sexta-feira, 8 de julho de 2022

Não queimem a América!

Muitos norte-americanos simplesmente cedem diante do radicalismo incendiário de uma minoria barulhenta. Em nome da “tolerância”, muita gente abandonou a busca pela verdade

Rodrigo Constantino

Os norte-americanos celebraram mais um aniversário de sua Declaração de Independência neste 4 de julho. Há motivo para orgulho da trajetória e do legado da nação desde os “pais fundadores”, em que pesem muitos defeitos e pecados — atire a primeira pedra quem não os tem! Ocorre que, segundo pesquisas, cada vez menos gente afirma ter orgulho desse legado. O que está acontecendo? Em síntese, uma campanha difamatória e mentirosa, distorcida, promovida pela esquerda radical.

Esse fenômeno da radicalização da esquerda democrata tem merecido muitas análises e críticas, e cada vez mais gente se dá conta do perigo. Um deles é o apresentador Dave Rubin, um gay “progressista” que, por conta dessa agenda woke insana, se tornou mais e mais conservador. Em seu novo livro, Don’t Burn This Country, Rubin faz um importante apelo em defesa do legado norte-americano, condenando a distopia woke, que estaria destruindo o país. A preocupação do autor é com o fato de muitos norte-americanos simplesmente cederem diante do radicalismo incendiário dessa minoria barulhenta.

Em nome da “tolerância”, muita gente abandonou a busca pela verdade. Rubin sempre defendeu o liberalismo clássico, mas ele considera um equívoco essa postura de muitos liberais que, em nome de uma licenciosidade total, se abstêm de reagir a essa deterioração moral em seu entorno. Para ele, faz-se necessário lutar para conservar os valores que fundaram a América, como a vida e a liberdade. Por não compreenderem a gravidade da ameaça existente, muitos acabam não se manifestando alto o suficiente para condenar esses ataques às liberdades.

Rubin considera que o momento atual é genuinamente a última chance de defender a América contra a tirania. Em referência ao filme Star Wars, Rubin diz que esse politicamente correto alimentado pela manipulação midiática é a “Estrela da Morte” de nossa época, reconhecendo a dificuldade de derrotá-la, mas mantendo o otimismo de que tal missão não é inviável. Para essa conquista, porém, será preciso abandonar o silêncio.

Em vez de debates públicos construtivos, o que temos visto é uma tirania coletivista espalhando conformismo por meio do medo de ser atacado nas redes sociais pela patota woke

Já existe, hoje, um clima de autocensura imposto pela intimidação dos radicais. Segundo um estudo do Cato Institute, quase dois terços dos norte-americanos alegam que o ambiente político atual os impede de dizer aquilo em que eles acreditam porque os outros podem considerar o conteúdo ofensivo. A esquerda coletivista tem sido a grande responsável por esse cenário, julgando e cancelando tudo e todos sem qualquer capacidade de senso de humor ou verdadeira tolerância. O resultado é que, em vez de debates públicos construtivos, ainda que acalorados, o que temos visto é uma tirania coletivista espalhando conformismo por meio do medo de ser atacado nas redes sociais pela patota woke.

O ponto fraco deles, contudo, é que sem a aquiescência da maioria, essa cultura do cancelamento se esvai. Estamos lidando, em suma, com um tigre de papel. Manter o pé firme e defender suas convicções é a única alternativa. Quem reagiu dessa maneira sabe que os chacais e as hienas não possuem esse poder todo de cancelamento. O problema principal, até aqui, é justamente que muitos têm optado pelo silêncio por medo, e romper essa espiral de silêncio é crucial para impedir essa tirania.

A receita para construir uma grande sociedade não é desconhecida, mas tampouco é trivial: devemos ser honestos, trabalhar duro, cultivar bons relacionamentos, fazer coisas belas, contribuir com o mundo e formar famílias saudáveis. Se pararmos para pensar, o denominador comum dos vários movimentos “progressistas” de hoje é exatamente declarar guerra a tudo isso. Eles desprezam a família, questionam o que é saudável, demonizam o trabalho duro pregando o parasitismo estatal, espalham ódio e desconfiança em relação aos vizinhos, segregam uns aos outros com base em política de identidade, cospem no que é belo e enaltecem o que é efêmero ou mesmo horroroso.

O movimento woke, em síntese, é um grito dos ressentidos contra tudo que é bom, belo e verdadeiro. É a idealização da inveja, paixão mesquinha que pretende destruir tudo o que é melhor, em vez de construir algo decente. Para resistir a esses ataques, o caminho é desenvolver crenças sólidas nos valores de nossa civilização. Rubin usa a metáfora de crenças como barcos: se são bem construídos, podem nos manter na superfície quando as marés se tornam revoltas e as ondas ficam agitadas. Mas se o barco for inflável e as crenças feitas de ar quente, sem embasamento em conhecimento real, assim que alguém faz um pequeno furo nele você está em grave perigo. Vai tentar se agarrar desesperadamente a qualquer boia salvadora para não afundar.

O que os filósofos pós-modernos conseguiram foi enfraquecer justamente esses pilares sólidos da civilização ocidental. Um intenso ceticismo na capacidade de obter verdades objetivas e uma crença de que as sociedades são formadas por sistemas de poder e hierarquia em que tudo se resume a isso acabaram minando a confiança do cidadão nas instituições e na própria sociedade. Uma linguagem extremamente subjetiva entrou como instrumento para prejudicar ainda mais qualquer reflexão lógica ou diálogo decente, e o resultado acaba sendo a desintegração do indivíduo.

Vejamos o exemplo da redefinição do conceito de racismo, ocorrida nos últimos anos. Racismo não é mais definido como alguém acreditar que outra pessoa é inferior com base em sua raça ou etnia. Agora racismo é a crença de que qualquer diferença entre grupos pode ser explicada por qualquer outra coisa além da raça. Ou seja, qualquer sistema que produz resultados diferentes entre grupos só pode ser estruturalmente racista. Não se pode sequer aventar a possibilidade de que diferenças culturais explicam eventuais desigualdades. Houve uma inversão absurda do conceito, que se tornou, em essência, marxista. Por isso movimentos como o Black Lives Matter não se importam com a redução do racismo em si, mas, sim, com a destruição das instituições que preservam a América.

Para combater tudo isso, Rubin não acredita mais que o iluminismo liberal seja suficiente. O liberalismo clássico não enfatiza Deus, e, com a morte de Deus, tudo é possível. O autor frisa que isso não significa que indivíduos ateus não possam ser pessoas boas, mas para ele a humanidade só pode prosperar com o tempo se for capaz de resistir a forças que desejam escravizá-la. E para tanto é preciso ter uma coragem que, normalmente, apenas a crença em Deus costuma fornecer, para não se sucumbir ao medo de tais forças demoníacas.

Foi com base em tais constatações que o gay liberal se tornou um conservador. Rubin defende o diálogo civilizado como fundamental para resguardar nossa civilização. Ele recebe em seu programa de entrevistas diversos pontos de vista e sempre se mostra aberto ao contraditório. Mas isso não significa abandonar convicções. Para ele, todos deveriam estar unidos hoje contra a turba woke. Essa esquerda radical, afinal de contas, já deixou mais do que evidente que seu intuito é simplesmente destruir a América. E isso não pode ser tolerado.

Título e Texto:  Rodrigo Constantino, RevistaOeste, nº 120, 8-7-2022

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