Queda da procura internacional
e excesso de produto no mercado interno são alguns dos motivos porque, na
Austrália, o vinho é mais acessível do que a água. Quem diria?
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Imagem: AFP/Getty Images |
Ana Cristina Marques
É amante de vinho? Se sim, vai
acrescentar o país australiano à lista de destinos a visitar em 2015. Isto
porque na Austrália, imagine-se, alguns vinhos são mais baratos do que a água
engarrafada. Numa ida ao supermercado local é provável que encontre uma garrafa
de vinho tinto a menos de um dólar australiano (0,67 euros), enquanto uma
garrafa de água engarrafada de 350 ml custa, em média 2,50 dólares (1,7 euros).
É só fazer as contas (e as malas).
“Os vinhos estão mais baratos
do que uma garrafa de água”, diz o professor Kym Anderson, do Centro de
Pesquisa Económica de Vinho de Adelaide, à BBC. Esta não é a primeira vez que
tal acontece, muito embora a situação comece a ser preocupante, segundo os
especialistas consultados pela estação pública britânica. Regra geral, os
preços estão a ser afetados por diferentes fatores interligados entre si,
incluindo as taxas de câmbio recentes, a queda da procura internacional e o
excesso de produto no mercado interno.
Por partes. O aumento da moeda
australiana em relação ao dólar americano, entre 2011 e 2013, prejudicou a
indústria do vinho. É Paul Evans, diretor executivo da Federação de Produtores
de Vinho da Austrália, quem o diz. “Uma grande parte do volume que exportávamos
regressou ao mercado interno quando a procura internacional pelo nosso vinho
caiu.” Por essa razão, a concorrência entre os produtores locais está a
crescer, levando à consequente baixa dos preços. “Isso também é um incentivo
para as importações e, assim, vimos crescer substancialmente as vendas de
vinhos importados no mercado interno”.
Outro fator a ter em conta é o
imposto sobre o álcool, o qual varia de acordo com o produto e não com o teor
alcoólico que cada unidade acarreta — o vinho e a cidra tem um imposto
diferente, por exemplo. Quanto mais barato for o vinho, mais baixo será o
imposto, o que pode suscitar uma divisão dentro da própria indústria, assegura
Robin Room, investigador que dirige o Centro Turning Point de Álcool e Drogas,
em Melbourne.
O duopólio de duas grandes
cadeias de supermercados, Woolworths e Coles, também tem a sua quota-parte de
responsabilidade. Ambas controlam mais de 70% de todas as vendas de vinho a
retalho, situação que gera preocupação entre a Federação de Produtores de Vinho
da Austrália: se por um lado esta entidade aplaude o investimento que tem sido
feito na indústria pelas respetivas empresas, por outro, afirma que a situação
precisa de ser revista.
“Há uma incompatibilidade
considerável entre o poder dos retalhistas e os produtores de vinho que está a
afetar negativamente a indústria do vinho como um todo”, explica Evans, o que
implica que a margem de lucro dos produtores de uva esteja a cair
significativamente. Ainda assim, nem todos contestam o poderio do duo de
supermercados, os quais chegam a ser vistos como uma ajuda aos produtores de
vinhos num período difícil.
De uma forma geral, escreve a
BBC, o preço dos vinhos é aceite por alguns produtores e pelos consumidores,
além de ser uma “vitória” para os grandes retalhistas. No entanto, a federação
faz questão de salientar que a situação não é sustentável. Enquanto o cenário
não muda, uma coisa é certa: além do sol, praias, paisagens naturais e
qualidade de vida que caracterizam a Austrália, o destino fica agora conhecido
por ser um oásis do vinho, pelo menos, no que a preços diz respeito.
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