Helena Matos
Um caso evidente deste
tratamento português suave reservado aos protegidos da Pensamento Positivo
School of Economics and Political Science é o do Syriza cujo programa parece
que nenhum repórter leu.
Esta escola existe e é a mais
influente no meio jornalístico, político e cultural. Criou um
vocabulário próprio, tem os seus mestres, heróis e discípulos. Aqui fica
uma breve introdução à Pensamento Positivo School of Economics and
Political Science.
Almofadas –
Antigo artefacto usado para dormir e que nas casas que aparecem nas telenovelas
e nas revistas não só combinam sempre umas com as outras como estão
invariavelmente arrumadas com precisão geométrica. No argumentário da Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science as almofadas
preencheram durante algum tempo um importante espaço: se havia uma almofada
financeira devia usar-se o dinheiro da almofada para fazer menos cortes nas
pensões, dar mais ou menos leite com chocolate nas escolas… Depois as almofadas
deram lugar às folgas.
Folgas – Quando
para a Pensamento Positivo School of Economics and Political Science se
tornou óbvio que por ausência de almofadas os portugueses iam partir para a
revolução, a geologia substituiu a “Caras Decoração” no imaginário da nossa
dilecta escola político-mediático-económica e as almofadas deram lugar às
folgas. Era de ciência certa que os desalmofadados fariam uma revolução social
com características similares ao choque das placas tectónicas. Só uma utilização
das folgas financeiras permitiria que os magmas e ondas resultantes da revolta
não fizessem de Portugal uma Pompeia social.
Bazucas – Ao
contrário da almofada, que era marcada por uma perspectiva assistencialista, e
da folga, que estava eivada de uma visão revolucionária, a bazuca recupera o
dinâmico imaginário pré-crise da alavanca. (Quantos pavilhões gimnodesportivos
se construíram para alavancar a economia?) Só que enquanto alavancar demora o
seu tempo, bazucar é, como bem se tem visto, uma coisa quase instantânea. Na Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science vive-se agora na
jihad económica da bazuca do BCE. E se falhar? Se falhar, dizem, com a calma
dos predestinados, os discípulos daPensamento Positivo School of Economics
and Political Science, não há mais nada a fazer. Como se sabe um dos
problemas dos teóricos da bazuca, sejam as bazucas reais ou figuradas, é que a
sua profunda fé nunca os deixa equacionar a possibilidade de estarem errados e
portanto nunca concebem planos de retirada. Não adianta pensar que no dia em
que se fizer a avaliação da bazucagem se pode contar com a reflexão da Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science. Como em todas as outras
vezes eles não param para pensar e já estarão afincadamente a trabalhar noutro
paradigma. Tendo em conta esta evolução de almofadas para folgas e de folgas
para bazucas o item seguinte será muito provavelmente do domínio da culinária:
panela de pressão ou passador chinês. Picadora também é uma hipótese a não
descartar.
Empréstimos – Nos
últimos anos a Pensamento Positivo School of Economics and Political
Science tem produzido vasto pensamento sobre a questão do empréstimo.
Depois de os seus membros mais radicais terem feito uma bandeira do não
pagamento dos empréstimos, os maiores pensadores da Pensamento Positivo
School of Economics and Political Science defendem agora não só que o
empréstimo é um direito humano como que se deve criminalizar a recusa do
empréstimo. Os discípulos da Pensamento Positivo School of Economics
and Political Science não querem de modo algum cortar relações com o
capital, a UE ou o FMI. Isso é coisa do passado. Querem sim, exigem e têm
direito a que o seu programa, as suas políticas e a sua revolução sejam subsidiados
pelos contribuintes dos outros países. Um dos mais interessantes contributos do
Syriza, uma linha extremista da Pensamento Positivo School of Economics
and Political Science, é precisamente a actualização da velha palavra de
ordem do “Morte ao imperialismo e a quem o apoiar” pelo “Imperialistas ficam,
pagam e emprestam”.
Carlos Santos Silva
– É a nova coqueluche da Pensamento Positivo School of Economics and
Political Science. Tendo terminado as experiências de criar comunidades auto-sustentáveis
em Itália, estando descredibilizado o modelo tentado na sevilhana Marinaleda, a Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science estuda agora
atentamente o modelo Carlos Santos Silva, um homem que empresta o que lhe pedem
sem anotar quanto nem para pagar quando.
O sector católico da Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science tem diligenciado
para que o bom Papa Francisco se venha a interessar por este modelo de
financiamento de inspiração notoriamente cristã. A atitude de Carlos Santos
Silva enquanto credor pode representar uma revolução na habitual relação que se
estabelece entre quem empresta (o poderoso) e quem pede (o fraco). A
incapacidade de sectores mais retrógados da sociedade portuguesa em perceber a superioridade
moral inerente a este modelo de financiamento dá bem conta do muito que há para
fazer neste país em matéria de revolução das mentalidades.
Energias positivas –
Uma medida não é boa por si mesma mas sim por ter sido ou não tomada pelos
membros da Pensamento Positivo School of Economics and Political
Science. Logo François Hollande pode falar de segurança sem ser acusado de
sofrer de paranóia securitária. Ou Obama poder continuar a anunciar, como aliás
faz ininterruptamente há sete anos, que vai fechar Guantanamo sem que ninguém
se ria. É tudo uma questão da medida estar do lado da energia positiva.
A verdadeira questão – O domínio da
verdadeira questão é um exercício estrutural para os membros da Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science. Por exemplo, um crime
praticado por alguém que se tenha notabilizado por perfilhar os ideais da Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science não é bem um crime.
É uma situação mal interpretada, mais a mais praticada em circunstâncias que
temos que determinar. Mas a verdadeira questão não é essa, como logo frisarão
os membros da Pensamento Positivo School of Economics and Political Science,
mas sim que o conhecimento que temos dessas situações está viciado à partida.
A isto junta-se que na Pensamento
Positivo School of Economics and Political Science não se cometem
erros. Às vezes, forças exteriores reaccionárias, neo-liberais e retrógradas
impedem os seus objectivos de serem concretizados. E independentemente de tudo,
o que se deve discutir não são os resultados a que as políticas da Pensamento
Positivo School of Economics and Political Sciencenos conduziram mas sim as
medidas de emergência a que elas levaram. Logo os portugueses experimentaram
dificuldades várias não porque em 2011 o país tenha falido e o governo se tenha
visto obrigado a fazer um pedido de ajuda externa, mas sim porque os credores
nos impuseram determinadas condições. Assim a verdadeira questão não foi nem é
a bancarrota mas sim a austeridade. A definição da verdadeira questão é um dos
tópicos obrigatórios do Pensamento Positivo School of Economics and
Political Science.
Sem verdadeira questão não
existe Pensamento Positivo School of Economics and Political Science:
um homem mata judeus em Paris e a verdadeira questão está não no terrorismo em
si mas sim nas políticas económicas defendidas pela Alemanha e contra as quais,
por sinal, foi eleito o actual Presidente francês. Mas isso nunca será uma
verdadeira questão para a Pensamento Positivo School of Economics and
Political Science.
Predestinação –
Antigamente era o socialismo científico. Agora que o fado perdeu o estigma do
fascismo até pode ser a sina traçada nas linhas da palma da mão. Outros dirão
que é o resultado do alinhamento dos chakras. Não interessa, que nesse aspecto
a Pensamento Positivo School of Economics and Political Science é
muito aberta a qualquer explicação desde que ela enquadre os seus dogmas. Estes
funcionam como uma espécie de predestinação. Assim qualquer mortal que não
queira andar por aí a fazer figura de parvo tem de garantidamente saber que, dê
a realidade as voltas que der, os dogmas daPensamento Positivo School of
Economics and Political Science garantem que tudo aquilo que for
decidido contra o pensamento da Pensamento Positivo School of Economics
and Political Science, mesmo que democraticamente, terá de ser revisto. Por
exemplo, foi chumbada mais uma vez em Portugal a adopção por casais
homossexuais mas o que há a salientar é que “ainda” não foi aprovada. E assim
terá de ser. Questionar essa predestinação está ao nível da blasfémia.
Jornalismo –
Alguém que se apresente como fazendo parte da Pensamento Positivo
School of Economics and Political Science conta à partida com uma
garantia: terá de se explicar muito menos. Para os jornalistas a superioridade
moral dos membros da Pensamento Positivo School of Economics and
Political Science é óbvia, logo, mesmo quando discordam deles,
perguntam-lhes muito menos. Ou, se quisermos, as questões incómodas vão em
versão light. Um caso evidente deste tratamento português suave reservado aos
protegidos da Pensamento Positivo School of Economics and Political Science é
o do Syriza cujo programa me parece que nenhum repórter leu, pois se o tivessem
feito talvez não fizessem aquelas reportagens que parecem decalcadas das
pretéritas que dedicaram à Primavera árabe e em que confundiram o que queriam
ver com o que estavam a ver. Só este óbvio afastar do que não fica bem na
fotografia explica que até ao momento em que escrevo ninguém tenha inquirido o
PS sobre a simpatia que mostra publicamente para com uma vitória do Syriza. O
que consta do programa do Syriza em matéria de justiça, forças de segurança e
imigração põe em causa não apenas a liberdade na Grécia mas também na UE. E é
manifestamente incompatível com aquilo que um partido democrático deve apoiar.
Mas o jornalismo não costuma
deixar que a realidade estrague as festas daPensamento Positivo School of
Economics and Political Science.
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