sexta-feira, 5 de junho de 2020

Os Antifas bancam os humanistas, mas não passam de carniceiros ideológicos

Guilherme Macalossi

Quantos desses que saíram às ruas nos EUA para protestar pela morte de George Floyd estão de fato preocupados com ele ou mesmo com o problema do racismo? As manifestações que se seguiram ao episódio da violenta abordagem policial ocorrida em Minneapolis parecem menos interessadas em buscar justiça e igualdade e mais interessadas em promover a desordem social e a insegurança generalizada.

Foto: John Minchillo/AP
É necessário deixar bem claro que Floyd foi vítima de uma brutalidade de caráter claramente racista. Sem ter resistido, acabou sendo asfixiado por um policial branco, que, durante 8 minutos, manteve seu pescoço pressionado junto ao chão usando a força do joelho. A cena de selvageria correu o mundo, gerando uma comoção mais do que justificada.

Ao que parece, entretanto, a comoção acabou instrumentalizada por aqueles que queriam ter apenas uma licença poética para praticar outros incontáveis crimes. É o que está acontecendo nesse exato momento. Por certo, há muitos pacifistas se manifestando, mas é inegável também a ação de grupos radicais e violentos que se escudam entre aqueles que buscam apenas externalizar sua indignação. As depredações em massa, as agressões contra outras pessoas (algumas delas também assassinadas) e o saque a estabelecimentos comerciais dão a tônica de um clima de insurgência revolucionária que surge a partir dos EUA e começa a se espalhar pelo mundo.

Ou roubar a lojas da Nike e da Louis Vuitton, ou tocar fogo em uma unidade da CVS ou mesmo da Target é a resposta certa para combater o preconceito? Essas empresas, afinal, não empregam negros? Por que se tornaram alvo?

Foto: John Minchillo/AP
A resposta é simples: há quem veja no próprio sistema capitalista o promotor da opressão social e, nessas empresas, alguns de seus estandartes e símbolos. Para estes agentes, a tal cultura da desigualdade é alicerçada nos próprios fundamentos do livre mercado. E, sendo assim, essa estrutura econômica deve ser destruída.

Peguemos um exemplo. Veja o que diz Silvio Almeida, professor da USP, que postou o seguinte em seu Twitter:

Ser antifascista não é somente ser contra a violência dos fascistas, mas ser contra tudo a que o fascismo dá suporte e sentido. Assim, ser antifascista é ser contra a economia do fascismo, o direito do fascismo, a cultura do fascismo. A luta antifascista é uma luta existencial.”  

Em entrevista para o Nexo Jornal, Almeida afirma que a democracia liberal “é um modelo que não se preocupa com a substância da participação política, a efetiva participação das minorias para que elas possam, ao decidir, tomar conta do próprio destino”.

Ora, se a democracia liberal, na qual o livre mercado está inserido como uma peça fundamental, não se preocupa com a efetiva participação das minorias, então é fácil assumir que, segundo essa ótica, esse sistema supostamente gerador de desigualdades seria fascista em sua gênese.

Os Antifas, que estão nas ruas dos EUA e reapareceram na Av. Paulista e no centro de Curitiba nos últimos dias, pensam da mesma forma, mas não buscam a superação do atual sistema com palestras na Casa do Saber, e sim com paus, pedras, coquetéis molotovs e rojões.

Foto: Ben Gray/AP
A tão aviltada democracia liberal não é, como todos já sabemos, um sistema perfeito. E nem se pretende como tal. Mas é o sistema do aperfeiçoamento contínuo, que é conquistado pela fiscalização e pelo aprendizado com o erro. O policial que matou George Floyd já foi expulso de sua corporação, perdeu sua esposa e foi preso. É bem provável que, mesmo depois disso, o racismo persista, não apenas nos EUA, mas no resto do mundo. Ficará a lição, entretanto. E ela servirá para que novas condutas sejam incorporadas e medidas de contenção e prevenção sejam adotadas. Eis o ciclo de evolução institucional que é a única maneira encontrada até hoje pela a humanidade de modo a regular sua convivência. O resto são abstrações utópicas e perigosas.

Martin Luther King Jr, que se tornou mártir da causa da igualdade racial, sempre condenou a ação violenta. Os Antifas, que saem praticando atos de terrorismo urbano não apenas ofendem sua memória como também usam o corpo de George Floyd para promover agitação contra os fundamentos da liberdade. Bancam os humanistas comovidos, mas não passam de carniceiros ideológicos.
Título e Texto: Guilherme Macalossi, Gazeta do Povo, 4-6-2020, 16h11
Guilherme Macalossi é jornalista, apresentador, redator e radialista. Apresenta o programa "Confronto", na Rádio Sonora FM, e o programa "Cruzando as Conversas", veiculado pela RDC TV, emissora de TV a cabo no Rio Grande do Sul. Trabalhou na agência Critério - Resultado em Opinião Pública, e já escreveu artigos para o site do Instituto Liberal. Na Gazeta Povo, produziu o programa "Imprensa Livre" e também mini documentários sobre temas variados publicados ao longo de 2019.
**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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