Ou: Um texto que serve como
réquiem de uma farsa
Reinaldo Azevedo
Tudo indica que a senadora
Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo e ex-ministra do Turismo e da Cultura,
fundadora do PT e egressa daquela fatia da elite brasileira que se deixou
encantar pelo lulismo, é, hoje, uma sem-partido. Para onde ela vai? Ainda não
está claro! O que se dá como certo é que tentará se candidatar à Prefeitura de
São Paulo. Até a semana passada, afirmava-se que o partido tentaria segurar as
pontas e, quem sabe, fazê-la candidata ao governo do Estado em 2018. Não parece
mais que isso seja possível.
Marta publicou um duríssimo artigo na Folha desta terça, com críticas
contundentes ao governo Dilma e ao PT. Não evitou nem mesmo certa, digamos
assim, personalização. O título está lá com todas as letras: “O diretor sumiu”.
Segundo Marta, prestem
atenção, “se tivesse havido transparência na condução da economia no governo
Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos trouxeram a
esta situação de descalabro”. Se as palavras fazem sentido, e fazem, a ainda
senadora petista afirma que:
a: a situação é de descalabro;
b: Dilma não fez um governo transparente;
c: a ruindade vem de antes, é anterior a essa gestão.
A senadora elenca o que não
lhe parece bem e ainda ironiza a presidente. Leiam: “o aumento desmedido das
tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a
inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento
de impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir”.
O espaço para uma eventual
reconciliação parece ter desaparecido. Isso, obviamente, é linguagem de oposição,
não de quem pertence ao partido que está no poder.
Marta parece insatisfeita com
as medidas adotadas, mas, ao mesmo tempo, há a sugestão de que reconhece a sua
necessidade, lamentando o que seria a ambiguidade de Dilma: “Imagina-se que a
presidenta apoie o ministro da Fazenda e os demais integrantes da equipe
econômica. É óbvio que ela sabe o tamanho das maldades que estão sendo
implementadas para consertar a situação que, na realidade, não é nada rósea
como foi apresentada na eleição. Mas não se tem certeza. Ela logo desautoriza a
primeira fala de um membro da equipe. Depois silencia. A situação persiste sem
clareza sobre o que pensa a presidenta”.
Se entenderam bem, Marta acusa
também o estelionato eleitoral. Num dos momentos mais duros de seu diagnóstico,
a senadora aponta:
“Nada foi explicado ao povo brasileiro, que já sente e sofre as consequências e acompanha atônito um estado de total ausência de transparência, absoluta incoerência entre a fala e o fazer, o que leva à falta de credibilidade e confiança. É o que o mercado tem vivido e, por isso, não investe. O empresariado percebe a situação e começa a desempregar. O povo, que não é bobo, desconfia e gasta menos para ver se entende para onde vai o Brasil e seu futuro.”
Entendo ser este um texto de
rompimento. Como refazer pontes depois disso? Fica evidente que suas reservas
não se dirigem apenas a Dilma. Afirmei ontem em TVeja (aqui) que o governo e o PT perderam o eixo. Eis aí.
Marta, goste-se ou não dela, é uma figura história do PT. Na mística
partidária, encarnava aquela fatia dos privilegiados do país que, indignados
com as injustiças sociais, resolveram aderir à luta dos oprimidos.
Aguardem. Nesta terça, o PT
procurará fazer picadinho de Marta nas redes sociais. Vai tachá-la de dondoca
deslumbrada, de riquinha enjoada, de perua descompensada. As características
que antes eram vendidas como virtudes serão vistas como vícios. Mais do que se
juntar a antigos adversários, o PT sabe mesmo é enlamear a reputação dos
dissidentes.
O artigo da senadora, de algum
modo, serve como o réquiem de uma farsa.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo,
27-1-2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-