. Dilma disse que Marina
“confundia autonomia com independência de forma deliberada”. Marina explicou
que a autonomia do BC permitira o combate a inflação sem interferência,
lembrando que Dilma, como jamais foi sequer vereadora, não sabe o que é
autonomia. Em uma bela tacada, Dilma desconstruiu de imediato o termo nova
política e disse que é um absurdo alguém que defende a tal “nova política”
exigir que alguém tenha carreira para ser presidente.
Em outro momento, Marina
criticou Dilma por não ter apresentado seu programa de governo, além de não ter
cumprido várias de suas metas. Como sempre, Dilma negou tudo e ainda afirmou
que na gestão de Marina o diretor do Ibama foi demitido e preso. Rolou um
bate-boca aí. No geral, Dilma saiu-se com ligeira vantagem, pois mente com mais
habilidade do que Marina consegue desmascarar. Em resposta a Everaldo, Marina
usou o tempo para desmascarar uma mentira de Dilma, a de que esta última teria
“dado autonomia do Ministério Público”. Mas como Marina afirmou, a autonomia do
MP é garantida pela constituição.
Dilma, como sempre, se
destacou por suas mentiras, como, por exemplo, dizer que “Aécio quer privatizar
a Petrobrás”. Ele retrucou dizendo que o PSDB privatizou setores
importantes e disse para o eleitor imaginar o que seriam setores como
siderurgia e a telefonia nas mãos do PT (em comparação com Petrobrás e os
Correios). Ele foi muito bem aí. Aécio também lembrou outra mentira de
Dilma: a de dizer que ele foi demitido. Na verdade, a ata do conselho da
Petrobrás diz que ele renunciou ao cargo, recebendo honrarias e elogios. Dilma
tentou negar o fato dizendo que Paulo Roberto Costa havia declarado que foi
avisado antes da substituição de equipe. Aécio não retrucou por completo, mas
lembrou que Dilma não negou as honrarias e ainda deixou Roberto sair com todos
seus direitos, ao invés de lhe aplicar demissão por justa causa (na verdade,
ele deveria lembrar que a versão que vale é a da ata). Ele fez muito bem em
lembrar que vai reestatizar novamente a Petrobrás, que hoje está nas mãos de uma
quadrilha colocada pelo PT lá.
Por fim, Aécio. Como linha
auxiliar do PT, Luciana Genro entrou para acusar o tucano do jeito de sempre,
falando de termos como “privataria”, “mensalão mineiro” e dizendo que o PSDB
não pode falar de corrupção pois é “o sujo do mal lavado”. Ela basicamente
repetiu seu discurso do debate da CNBB, com uma série de ataques. Acho que
Aécio às vezes “trava” diante de Luciana (até por esta é uma exímia guerreira
política), e não responde a todas as acusações. Pelo menos ele concluiu a
resposta chamando-a de leviana (por que ela acusou-o de ter beneficiado a
família com um aeroporto), dizendo que ela não está preparada para ser
candidata à Presidência. Uma pena que ele não lembrou do Mensalão do PSOL neste
momento. Mas como é diante de Luciana Genro, podemos dar um desconto.
Nas outras interações, como
vimos anteriormente (com Pastor Everaldo e Dilma), Aécio já havia se saído
muito bem. Um outro pequeno deslize ocorreu quando ele desafiou a “nova
política” de Marina, perguntando onde ela estava durante o mensalão do PT. Ela
disse que mensalão também ocorreu no PSDB e Aécio não deixou o partido. Ele
disse que ela, enquanto ministra do meio ambiente, nomeou vários petistas que
não conseguiram se eleger.Marina retrucou dizendo que o PSDB se juntou ao PT
para atacá-la.
Dilma usou um truque dizendo
que o PSDB “quebrou o Brasil três vezes”. Aécio deu uma ótima resposta dizendo
que pegou o Brasil com 916% de inflação por ano, levando-o para 7%. Boa
resposta.
Em suma, é possível notar que
Dilma tem um ponto a seu favor: a quantidade de mentiras que consegue proferir
em uma velocidade maior que seus adversários conseguem refutar. Por outro lado,
Marina parece ter perdido aos poucos essa capacidade e não parece preparada
para um embate com Dilma, ao menos neste momento. Já Aécio Neves demonstrou,
nos últimos 3 ou 4 dias, uma evolução nítida. Ele só precisa perder a mania de
deixar alguns ataques sem resposta.
Uma dica para quem for para o
segundo turno: revejam todas as propagandas eleitorais do PT, e todos os
debates anteriores, e procurem não pelos argumentos, mas pelos “frames”. Enfim,
todas as frases de efeito que Dilma costuma dizer a todo momento, seja para
atacar oponentes, seja para apregoar falsos méritos.
Entre os frames falsos
incluem-se: “havia um engavetador geral da república no governo FHC”, “antes
não investigava, agora investiga”, “hoje o Bolsa Família atende 55 milhões de
pessoas” (na verdade são 11 milhões de benefícios).
A dica, enfim, é não deixar
nada sem resposta, neutralizando mini-bloco por mini-bloco de discurso, em um
esforço de desconstrução. Tendo feito esse tipo de pesquisa detalhada, a
possibilidade de Dilma Rousseff ser derrotada no segundo turno é considerável,
pelo que vimos neste debate. Potencial existe: basta aproveitá-lo.
Resumo final: Aécio Neves foi o
melhor no debate. Não foi nota 10, mas foi realmente bem, de forma distanciada
dos outros candidatos. Em segundo lugar, eu colocaria Luciana Genro (a melhor
guerreira política desta eleição). Em seguida, eu apontaria Dilma
ligeiramente acima da Marina, em quase um empate técnico. Dos menores,
Pastor Everaldo e Eduardo Jorge completamente apagados. E Levy Fidelix
entrou nervoso, o que o levou para a lanterna deste evento. (Uma das piores
coisas em guerra política – como em qualquer guerra – é entrar com os nervos à
flor da pele. O ambiente pode ser de conflito, mas a calma durante o conflito é
essencial.)
Que venha o dia 5 de outubro!
Título e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 3-10-2014
foi bom pra gente ter certeza que não podemos errar ao votar.
ResponderExcluirEu acredito que você seja PSDB doente. Mais velho na boa...Dali Dilma Rousseff!!!
ResponderExcluirVemos o nível cultural do petista, nas peque nas frases, então podemo retocá-las com um toque de mestre.
Excluir-Eu acredito que você seja petralha doente, MAS VELHO NUMA BOA, DÁ-LHE AÉCIO.
LOL
Eu acredito que o Aécio ainda vai virar esse jogo, alias sempre acreditei, tanto é assim que nunca deixei de lutar por ele, mesmo quando os meus amigos aposentados queriam uma garantia de que ele teria que mostrar um compromisso assinado de que só votariam nele se ele se comprometesse com duas coisas, terminar com o Fator Previdenciário e botar os nossos PLs que estão mofando nas gavetas dos presidentes da câmara, eu tbm queria isso, mas antes de mais nada quero o bem do Brasil, razão pela qual sou visceralmente contra os PETRALHAS, alias ele não vai virar o jogo, ele sempre esteve na frente de todos os candidatos, as pesquisas compradas do DATA-FOLHA E DO IBOPE foram sempre contra ele, acreditem nisso, e vamos de Aécio 45 no dia 05/10/2014, só assim libertaremos o nosso amado Brasil.
ResponderExcluirAbraços.
Aderval Pires Gomes