Alberto José
Em junho de 1975, ao pegar a
"escala" eu vi que iria fazer o meu segundo voo para Roma. Então, um
colega me disse que eu poderia ganhar uma gratificação para trazer uma
encomenda de Roma. Mais tarde, uma pessoa me ligou e confirmou a proposta. Eu
teria que pegar uma peça de carro na loja Fiat Olio.
Quando cheguei lá, pensei em
desistir. Eram várias peças. Para manter a palavra (e a gratificação) assumi a
tarefa. Quando cheguei ao hotel carregando quatro bolsas de material encontrei
uma turma de comissários fazendo AFA. Eram os "expertos", que já
tinham feito aquilo várias vezes! Eles começaram a rir e debochar... vai se dar
mal, etc.
Eu perguntei qual era a razão
da gozação. Me responderam que o voo não iria para o Rio, iria para Frankfurt. Calmamente,
preparei tudo para chegar em Frankfurt. Fomos para o hotel, e lá havia o
mistério da próxima etapa.
Dois dias depois avisaram que
nós iríamos para Barcelona. Como eu lia os jornais, entendi qual seria a nossa
missão: transportar o "homem forte" do governo, o General Golbery [foto],
que havia se submetido a uma cirurgia naquela cidade.
Na tarde em que embarcamos
para o Rio, entramos em um B-707 configurado para viagem presidencial. A Primeira
Classe havia sido convertida em um espaçoso quarto com cama grande, mesa,
poltronas, cortinas, etc.
Quando chegamos em Barcelona,
a equipe que acompanhava o General perguntou quem trabalhava na PC. No caso,
era eu e uma Comissária. Eles informaram que a Comissária seria dispensada e,
pediram educadamente que os demais comissários passassem pelo pequeno corredor
lateral e evitassem entrar na cabine para não perturbar o descanso do General.
Durante o voo servi queijos,
suco e frutas pois o General não quis jantar. Quando fiquei livre, sentei no
corredor e comecei a ler o livro Animal
Farm, do George Orwell. A dona Esmeralda, esposa do Golbery, pediu o livro
emprestado e foi mostrá-lo ao General.
Ele me chamou e disse que quem
lia aquele livro devia ter idéias interessantes e que ele queria alguém para
conversar. Eu perguntei se ele queria comer ou beber alguma coisa. Ele
respondeu que como ficou muitos dias no hospital sem falar, o que ele queria
era uma boa conversa.
Eu fiquei ali ouvindo a vida
dele, as suas ideias políticas, me falou de generais da história, etc. Quando
estávamos a algumas horas do Rio ele me perguntou se eu tinha comprado muitos
presentes na viagem. Eu respondi que eu tinha algumas encomendas na minha mala.
Meia hora antes do pouso, ele
pediu ao médico que o acompanhava, Dr. Galvão, que reunisse a tripulação na
Econômica para dar um aviso. Todos reunidos, ele perguntou: "Alguém
comprou presentes, lembranças, encomendas, etc."? Todos se olharam mas
ninguém respondeu. Eu falei: “Doutor, eu comprei!”
Então, ele anotou o meu nome.
Os "de sempre" fizeram uma cara de deboche. Quando chegamos no Galeão
havia até carro blindado do Exército na pista; na Alfândega, o mais temido
fiscal veio direto em cima das nossas malas. Nesse momento, o médico se
aproximou e falou: "Comissário Alberto José, as suas malas estão liberadas
por ordem do General Golbery". (Ri melhor quem ri por último!).
Título e Texto: Alberto José, 30-6-2016
Anteriores:
Reiteramos o convite ao leitor: se quiser colaborar com esta seção, por favor, encaminhe a sua 'estória' para:
ResponderExcluircaoquefuma@gmail.com
Obrigado!