Luís Naves
Não é preciso muito esforço
para compreender que o novo governo de Alexis Tsipras pretende levar a Grécia a
abandonar a zona euro, não hesitando em fazer exigências que os europeus não
podem cumprir. Esqueçam as declarações piedosas, em política o que interessa é
o que se faz.
Na primeira semana de
actividade foram tomadas decisões que já impossibilitam o cumprimento das metas
acordadas com os credores. A Grécia recusa-se a negociar com a troika, ameaça
torpedear as sanções europeias à Rússia e, cereja em cima do bolo, aprovou um
salário mínimo que torna impossível a assinatura de empréstimos europeus por
vários países onde os salários médios são muito inferiores. As pessoas já se
esqueceram, mas um governo eslovaco foi derrubado num resgate anterior à
Grécia.
O problema do Syriza é que
três em cada quatro eleitores dizem estar contra a saída da zona euro. A culpa
tem de ser atribuída com clareza aos europeus, incluindo os do Sul, que recusam
a ideia peregrina de serem arrastados para uma renegociação quimérica da
dívida, algo que nem os gregos querem fazer. Do ponto de vista de Atenas, o
novo dracma sofreria uma brutal desvalorização e a Grécia iria nacionalizar a
banca ou, no mínimo, controlar a saída de capitais.
Convém não esquecer que este
governo é liderado por um partido radical de esquerda, que assim poderia
aplicar um programa de nacionalizações e de expansão da despesa. O parceiro de
coligação não foi escolhido ao acaso, mas por ser o único que poderia concordar
com uma estratégia anti-euro. Em relação aos europeus, a situação não é tão
clara, mas há vários países que provavelmente não se importam com a saída,
haverá até quem deseje esse resultado, de preferência depressa.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
30-1-2015
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