sábado, 22 de maio de 2021

A verdadeira face do Chega e da Iniciativa Liberal

Manuel Rezende

O Chega e a IL se abstiveram na votação de um decreto-lei para a criação de um mecanismo de controle da imprensa disfarçado de controle das “fake News” e das “narrativas falsas”.

O parlamento aprovou recentemente uma “Carta dos Direitos Humanos na Era Digital”, uma nove e presunçosa ficção que visa defender, entre outras preciosidades, o direito a não ser atingido pela “desinformação”. Ou seja, uma nova lei da censura que cria um grupo de censores nobilitados pelo regime e nomeados a dedo para distinguir o trigo do joio, a informação “real” da informação “falsa”.

Uma lei feita à medida das necessidades dos governos socialistas do futuro e das necessidades da Terceira República.

As “flores pútridas do liberalismo” começam a ser postas em causa por toda a Europa. O progressismo sistêmico, para já, é a grande vítima destes novos ventos de mudança. Depois de duas décadas de engenharia social legislada, os povos da Europa reagem contra a inteligência oficial e os seus solares acadêmicos, de onde os grandes intelectuais das novas esquerdas cospem os insultos aos hábitos, costumes e crenças dos europeus.

Essas torres de marfim, que nos pareciam tão inacessíveis, estão agora a ruir aos poucos. Em França, já se proíbe a linguagem “gender neutral”, em Espanha a direita derrota eleitoralmente a esquerda em Madrid.

As soluções partidárias à tirania das esquerdas pós-marxistas não são de todo suficientes para contrariar os efeitos nefastos da engenharia social, em muitos casos será até uma mera alternativa no caminho seguido por aqueles que odeiam a civilização ocidental. Mas é ainda assim uma tendência a ter em conta.

Tendência essa que os poderes estabelecidos em Portugal não vão aceitar levemente e que vão abrandar e atrasar, de maneira a poder anular ou, pelo menos, absorver esse novo ímpeto.

A Iniciativa Liberal, um partido sustentado meramente na premissa de um Portugal Liberal é uma distração sectária, é uma extravagância nascida no seio de alguns insatisfeitos dentro do PSD e do CDS, fomentada pela facilidade com que as doutrinas do liberalismo social e econômico penetraram nas elites econômicas portuguesas.

O Chega é que é a chave para o bloqueio sistêmico de qualquer hipótese de criar sérios entraves a uma regeneração ou à criação de uma verdadeira alternativa ao regime.

O Chega colocou-se à frente de um movimento de massas sem doutrina e sem formação, governado por um diretório de tiranetes que fomenta a instabilidade dentro das suas hostes para melhor as controlar e para cercear o aparecimento de algum tipo de talento moral e técnico, promovendo a delação de membros, forjando notícias com a ajuda de alguns jornalistas auxiliares, enquanto promove dentro da sua hierarquia um nepotismo muito semelhante ao que critica no Partido Socialista.

O Chega nasce da necessidade do PSD de conquistar uma larga porção de eleitorado abstencionista. Desde Luís Felipe Menezes que o PSD queria conquistar os desafetados, os esquecidos do regime.

Infelizmente, este eleitorado só responde a incentivos estéticos e a slogans populistas, algo que a hierarquia democrática do PSD nunca poderia tolerar. O Chega, criado por ex-PSD, com o auxílio de PSD e comandado por um ex-PSD, foi a escolha natural para levar a cabo a captação desses eleitores.

Para o regime, o Chega surge como um escape para toda a tensão social criada pelas óbvias falhas do regime político. Agora que existe um Chega, a insatisfação popular pode manifestar-se de forma útil ao regime, em queixume idiota, propostas de lei estúpidas e discurso político bronco.

O potencial criador da revolta popular esvai-se assim em populismo serôdio. O Chega é a oposição controlada pelo regime, a masturbação do Partido Socialista pela mão do Partido Social-Democrata.

E é isto que nos resta. O partido “antissistema” que não incomoda o “sistema” e os liberais que não defendem a liberdade.

Título e Texto: Manuel Rezende, o Diabo, nº 2316, 21-5-2021 
Digitação: JP, 22-5-2021

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