domingo, 30 de maio de 2021

[As danações de Carina] Pausa para pequena meditação

Carina Bratt  

INDUBITAVELMENTE CHEGO À CONCLUSÃO de que preciso de alguém. Uma pessoa séria, honesta, sincera, dona do seu nariz. Um ser meio que divino. Que acima de qualquer coisa me entenda, compreenda meus pontos fracos, e que eu possa, em paralelo, compartilhar meus anseios, meus desejos, minhas frustrações, meus medos e angústias, bem ainda minhas alegrias e encantamentos. Alguém real, de carne e osso, alguém centrado, os pés no chão, que saiba ouvir, calar, me calar, compreender e, claro, me aconselhar. 

Ando em busca constante, incessante e incansável. Na verdade, procuro em vão, um amor que me seja fiel, que me goste de verdade e que me faça a sua eterna namorada. Até agora, a minha busca por esta raridade tem sido inútil e infrutífera. Tenho, ou melhor, careço colocar na tela do meu computador o que me vai na alma. Isto virou rotina, hábito, virou algo mais banal, como tomar café, beber um copo d’água. Percebo, atônita, se não agir desta forma, rápida e rasteira, meus pensamentos me criarão embaraços e, uma vez assarapantado, meus neurônios, tenho certeza de que me perderei dentro de mim mesma. 

De uns tempos para cá tenho sentido medo, um medo tétrico, pavoroso, insensível aos meus percalços. Tenho sentido, igualmente, um receio mórbido de perder a vida, de me perder sem vida, pior, me ver vencida, obstruída feito um corpo morto à cata do fio da meada... Tenho medo, um medo grandemente enorme de perder a lucidez da razão e, de contrapeso, jogar no ralo a lógica que me faz viver intensamente cada minuto e me sentir um pouco mais feliz e dona de mim mesma. Quando você ama de verdade, a sua vida muda. Aliás, tudo se renova, se faz mais bonito, se transforma da água para o vinho. 

E como as pessoas ao redor reparam! E não só reparam, comentam, 'fofoqueiam...', bisbilhotam, às vezes tagarelam pelos cotovelos, noutras provocam, sem dó nem piedade, tiram sarro, bravateiam, fazem chacotas e, ainda, de lambuja, procuram deixar seus caminhos cheios de pedras e de dissabores os mais difíceis e intrincados de serem removidos. Todavia, procuro não entregar os pontos. Sou dura na queda. Às vezes tenho a impressão de que tudo não passa de um sonho. Um sonho bonito e cativante, alegre e sem manchas. Apesar de todos estes predicados, se não conseguimos bater no lance certo, levamos um tombo bonito e custamos a nos levantar para dar sequência na vida. 

Por vezes, me vejo perdida. Sem saída, sem futuro, amarrada, dentro de um ‘amanhã’ que parece estar cheia de bons presságios. Por momentos, penso ter deixado, em algum lugar da minha estrada, a mola propulsora que me levaria ao alto, num ‘para cima fenomenal’, com tudo de bom e de belo. A mola propulsora foi desativada, não sei explicar como, apenas tenho plena convicção de que minha vida anda meio estancada. 

Em vista desta razão, sigo batendo na tecla de que me falta alguém, que me dê amor... que me abarrote de novas esperanças e me mostre novas estradas para serem percorridas. De todos os lados surgem dardos inimigos com os mais diversos tipos de venenos, ou seja, dentre eles, os mais perigosos, como a calúnia, a descrença nas minhas palavras e no meu modo de ser. Se todo mundo encontra a sua metade da laranja, não posso, de forma alguma, deixar de buscar pela minha. Apalermada, metade da língua de fora, me questiono, meio lá, meio cá: exijo que alguém, no Grande Universo, me apresente respostas concretas e destituídas de termos mentirosos. Pelo sim, pelo não, vamos a um bom gole de café moído na hora?? Depois da queda você toma aquele banho frio e, em seguida, percebe que não tocou sequer no barulho, que insistia em infernizar os buracos de seus ouvidos. De fato, martirizaram, mas nada que lhe fizesse descrer do futuro! 

Por derradeiro, preciso, ou melhor exijo de um alguém que me queira de verdade, apenas o básico. Alguém que me possa compartilhar tudo isto comigo, que entenda as minhas reticências e os meus pontos de exclamação. Por tudo o que acima escrevi, deixo uma indagação bailando no ar: será que este ser que procuro existe de verdade, ou não passa de mera imaginação? No mais escondidinho do meu âmago, alimento uma esperança um pouco mais robusta: este alguém existe. E, em breve, me tirará definitivamente deste estado anímico. Então eu partirei para o abraço terno da mais pura FELICIDADE. 

Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. 30-5-2021

Anteriores: 
Meus possíveis pontos de uma fuga irreal 
Conversa de pé de orelha 
Sempre assim, com a esperança obstinada 
Nada é difícil quando temos a vontade de vencer 
A Oração 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-