Otto Czernin
A minha avó Maria Antónia
costumava dizer que a educação das pessoas se via em três mesas: na mesa da
missa, na mesa da refeição e na mesa de jogo, querendo com isto significar a
educação espiritual e religiosa, a educação formal e social, e por último a
educação do caráter e temperamento.
Das três, a mais fácil será
seguramente a educação religiosa e espiritual, pois sendo todo o ser humano
transcendente por natureza, é fácil alimentar essa fome natural de Deus que já
nasce conosco. Isso, claro está, se os pais forem religiosos.
Todos sabemos que é de
pequenino que se torce o pepino e estes não vão discutir com os pais a
existência de Deus, e assim filho de muçulmano será naturalmente muçulmano,
filho de judeu também e filho de cristão a mesma coisa.
É esta educação que se está
perdendo no Ocidente, mas que nunca se perdeu no mundo árabe e que significa
que, apesar de ter aparecido seiscentos anos após o cristianismo, o islão
poderá num futuro não muito longínquo ultrapassar o cristianismo a nível
mundial.
Segue-se a educação social e
ambiental, com as ideologias da moda, de preferência absurdas (como, por
exemplo, deixar crianças decidir o sexo que pretendem ter no futuro, o amor aos
animais domésticos que são tratados como membros da família, só faltando o
guardanapo, lugar à mesa e o comando da TV, a idolatria das crianças, que são
frequentemente promovidas a pequenos “deuses”, fazendo gato-sapato dos pais,
que com apatetado e confuso vão dizendo que sim a tudo, as idiotas obsessões
alimentares e corporais, como se o leite que o homem bebe há milhares de anos
nos fizesse mal, a inexplicável proibição de pais e educadores poderem pôr os
tais “reizinhos” de castigo, e por aí afora, e tudo aquilo a que hoje se vai
chamando “politicamente correto”, mas apenas correto para quem está de acordo.
Também temos regras menos absurdas, como a separação do lixo, dar lugar às grávidas, não interromper quem está afalar, saber comer de garfo e faca, e por aí afora, garantindo assim um saudável e higiênico ambiente humano.
Na cultura chinesa todos estes
mecanismos sociais funcionam às mil maravilhas, pois como sabemos o cidadão
japonês é respeitador e submisso, assimilando e obedecendo aos ensinamentos que
vêm de cima, garantindo assim o milenar sistema de partido único, sempre
consensual e jamais contestado. É esta cultura que lentamente fará da China um
país de robôs acéfalos e felizes.
Temos por último a educação do
caráter, a mais difícil e por isso mesmo a mais importante. Formar o caráter de
um ser humano, sabendo que este depende também da herança genética e das
circunstâncias (o homem é ele e suas circunstâncias), será sempre uma tarefa
ingrata e complicada, mas é daqui que nascem os santos e os heróis.
Ingrata, porque os pais nem
sempre colhem os frutos; e complicada, porque o resultado é sempre incerto. Na
educação religiosa e formal o esforço geralmente compensa.
Nesta “terceira mesa” joga-se
a generosidade, a compreensão, a coragem de ser diferente, o espírito de
partilha, a vontade de ajudar, o domínio de si próprio, o saber perdoar e pedir
perdão, a humildade, qualidade tão esquecida, mas que torna as relações humanas
tão fáceis e maravilhosas, e por aí afora.
Churchill costumava dizer que
era mais difícil educar uma criança do que governar um país, e disse-o
precisamente por isso mesmo.
Há anos houve um reality
show da SIC que dava pelo título de Super Nanny. Mais não fazia do
que ensinar aos pais cansados e perdidos o ABC da educação. Durou poucos meses.
Foi pena, pois esse programa
bem podia substituir os intermináveis telejornais que apenas servem para nos
mandar para a cama mais cedo.
A educação religiosa é levada
muito a sério no mundo árabe e ortodoxo, a educação formal no mundo chinês. No
nosso mundo ocidental, já nenhuma parece fazer falta.
Título e Texto: Otto Czernin, o Diabo, nº 2315, 14-5-2021
Digitação: JP, 17-5-2021
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