Manuel Rezende
O parlamento aprovou recentemente uma “Carta dos Direitos Humanos na Era
Digital”, uma nove e presunçosa ficção que visa defender, entre outras
preciosidades, o direito a não ser atingido pela “desinformação”. Ou seja, uma
nova lei da censura que cria um grupo de censores nobilitados pelo regime e
nomeados a dedo para distinguir o trigo do joio, a informação “real” da
informação “falsa”.
Uma lei feita à medida das
necessidades dos governos socialistas do futuro e das necessidades da Terceira
República.
As “flores pútridas do
liberalismo” começam a ser postas em causa por toda a Europa. O progressismo
sistêmico, para já, é a grande vítima destes novos ventos de mudança. Depois de
duas décadas de engenharia social legislada, os povos da Europa reagem contra a
inteligência oficial e os seus solares acadêmicos, de onde os grandes
intelectuais das novas esquerdas cospem os insultos aos hábitos, costumes e
crenças dos europeus.
Essas torres de marfim, que
nos pareciam tão inacessíveis, estão agora a ruir aos poucos. Em França, já se
proíbe a linguagem “gender neutral”, em Espanha a direita derrota
eleitoralmente a esquerda em Madrid.
As soluções partidárias à
tirania das esquerdas pós-marxistas não são de todo suficientes para contrariar
os efeitos nefastos da engenharia social, em muitos casos será até uma mera
alternativa no caminho seguido por aqueles que odeiam a civilização ocidental.
Mas é ainda assim uma tendência a ter em conta.
Tendência essa que os poderes estabelecidos em Portugal não vão aceitar levemente e que vão abrandar e atrasar, de maneira a poder anular ou, pelo menos, absorver esse novo ímpeto.
A Iniciativa Liberal, um
partido sustentado meramente na premissa de um Portugal Liberal é uma distração
sectária, é uma extravagância nascida no seio de alguns insatisfeitos dentro do
PSD e do CDS, fomentada pela facilidade com que as doutrinas do liberalismo
social e econômico penetraram nas elites econômicas portuguesas.
O Chega é que é a chave para o
bloqueio sistêmico de qualquer hipótese de criar sérios entraves a uma
regeneração ou à criação de uma verdadeira alternativa ao regime.
O Chega colocou-se à frente de
um movimento de massas sem doutrina e sem formação, governado por um diretório
de tiranetes que fomenta a instabilidade dentro das suas hostes para melhor as
controlar e para cercear o aparecimento de algum tipo de talento moral e
técnico, promovendo a delação de membros, forjando notícias com a ajuda de
alguns jornalistas auxiliares, enquanto promove dentro da sua hierarquia um
nepotismo muito semelhante ao que critica no Partido Socialista.
O Chega nasce da necessidade
do PSD de conquistar uma larga porção de eleitorado abstencionista. Desde Luís
Felipe Menezes que o PSD queria conquistar os desafetados, os esquecidos do
regime.
Infelizmente, este eleitorado
só responde a incentivos estéticos e a slogans populistas, algo que a
hierarquia democrática do PSD nunca poderia tolerar. O Chega, criado por
ex-PSD, com o auxílio de PSD e comandado por um ex-PSD, foi a escolha natural
para levar a cabo a captação desses eleitores.
Para o regime, o Chega surge
como um escape para toda a tensão social criada pelas óbvias falhas do regime
político. Agora que existe um Chega, a insatisfação popular pode manifestar-se
de forma útil ao regime, em queixume idiota, propostas de lei estúpidas e
discurso político bronco.
O potencial criador da revolta
popular esvai-se assim em populismo serôdio. O Chega é a oposição controlada
pelo regime, a masturbação do Partido Socialista pela mão do Partido Social-Democrata.
E é isto que nos resta. O
partido “antissistema” que não incomoda o “sistema” e os liberais que não defendem
a liberdade.
Título e Texto: Manuel Rezende, o Diabo, nº 2316, 21-5-2021
Digitação: JP, 22-5-2021
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