João Marques de Almeida
A disponibilidade de Rui Rio
para se candidatar a Belém é um dos maiores sinais de que o PSD acredita que
ainda pode ganhar. E o fracasso de António Costa ajuda.
As últimas sondagens mostram a
diferença entre o PS e a coligação a diminuir. O PSD e o CDS foram os partidos
que mais subiram nas intenções de votos, o que não deixa de ser extraordinário
após mais de três anos de austeridade. Há obviamente mérito por parte do
governo, e sobretudo por parte dos líderes dos dois partidos. Mas em grande
medida as sondagens mostram o fracasso do novo líder do PS. Afinal, Seguro não
era o problema.
Há muitos portugueses zangados
com o governo, o que é natural. Desde 2011, o desempregou cresceu, os salários
e as pensões diminuíram, os impostos aumentaram e a generalidade dos
portugueses vive pior. Neste contexto, ganhar em 2015 será uma tarefa difícil
para a coligação. No entanto, como mostram as sondagens, é possível. A
disponibilidade de Rui Rio para se candidatar a Belém é um dos maiores sinais
de que o PSD acredita que ainda pode ganhar. E o fracasso de António Costa
ajuda.
O líder do PS tem seguido uma
tripla estratégia: responsabiliza uma suposta deriva ideológica do governo
pelas políticas de austeridade; garante que um governo seu acabará com a
austeridade; mas não entra em detalhes sobre políticas concretas, contando com
a insatisfação dos portugueses para chegar ao poder. António Costa não está a
tentar ganhar as eleições; está simplesmente à espera que Passos Coelho as
perca. Nove meses à espera será uma eternidade.
Com o adiamento do acordo de
coligação, Passos Coelho e Portas tornam a vida ainda mais difícil a António
Costa. Aliás, no dia que anunciarem a coligação, o governo acaba e começa a
campanha eleitoral. Para bem dos portugueses, convém que o anúncio da coligação
seja o mais tarde possível. Até lá, o governo faz a sua obrigação – governa (a
melhor campanha, de resto) – e coloca o PS sob pressão para apresentar
políticas concretas.
Essa será uma tarefa
impossível para António Costa. O PS não consegue nem pode apresentar uma
alternativa às políticas do governo. E o seu líder sabe-o muito bem. Por isso,
tem sido vago. É simples: o PS é incapaz de apresentar alternativas porque não
há dinheiro para gastar. Nos últimos trinta anos, os programas políticos do PS
(e do PSD até 2011) foram essencialmente prometer gastar mais dinheiro, através
de investimentos públicos (obras e mais obras) ou de mais benefícios sociais.
Não há qualquer problema com essas promessas, desde que haja dinheiro. O drama
do PS é a incapacidade de construir um programa de governo que não envolva
aumento de despesa pública. Aliás, cada vez que António Costa ousa ser um pouco
mais específico, o país começa a fazer contas. A crise e o sofrimento levaram
os portugueses a associar a política às contas. O que é um aborrecimento para o
PS.
Os portugueses aprenderam que
a política pode ser muita cara. E também já sabem que o dinheiro mal gasto
pelos governos sairá mais cedo ou mais tarde dos seus bolsos. Vejam as
promessas que o líder do PS já fez. Aumento do salário mínimo, reposição das
pensões e dos subsídios de desemprego, reabertura de serviços públicos
entretanto fechados. Ou seja, regresso a 2011. Mas com os portugueses a fazer
contas, será muito difícil convencer o país que é possível voltar a 2011. Onde
irá um governo socialista buscar o dinheiro necessário?
A resposta a esta questão
explica por que razão António Costa não pode apresentar uma alternativa às
políticas deste governo. O dinheiro necessário para construir uma alternativa
terá que vir da Europa e Costa não sabe (nem poderia saber) se a Europa o fará.
Mas se a Europa resolver abrandar a austeridade, a coligação também aproveitará
essa atitude mais gastadora e menos austera. Por exemplo, se o BCE começar a
libertar mais liquidez, já a partir do final do mês, a economia portuguesa
também beneficiará.
Parece provável que os
resultados das eleições também dependam do momento das decisões europeias. Esta dependência política
não deixa de ser triste. Mas é o resultado de quem não soube controlar as suas
contas públicas. Se hoje António Costa é incapaz de apresentar uma alternativa
a esta coligação, deve-o ao governo de Sócrates. Ele terá pressentido que as
coisas corriam mal, mas não antecipou a dimensão do desastre.
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