A liberdade, bandeira de Ronald Reagan e um
dos fundamentos da civilização ocidental, é também liberdade de trabalhar e
voltar a produzir
Ana Paula Henkel
Nos anos 1980, depois de se
dedicar durante décadas em salas de aula como professor de matemática, meu
saudoso pai passou a comandar, como diretor-geral e pedagógico, uma das
instituições mais antigas e respeitadas do sul de Minas, o Instituto Gammon, em
Lavras — meu colégio por boa parte de minha vida e também onde, além de meu
pai, lecionou minha mãe durante anos.
Certo dia, eu devia ter uns 12
ou 13 anos, meu pai chegou em casa sinalizando que aquele ano letivo seria
particularmente tumultuado devido a ameaça de várias greves de professores em
toda a cidade. Lembro que o telefone de casa não parava de tocar. Meu pai,
durante algumas semanas, foi o interlocutor entre sindicatos, professores,
donos de escolas, pais e políticos. Apesar da aparente gravidade que a situação
de uma greve geral de professores em toda a cidade e região indicava, o
professor Monteiro, como meu pai era chamado, sempre encerrava as ligações com
as diferentes partes envolvidas com calma e serenidade. Mas, naquele dia,
especificamente, ele estava inquieto. Parecia que não havia mais como contornar
os ânimos de muitos e que algo grande e ruim para todos seria inevitável.
Depois de terminar mais uma
ligação, meu pai, mostrando clara frustração, virou-se para minha mãe, que
almoçava comigo, e disse: “O que Reagan faria?”.
Fiquei com aquele nome na
cabeça e cresci ouvindo histórias sobre esse tal de Reagan. Quem era o cara por
quem meu ídolo tinha enorme admiração, que sempre mencionava em tempos de
animosidade e insegurança? Quem era o homem que sempre inspirava meu mentor em
tempos de extrema inquietude, medo e incertezas?
Os anos se passaram, e a
menininha do interior cresceu, saiu de casa, viajou o mundo e devorou uma penca
de livros sobre o tal Reagan. Para alguns, apenas um cowboy de
filmes B. Para tantos outros, um dos maiores líderes que o mundo já viu. Há
alguns anos, um jornalista me indagou, numa daquelas entrevistas estilo
“bate-bola”, com perguntas e respostas rápidas, o que me inspirava no 40º
presidente americano. Não hesitei. A coragem. A coragem em tantos aspectos,
mas, principalmente, a coragem em defender a liberdade.
Não me estenderei neste artigo
sobre os bravos feitos do presidente norte-americano que derrotou o comunismo
da antiga União Soviética. Dê uma chegadinha ali no YouTube e assista você
mesmo ao discurso icônico de Reagan no Portão de Brandemburgo, em Berlim,
quando disse a inspiradora frase: “Mister Gorbachev, tear down this
wall!” (“Senhor Gorbachev, derrube este muro!”). E, por momentos como esse,
não posso me prender ao medo de ser repetitiva e, mais uma vez, escrever sobre
liberdade. Por essa razão, a resiliente defesa da liberdade em várias esferas,
Reagan inspirou e ainda inspira milhões. Foi também por essa razão que a
Revista Oeste nasceu. Os tempos, bastante estranhos trazidos
por uma pandemia que colocou máscaras no mundo e arrancou outras tantas na
esfera política, pedem uma vigília bem mais atenta; do zelo com a vida humana
ao cuidado com a já frágil economia, até a necessária e incansável defesa de
nossos direitos e liberdades civis.
Reagan ainda não havia entrado
para a carreira política quando, há 75 anos, a Alemanha se rendia na 2ª Guerra
Mundial. No início da guerra, ele, com apenas 28 anos, provavelmente dividia o
mesmo pensamento da maioria dos norte-americanos de que a Alemanha jamais
entraria em colapso total.
Na manhã do histórico 7 de
dezembro de 1941, o dia do ataque japonês a Pearl Harbor, o mundo se deu conta
de que os invasores alemães estavam prestes a capturar Moscou. A Grã-Bretanha
estava isolada. Londres mal havia sobrevivido a um terrível bombardeio e o
destino não parecia promissor para as Forças Aliadas.
Uma América adormecida era
neutra, mas começava a perceber que era fraca e quase desarmada em um mundo
assustador.
Mas como os Aliados —
Grã-Bretanha, União Soviética e Estados Unidos — mudaram a guerra tão
rapidamente? O enorme Exército Vermelho sofreria quase 11 milhões de mortes ao
interromper as ofensivas alemãs. A Grã-Bretanha nunca desistiria, apesar das
terríveis perdas em casa e no mar com bombardeiros e ataques de submarinos
alemães.
No entanto, uma das chaves
para a vitória foi a economia dos Estados Unidos, que acabaria superando todas
as principais economias dos dois lados da guerra juntos. Mas como os Estados
Unidos se armaram tão rapidamente, construíram armas tão eficazes e, a partir
de quase nada, criaram um exército de 12 milhões de soldados?
Houve medidas governamentais
que desencadearam negócios norte-americanos sob a égide de empreendedores de
sucesso, como Henry Ford, William Knudsen e Henry Kaiser. Medidas de relativa
liberdade contra restrições do famigerado New Deal para trabalhar e lucrar sem
os onerosos regulamentos governamentais foram aplicadas. O resultado foi uma
força militar que dominou os inimigos da América.
A mídia deixou de amplificar e
anabolizar partes positivas do New Deal ou exagerar seus fracassos, alertando
os norte-americanos sobre a ameaça existencial que tornaria irrelevantes suas
diferenças. A ameaça existencial que tornaria irrelevantes suas diferenças.
Não, não repeti sem querer a frase. Ela é necessária: a ameaça existencial que
tornaria irrelevantes suas diferenças.
Mas, além de tudo isso, e mais
importante ainda, os americanos perderam seus medos.
De 1929 a 1938, a economia dos
Estados Unidos estava em ruínas. O New Deal de Franklin Delano Roosevelt
(1882-1945) não conseguiu restaurar o crescimento econômico ou a confiança do
consumidor. Até 1938, o crescimento econômico havia caído para 3,3% negativos.
O desemprego aumentou para insustentáveis 19%.
Sob a ameaça da guerra que
aterrorizou os norte-americanos, a sociedade apostou no trabalho fervoroso na
indústria. No fim de 1941, o esforço inicial de rearmamento elevou o
crescimento do PIB para 17,7%. O desemprego havia caído para cerca de 10% e
logo cairia ainda mais, para 2%.
Os norte-americanos começaram
a perder o medo de que nada pudessem fazer contra a depressão de uma década.
Quanto menos eles temiam as potências do Eixo, mais recuperavam a economia e
produziam uma infinidade de bens e serviços.
Nossa atual guerra contra um
inimigo invisível é peculiar, sim. Mas a 2ª Guerra Mundial pode oferecer alguma
lição sobre nossa economia destruída e o desemprego impressionante que o
coronavírus produziu e continuará produzindo? Talvez sim. O governo não pode restaurar
a prosperidade. O rico governo norte-americano não fará isso, muito menos o
governo brasileiro com uma economia em frangalhos herdada das gestões petistas.
Somente empreendedores têm essa capacidade. Os norte-americanos e os
brasileiros devem dominar seus medos do vírus e ousar voltar ao trabalho,
obviamente respeitando as diretrizes sanitárias de segurança.
As pessoas precisam ter
coragem para defender a liberdade de trazer à luz do dia o debate
intelectualmente honesto sobre a retomada da economia.
Cercear isso é sufocar e
menosprezar a chance de prosperidade no meio do caos. A mídia brasileira, e
aqui em Oeste faremos nossa parte, precisa se concentrar em
reportar os efeitos do vírus e também do impacto das políticas de
distanciamento social na economia. Suas obsessões muitas vezes mesquinhas com a
destruição de presidentes se tornaram monótonas há muito tempo.
Tudo o que falta é confiança —
ou melhor, a convicção de que o coronavírus não é mais perigoso do que os
poderes do Eixo e pode ser derrotado muito mais rapidamente se mostrarmos o
tipo de vontade, e seriedade, que os bravos homens e mulheres do passado
tiveram.
Em 1987, num discurso na
Convenção Anual da Kiwanis, comunidade global dedicada a melhorar a vida de
crianças pelo mundo, o presidente norte-americano Ronald Reagan, aquele cara de
quem meu pai gostava, disse: “A liberdade nunca está a mais de uma geração da
extinção. Nós não passamos a liberdade para nossos filhos na corrente
sanguínea. Devemos lutar por ela, protegê-la e entregá-la para que façam o
mesmo”.
Quando iniciamos o projeto
de Oeste, foi solicitado que enviássemos um vídeo curto com algumas
palavras sobre o que pensamos sobre a civilização ocidental, “o Oeste”. Aqui,
repito o que disse em meu vídeo: que a proposta da revista é enaltecer,
proteger e reafirmar o valor da liberdade, elemento que sustenta pilares
sólidos de nações prósperas. Sem ela, não há imprensa, não há boas ideias, não
há crescimento econômico. Assim como um homem tem direito a uma voz no governo,
ele certamente deveria ter esse direito no que diz respeito a como vai ganhar a
vida. Cercear a liberdade responsável e protegida constitucionalmente, em
qualquer forma, é cercear esse direito. E, se for necessário sermos
repetitivos, assim seremos. Quem perde a liberdade perde tudo. O cowboy estava
certo.
Título e Texto: Ana Paula
Henkel, revista Oeste, 15-5-2020, 10h24
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