Patrícia Medina
Fui abençoada com 6 filhos.
Filhos que tive por 6 partos cesáreas. Meus partos cesáreas nunca foram por
comodidade ou por medo da dor do parto natural. Pelo contrário. Sempre desejei
dar à luz naturalmente, mas meu primeiro filho entrou em sofrimento fetal após
13 horas de trabalho de parto. Mecônio[i]
e sangue fizeram com que o nascimento dele fosse uma emergência médica e a
cesariana, inevitável para salvar a vida dele. Graças a Deus dei à luz num tempo
onde a cirurgia cesariana foi uma opção. Apenas algumas décadas antes,
estaríamos mortos, eu e meu filho. Apesar de um APGAR[ii] inicial bastante baixo, meu primogênito se recuperou e hoje é
um rapaz inteligente, caseiro, bom filho.
Infelizmente, no Brasil, a
prática médica do VBAC[iii] ainda é
desencorajada. Nestas terras tupiniquins ainda reza o refrão: “Uma vez cesárea,
sempre cesárea”. E assim, sem qualquer culpa da minha parte, tive 6 partos
cesáreas. Apesar de não ter tido a dor natural do parto, ofereci a Deus o
sofrimento do pós-parto, que pode ser bastante longo e doloroso.
Tive médicos bons e
responsáveis. Médicos que me asseguraram que eu poderia continuar a ter filhos,
apesar do número de cesáreas. Conheço mesmo mães que tem mais de uma dezena de
filhos por esta via. Enfim, fui abençoada seis vezes. Sete, se contar uma
gestação que não foi adiante.
Enfrento, diariamente, a
curiosidade, o desrespeito, as gozações, os cochichos e os comentários de tanta
gente que, só pelo fato de eu ter 6 filhos, acham que tem o direito adquirido
de dar a sua opinião a respeito daquilo que é tão sagrado para mim! Tenho
anedotas de sobra! Já fui parada na rua e perguntada se eu “não me importava
com o meio ambiente”. Já riram de mim, dezenas de vezes, ao perguntar se eu não
tinha televisão em casa (a propósito, não! Não temos! Graças a Deus!), se eu
sabia o que causava a gravidez, se eu não tinha algum hobbie. E tudo isso,
falado inconvenientemente, sem pudor, na frente dos meus filhos pequenos! Já
ouvi que sou ignorante, que sou irresponsável, já tive que dar explicações
financeiras a estranhos, nossa família é frequentemente olhada com desdém. Já
tive um médico que sugeriu, discretamente, que eu abortasse minha terceira
filha por ser “perigoso”. Perguntam sempre ao meu marido se os 6 filhos dele
são “da mesma mulher”! Certa vez, quando estávamos debaixo de chuva com bebê de
colo e precisando de um táxi, muitos taxistas passavam com seus carros vazios e
nos faziam sinal com as mãos, gesticulando que éramos gente demais. Gente
demais…. Pode o céu ser povoado demais?
Enfim, sempre aguentamos as
críticas, eventualmente intercaladas com algum elogio aqui e ali. Os elogios
que exaltam a minha suposta coragem nunca foram o nosso apoio para o sacrifício
de ter muitos filhos. A opinião das pessoas, sejam elogiosas ou desabonadoras,
são irrelevantes. Nosso foco, meu e do meu marido, sempre foi Nosso Senhor.
Sempre foi fazer a vontade de Deus. E fazer a vontade de Deus na finalidade
própria do matrimônio: a procriação dos filhos. Apesar da sociedade anticristã.
Apesar do custo. Apesar do mundo! E agora, temo dizer: apesar do Papa!
Nesses anos todos, e lá se vão
17 anos de casamento, nunca tinha escutado a pérola que o Bispo de Roma dirigiu
às mães de famílias numerosas: coelhas! Sua Santidade foi, e digo isso com dor
no coração, vulgar! Sim, vulgar! Jamais ousaria comparar uma senhora, esposa e
mãe católica, a um animal irracional. E a um coelho! Pense na reação de pais de
família se por ventura fossem comparados a asnos, por trabalharem demais. Ou se
pobres, moradores de rua, fossem chamados de ratos por viverem maltrapilhos. Ou
se se comparassem pacientes em coma a bichos preguiça? Preciso continuar? A
comparação é vulgar e denigre o alvo das críticas. É um desrespeito. É, pura e
simplesmente, falta de caridade!
Além disso, o Papa, aquele que
deveria nos confirmar na fé, aquele que deveria nos apoiar, nos defender,
acabou de jogar as mães e pais de famílias numerosas aos leões! Meu marido
acaba de me falar que amanhã, no trabalho, vão lhe questionar sobre as palavras
do Papa. Evidentemente, os neoconservadores, aquele tipo de católico
aparentemente esclarecidíssimo, obedientíssimo, fidelíssimo, porém covarde e
cheio de respeito humano, vão defender as palavras de Sua Santidade com alguma
ginástica mental afirmando que a mídia distorceu suas palavras, que tiraram de
contexto o que ele disse, que ele disse “coelhas” no melhor sentido possível.
Talvez digam que sim, são irresponsáveis as mulheres que tem muitos filhos. E
se sentirão obedientíssimos, fidelíssimos, esclarecidíssimos!
No entanto, eu, meu marido,
meus 6 filhos, não vamos defendê-lo. Vamos defender aquilo que a Igreja sempre
ensinou. Jamais darei piruetas intelectuais para desculpar publicamente Pedro
quando ele agredir aquilo que sempre foi verdadeiro e santo! Prefiro olhar pro
céu a enfiar a minha cabeça num buraco!
Num dos comentários, ele ainda
citou a cifra duvidosa de especialistas que afirmaria que o ideal é “3 por
família”. Disse ainda que a Igreja dá muitos “meios lícitos para limitar a
procriação”. Usou o exemplo de uma mãe que está grávida do 8º filho, tendo tido
7 cesáreas. Ela seria irresponsável. ”Ela quer deixar os 7 filhos órfãos?”,
perguntou o Papa. O que ele sugere agora que o filho já está na barriga? Só eu
vejo as implicações dessa fala perigosa do Bispo de Roma? Sua Santidade não
sabe o que fez. Nos jogou aos leões da ONU, na NOM, da maçonaria. Aqueles,
sabem?!, que nos rodeiam procurando nos devorar…
Mas tenho algo a dizer às
tantas mães de famílias numerosas (muitas amigas minhas, companheiras da
Capela, cujos abençoados bancos mal comportam tantas famílias com 3, 4, 5,6,7,
10 filhos!), às mães discriminadas por terem tido partos cesáreas múltiplos, às
mães que têm filhos apesar da contestação da família, da sociedade e,
lamentavelmente, de setores liberais da Igreja: “Corramos ao abraço da cruz!
Tantas mulheres cristãs foram entregues aos leões. Não sejamos nós a fugir da
cruz! Adiante! Povoemos esta terra com santos sacerdotes, pais e mães de
família cristãs, e o céu com santos”. O céu é o prêmio, já dizia santa
Teresinha.
E rezemos pelo Papa. Ele não
sabe o que fez.
Em Cristo,
Título e Texto: Patricia
Medina, Capela Santa Maria das Vitórias, 21-1-2015
[i] Mecônio é um material fecal de cor esverdeada bastante escura,
produzida pelo feto e normalmente é expelida nas primeiras 12 horas após o
nascimento. Às vezes, o mecônio é expelido antes do parto, colorindo o líquido
amniótico que normalmente é de cor clara. Esse fenômeno é anormal e pode
indicar sofrimento fetal. Há um risco de que o bebê inale este líquido chamado
líquido meconial, o que pode causar crise respiratória por obstrução e
inflamação de suas vias aéreas. Esse risco é evitado desobstruindo-se por
aspiração as vias aéreas do recém-nascido imediatamente após o nascimento.
[ii] A Escala ou Índice de Apgar é um teste desenvolvido pela Dra.
Virginia Apgar, médica norte-americana, que consiste na avaliação de 5 sinais
objetivos do recém-nascido no primeiro, no quinto e no décimo minuto após o
nascimento, atribuindo-se a cada um dos sinais uma pontuação de 0 a 2, sendo
utilizado para avaliar as condições dos recém-nascidos. Os sinais avaliados
são: frequência cardíaca, respiração, tónus muscular, irritabilidade reflexa e
cor da pele. O somatório da pontuação (no mínimo zero e no máximo dez)
resultará no Índice de Apgar e o recém-nascido será classificado como sem
asfixia (Apgar 8 a 10), com asfixia leve (Apgar 5 a 7), com asfixia moderada
(Apgar 3 a 4) e com asfixia grave: Apgar 0 a 2.
[iii] Vaginal birth after Caesarean section (VBAC) – Parto Vaginal Após Cesariana
Relacionados:
Li, reli, pensei em não responder, mas infelizmente, não posso concordar com o texto.
ResponderExcluirEle foge de todas as realidades que enfrentamos na nossa nave espacial "GAIA".
Em todos os tópicos sobre o assunto, eu pergunto a essa pessoas de quem é a culpa de haverem tantos pobres, crianças na rua, e cães abandonados?
Os hipócritas colocam as culpas nos governos.
Afinal poucos conseguem diagnosticar seus erros, suas doenças e suas completas desinformações.
Vou usar uma frase de LUTZ:
- Os padres, pastores, bispos e afins são mais safados que os comunistas. Oferecem o paraíso para depois da morte, quando já não é possível cobrar nada deles.
Há quase 200 Lavoisier enunciou o teorema das massas.
Eu aprendi ele há mais de 50 anos.
Da natureza nada se cria, nada se perde tudo se transforma.
Cada ser que nasce e vive 70 anos, utiliza 10000 metros quadrados de natureza.
São necessários agronegócios, pecuária, madeira, materiais de construção, água e benesses para sustentar esse indivíduos durante seus 70 anos.
Fazer filho não têm nada de divino, são apenas detalhes naturais.
Esse papa arrogante falou a única verdade até hoje em seu pontificado.
NÃO PROCRIAR FEITO COELHOS, eu usaria ratos.
A população pobre e carente do mundo procria ratos.
Ratos famintos, ratos em acesso a cultura, ratos traficantes, ratos de lixões espalhados pelo mundo pobre.
Sabem porque desaparecem os animais selvagens?
Estamos lhes tirando o espaço, destruímos seus habitats, porque os humanos necessitam de grandes espaços para produzirem comida e habitações.
Estamos transformando GAIA toda em humanos sem sustentabilidade.
Além de comer e beber fartamente de graça, esse religiosos de araque, não produzem nada.
Fé não alimenta o cadáver, não o abriga, e o que prometem, nunca poderá ser cobrado.
Nossa nave espacial afunda em sua própria lama.
Fazer sexo é ótimo.
Use camisinha, DIU, tomem comprimidos, façam vasectomias, ligadura, mas não ponham mais do que um filho no mundo.
Reconheçamos nosso erros.
Gaia possui apenas 140 milhões de hectares.
A população ideal da terra seria 140 milhões de pessoas.
OK, temos 7 bilhões.
O Brasil planta 100000 hectares de batata.
Se não conseguem entender, não posso fazer nada.
Talvez se tivéssemos 2 bilhões vivêssemos. Infelizmente o povo de deus segue à risca o tal crescei e multiplicai-vos.
O papa deu um em peido cheiroso, sintam-no e não reclamem, afinal ele é o papa.
bom dia
Oi, Rocha!
ExcluirA autora teve seis filhos com absoluta responsabilidade, prazer e alegria. Responsabilidade, por ter os meios necessários para criá-los, e prazer e alegria em educá-los.
Não dependem, ela e o marido, de ninguém, nem do Estado, para criá-los. Ela e o marido, salvo acidente de percurso, colocaram no mundo seis cidadãos.
O papa, que anda muito falador, certamente quis se referir àqueles que fazem filhos, por fazer. Para depois andarem por aí (esses filhos) se fazendo de coitadinhos, assaltando e roubando, e culpando a sociedade (gente como a Senhora Patricia e seus seis filhos) dos seus desdouros.
O problema não está na quantidade de gente sobre a terra, mas sim, na qualidade. Isto é, gente com qualidade preserva e ajuda a Natureza para que todos possamos apreciá-la e desfrutá-la. Gente com qualidade vai à praia e sai de lá deixando-mais limpa do que a encontraram.
Agora, a proliferação de gente sem qualidade é, de fato, um sério problema, para o planeta e para a humanidade. Certamente, era destes ‘coelhos’ que o Papa se lembrou. Numa linguagem que lembrou muito outro Guia Universal dos Povos, embora não me conste que o Papa aprecie destilados.
Você, Jim, analisou, o outro lado da crônica.
ExcluirEu analisei a crítica ao papa.
Venho de uma família de 6 filhos, dos quais sou o mais velho.
O mais velho que saiu cedo para o trabalho, para ajudar em casa, que estudou à noite.
Que saia de a pé, como diz o gaúcho, para pegar o cipó, que nos levava até a VARIG, na volta fazia o supletivo, e de a pé, voltava pra casa, em Canoas, RS.
Isso era normal, nos anos 50. Eu fui para o RIO com 21 anos, agora podes rir a vontade, eu não sabia o que era travesti, nem maconha e cocaína, E a VARIG nos colocou num hotel na Senador Dantas, bem na Lapa.
Sabe porque a vida era melhor nos anos 70, pois havia 90 milhões em ação.
Hoje temos 204 milhões.
Em 2020 1% da população mundial vai deter 80% da renda mundial, algo em torno de 140 milhões de pessoas, e o resto disputará o restante 20%.
O problema está na qualidade como você diz, mas sem controlar a quantidade seria o caos generalizado.
Entrei em contato com a ONG do Al Gore, trocamos vários e-mails sobre controle da natalidade, mandaram-me portfólios, adesivos, bottons e quando me pediram 50 U$ de colaboração, parei.
A situação mudou, hoje os ricos também produzem bandidos.
Sem o controle da natalidade o mundo não sobreviverá, haverá um cataclismo, ajustes da natureza, ou do próprio homem.
Não critiquei a mulher por ter 6 filhos, critiquei a crítica ao papa, que delineou muito bem a situação em que vivemos.
Certamente o Papa referiu-se a "coelhos" dirigindo-se à população norte/nordeste brasileira. Talvez não pelo fato de produzirem mais filhos como há 40 ou anos atrás .
ResponderExcluirHoje , aumenta-se a prole no intuito de garantir as "bolsas benesse" à camada do proletariado e aos pobres "de fato" (ribeirinhos, moradores de palafitas e outros) .
Há aqueles que tem poder aquisitivo para sustentar 10 filhos ou mais , mas tem apenas dois. No entanto, os que mal se sustentam são os que tem uma "penca" , faminta e de "bico" aberto.
Talvez o revolucionário e preclaro Pontífice, queira mexer num tabu secular , alertando o rebanho que tenham tantos filhos quantos quiserem , mas com responsabilidade .
Abraços
Sidnei Oliveira