Henrique Pereira dos Santos
O Observador fez uma peça sobre o facto de haver uma campanha de crowdfunding para
apoiar a família do polícia francês que disparou sobre um miúdo de 17 anos.
Toda a peça vai no sentido de
acentuar que "a ação está a gerar polémica", que se calhar nem
deveria ter sido permitida na plataforma de crowdfunding (a plataforma diz que
cumpre as suas regras, mas o Observador diz que um jornal qualquer acha que
não), que o seu promotor é um político de extrema direita, um
"espalha-brasas" que só quer é confusão, que há uns políticos que
dizem que a campanha não ajuda a acalmar a situação, e vai por aí fora.
A preocupação em questionar a
campanha, mais que em informar os leitores e usá-la para tentar compreender a
sociedade, é tal que faz questão de dizer que um donativo recente (claro que é
recente, a campanha tem quatro dias, todos os donativos são recentes), anónimo,
é de 3 mil euros, sugerindo, como o governo fez quando os enfermeiros
resolveram financiar as suas greves com campanhas de crowdfunding, que deve
haver ali forças escondidas por trás do sucesso da campanha.
Quem quiser saber pormenores sobre a campanha pode dar um salto aqui.
Verifica-se que a tal doação de que fala a jornalista é a maior que lá aparece (pormenor de que a jornalista se esqueceu, a segunda maior é de pouco mais de um terço, é de 1110 euros), que há mais de 71 mil doações e que a doação média anda pelos 20 euros e, em quatro dias juntaram-se um milhão e trezentos mil euros (para termo de comparação, de acordo com o Público, a campanha de apoio à família da vítima não chega, ainda, aos 300 mil euros).
Ou seja, a campanha é um
tremendo sucesso, angaria mais de quatro vezes o que angaria uma campanha de
apoio à família da vítima, não com base em doações milionárias, mas com doações
que, em média, andam pelos vinte euros.
Se a jornalista quisesse ver,
em vez de mostrar o seu repúdio por uma campanha que considera errada e
promovida pela pessoa errada (um político francês de extrema direita que é egípcio
de nascimento, um árabe cristão copta que se naturalizou francês aos vinte
anos, depois de ter chegado a França com oito anos, sem saber uma palavra de
francês), talvez tivesse feito a peça de outra forma, dando informação mais
objetiva.
O problema é que ao fazê-lo
talvez tivesse de levantar uma hipótese que horroriza muita gente: sim, há um
problema sério com a democracia francesa, provavelmente uma manifestação
específica dos problemas das democracias ocidentais, mas talvez esses problemas
não estejam tanto na falta de respeito pelos direitos das minorias, mas sim na
falta de determinação na defesa dos direitos da maioria.
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
4-7-2023
Fui assinante deste jornal (online) por causa de alguns colunistas, três ou quatro. Mas, a redação é do rebanho "progressista", eufemismo para outros istas, e republicadora dos despachos da Agência Lusa (um oásis de imparcialidade).
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