Muitos norte-americanos simplesmente cedem diante do radicalismo incendiário de uma minoria barulhenta. Em nome da “tolerância”, muita gente abandonou a busca pela verdade
Rodrigo Constantino
Os norte-americanos celebraram mais um aniversário de sua Declaração de Independência neste 4 de julho. Há motivo para orgulho da trajetória e do legado da nação desde os “pais fundadores”, em que pesem muitos defeitos e pecados — atire a primeira pedra quem não os tem! Ocorre que, segundo pesquisas, cada vez menos gente afirma ter orgulho desse legado. O que está acontecendo? Em síntese, uma campanha difamatória e mentirosa, distorcida, promovida pela esquerda radical.
Esse fenômeno da radicalização
da esquerda democrata tem merecido muitas análises e críticas, e cada vez mais
gente se dá conta do perigo. Um deles é o apresentador Dave Rubin, um gay “progressista”
que, por conta dessa agenda woke insana, se tornou mais e mais
conservador. Em seu novo livro, Don’t Burn This Country, Rubin faz
um importante apelo em defesa do legado norte-americano, condenando a
distopia woke, que estaria destruindo o país. A preocupação do
autor é com o fato de muitos norte-americanos simplesmente cederem diante do
radicalismo incendiário dessa minoria barulhenta.
Em nome da “tolerância”, muita
gente abandonou a busca pela verdade. Rubin sempre defendeu o liberalismo
clássico, mas ele considera um equívoco essa postura de muitos liberais que, em
nome de uma licenciosidade total, se abstêm de reagir a essa deterioração moral
em seu entorno. Para ele, faz-se necessário lutar para conservar os valores que
fundaram a América, como a vida e a liberdade. Por não compreenderem a
gravidade da ameaça existente, muitos acabam não se manifestando alto o
suficiente para condenar esses ataques às liberdades.
Rubin considera que o momento atual é genuinamente a última chance de defender a América contra a tirania. Em referência ao filme Star Wars, Rubin diz que esse politicamente correto alimentado pela manipulação midiática é a “Estrela da Morte” de nossa época, reconhecendo a dificuldade de derrotá-la, mas mantendo o otimismo de que tal missão não é inviável. Para essa conquista, porém, será preciso abandonar o silêncio.
Em vez de debates públicos construtivos, o que temos visto é uma
tirania coletivista espalhando conformismo por meio do medo de ser atacado nas
redes sociais pela patota woke
Já existe, hoje, um clima de
autocensura imposto pela intimidação dos radicais. Segundo um estudo do Cato
Institute, quase dois terços dos norte-americanos alegam que o ambiente
político atual os impede de dizer aquilo em que eles acreditam porque os outros
podem considerar o conteúdo ofensivo. A esquerda coletivista tem sido a grande
responsável por esse cenário, julgando e cancelando tudo e todos sem qualquer
capacidade de senso de humor ou verdadeira tolerância. O resultado é que, em
vez de debates públicos construtivos, ainda que acalorados, o que temos visto é
uma tirania coletivista espalhando conformismo por meio do medo de ser atacado
nas redes sociais pela patota woke.
O ponto fraco deles, contudo,
é que sem a aquiescência da maioria, essa cultura do cancelamento se esvai.
Estamos lidando, em suma, com um tigre de papel. Manter o pé firme e defender
suas convicções é a única alternativa. Quem reagiu dessa maneira sabe que os
chacais e as hienas não possuem esse poder todo de cancelamento. O problema
principal, até aqui, é justamente que muitos têm optado pelo silêncio por medo,
e romper essa espiral de silêncio é crucial para impedir essa tirania.
A receita para construir uma
grande sociedade não é desconhecida, mas tampouco é trivial: devemos ser
honestos, trabalhar duro, cultivar bons relacionamentos, fazer coisas belas,
contribuir com o mundo e formar famílias saudáveis. Se pararmos para pensar, o
denominador comum dos vários movimentos “progressistas” de hoje é exatamente
declarar guerra a tudo isso. Eles desprezam a família, questionam o que é
saudável, demonizam o trabalho duro pregando o parasitismo estatal, espalham
ódio e desconfiança em relação aos vizinhos, segregam uns aos outros com base
em política de identidade, cospem no que é belo e enaltecem o que é efêmero ou
mesmo horroroso.
O movimento woke, em
síntese, é um grito dos ressentidos contra tudo que é bom, belo e verdadeiro. É
a idealização da inveja, paixão mesquinha que pretende destruir tudo o que é
melhor, em vez de construir algo decente. Para resistir a esses ataques, o
caminho é desenvolver crenças sólidas nos valores de nossa civilização. Rubin
usa a metáfora de crenças como barcos: se são bem construídos, podem nos manter
na superfície quando as marés se tornam revoltas e as ondas ficam agitadas. Mas
se o barco for inflável e as crenças feitas de ar quente, sem embasamento em
conhecimento real, assim que alguém faz um pequeno furo nele você está em grave
perigo. Vai tentar se agarrar desesperadamente a qualquer boia salvadora para
não afundar.
O que os filósofos
pós-modernos conseguiram foi enfraquecer justamente esses pilares sólidos da
civilização ocidental. Um intenso ceticismo na capacidade de obter verdades
objetivas e uma crença de que as sociedades são formadas por sistemas de poder
e hierarquia em que tudo se resume a isso acabaram minando a confiança do
cidadão nas instituições e na própria sociedade. Uma linguagem extremamente
subjetiva entrou como instrumento para prejudicar ainda mais qualquer reflexão
lógica ou diálogo decente, e o resultado acaba sendo a desintegração do indivíduo.
Vejamos o exemplo da
redefinição do conceito de racismo, ocorrida nos últimos anos. Racismo não é
mais definido como alguém acreditar que outra pessoa é inferior com base em sua
raça ou etnia. Agora racismo é a crença de que qualquer diferença entre grupos
pode ser explicada por qualquer outra coisa além da raça. Ou seja, qualquer
sistema que produz resultados diferentes entre grupos só pode ser
estruturalmente racista. Não se pode sequer aventar a possibilidade de que
diferenças culturais explicam eventuais desigualdades. Houve
uma inversão absurda do conceito, que se tornou, em essência, marxista. Por
isso movimentos como o Black Lives Matter não se importam com a redução do
racismo em si, mas, sim, com a destruição das instituições que preservam a América.
Para combater tudo isso, Rubin
não acredita mais que o iluminismo liberal seja suficiente. O liberalismo
clássico não enfatiza Deus, e, com a morte de Deus, tudo é possível. O autor
frisa que isso não significa que indivíduos ateus não possam ser pessoas boas,
mas para ele a humanidade só pode prosperar com o tempo se for capaz de
resistir a forças que desejam escravizá-la. E para tanto é preciso ter uma
coragem que, normalmente, apenas a crença em Deus costuma fornecer, para não se
sucumbir ao medo de tais forças demoníacas.
Foi com base em tais
constatações que o gay liberal se tornou um conservador. Rubin
defende o diálogo civilizado como fundamental para resguardar nossa
civilização. Ele recebe em seu programa de entrevistas diversos pontos de vista
e sempre se mostra aberto ao contraditório. Mas isso não significa abandonar
convicções. Para ele, todos deveriam estar unidos hoje contra a turba woke.
Essa esquerda radical, afinal de contas, já deixou mais do que evidente que seu
intuito é simplesmente destruir a América. E isso não pode ser tolerado.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, RevistaOeste, nº 120, 8-7-2022
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