O vascaíno Pedro Calil lamentou o atual
momento do Vasco da Gama e cobra o presidente Pedrinho por mudanças
França Fernandes
A eliminação na semifinal do Campeonato Carioca, após duas derrotas para rival o Flamengo (1 a 0 e 2 a 1), motivou o desabafo de um torcedor nas redes sociais. Pedro Calil, o “Seu Calil da Colina”, de 83 anos, escreveu carta aberta ao presidente cruzmaltino, Pedrinho, que viralizou nas redes sociais.
No texto, o torcedor, famoso
nas arquibancadas de São Januário e nas redes entre os cruzmaltinos, relembra
suas memórias e lamenta a impressão de que não conseguirá comemorar um título
com o neto, de 15 anos.
“São 83 anos de Vasco da Gama.
Vivi e respirei esse clube. Sorri e chorei com ele. Vi glórias inesquecíveis e
também soube sofrer. “Sempre ao seu lado até o fim” – sabe, Pedro? Foi assim
que ensinei minha família, foi assim que meu neto cresceu ouvindo, aprendendo e
vivendo”, escreveu Calil em um dos trechos da carta.
Calil ainda critica a postura
do time do Vasco no segundo jogo da semifinal do estadual. E cobra o presidente
por mudanças no futuro próximo do clube:
“Presidente Pedro Paulo, sei
que não é culpa sua meu neto nunca ter me visto comemorar um título até aqui.
Mas você escolheu estar aí para mudar o futuro do clube. Para mudar, talvez, o
destino de milhares de Pedros espalhados pelo Brasil, que, como eu, vivem e
respiram o Vasco. Mas nesse ritmo, eu não vou ter tempo de realizar o sonho de
gritar É campeão” ao lado do meu moleque”.
Veja a carta na íntegra
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO VASCO DA GAMA, PEDRO PAULO
Oi, meu xará. Talvez você
não me conheça, então deixa que me apresento: assim como você, me chamo Pedro.
Não sou um personagem das redes sociais, nem apenas o Seu Calil da Colina.
Tenho nome, sobrenome e, claro, um CIC – sim, sou da época do CIC. Na verdade,
sou da época do CIC, da Segunda Guerra Mundial, de Getúlio Vargas e da CLT
assinada em São Januário.
Falando em São Januário,
sou da época de Ademir, Barbosa, Chico. Conhece? Também sou da época de
Dinamite, Andrada, Alfinete. Se ainda não ficou claro, chego mais perto: sou do
tempo de Juninho Pernambucano, Paulista, Mauro Galvão, Romário, Edmundo e do ídolo
Pedrinho. Agora sim, chegamos lá.
São 83 anos de Vasco da
Gama. Vivi e respirei esse clube. Sorri e chorei com ele. Vi glórias
inesquecíveis e também soube sofrer. “Sempre ao seu lado até o fim” – sabe,
Pedro? Foi assim que ensinei minha família, foi assim que meu neto cresceu
ouvindo, aprendendo e vivendo.
Falando em neto, o mais
velho tem 15 anos. Gabriel, o nome dele. Vascaíno roxo. Vai comigo aos jogos.
Para mim, não há experiência maior do que dividir esse amor com ele. Espero que
um dia você viva isso. Todo mundo deveria. É revigorante.
Mas ontem, Pedro, algo
mudou. Ontem me caiu uma ficha. Fui dormir pensando que podemos ir juntos a
inúmeros jogos do Vasco ainda pela frente, mas que provavelmente nunca terei a
chance de comemorar um título ao lado do meu neto. Aguardo ansiosamente por esse
dia. Mas ele não chegou. E, pior, penso que ele não chegará.
E não, não é porque estou à
beira da morte. Pelo contrário, esse velho aqui já combinou com o Criador que
não sai de cena tão cedo. Estou lúcido, inteiro, vivendo, não apenas
sobrevivendo. Temos um trato. É o Vasco que não tem perspectiva de melhora.
Se bobear chego a ver os
bisnetos que meu Gabriel me dará. Quem sabe iremos nós todos – eu, minhas
filhas, filhos, netos e bisnetos – ao novo São Januário assistir a um jogo do
Vasco. Mas ver um título? Esse coração velho, sábio e calejado já não acredita
mais.
Se você me conhecesse
pessoalmente, se batesse uma bolinha comigo (sim, aos 83 eu ainda jogo futebol
com meu neto), se sentasse para um churrasco ou cantasse ao meu lado na
arquibancada de São Januário, saberia que nunca fui pessimista. Pelo contrário,
a esperança me moveu até aqui e ainda me moverá por muitos anos. Mas também não
sou cego, nem burro, nem leigo. Sei da vida, dos negócios, do futebol. Sei ser
realista.
E ontem, Pedro, foi o dia
em que a tristeza bateu forte. Ontem olhei para frente e não vi nenhuma chance
de gritar “É campeão” ao lado da minha terceira geração.
Estamos apáticos. Entramos
em campo torcendo pelo menos pior acontecer. Aceitamos o discurso “a diferença
técnica é gritante”. Engolimos o “a realidade financeira fala mais alto”. Nos
satisfazemos com “foram bons 45 minutos”.
Desculpe, pequeno Pedro,
mas isso não é Vasco. Isso sequer é o espírito do futebol. Qualquer grande
clube, mesmo com deficiência técnica, financeira e política, ao encarar seu
maior rival, impõe no mínimo a dúvida do resultado final.
Nós, aliás, Eles. Eles já
dizem que teremos sucesso se não formos humilhados. Eles já entram em campo com
medo. Muitos deles saem do jogo como se nada tivesse acontecido e vão ver o
samba carioca.
ISSO NÃO É VASCO.
Nem meu neto, que, como já
disse, nunca viu um título de expressão, vai para a arquibancada pensando
assim. Até ele demorou a dormir ontem. Nós vamos para a cama inconformados.
NÓS.
E o pior? Nada disso é só
pelo jogo que assisti ontem. Foi pela retrospectiva que fiz. Foi pela ficha que
caiu.
Presidente Pedro Paulo, sei
que não é culpa sua meu neto nunca ter me visto comemorar um título até aqui.
Mas você escolheu estar aí para mudar o futuro do clube. Para mudar, talvez, o
destino de milhares de Pedros espalhados pelo Brasil, que, como eu, vivem e
respiram o Vasco. Mas nesse ritmo, eu não vou ter tempo de realizar o sonho de
gritar “É campeão” ao lado do meu moleque.
Você nunca nos pediu
paciência, verdade, você repete isso sempre. Mas você quer o tempo que, talvez,
eu não tenha mais. Que outros vascaínos dos tempos de ouro também não têm. Que
muitos já não tiveram.
Espero, de verdade, estar
errado. Em 83 anos de vida, já acertei muito, mas errei também. E torço para
que este seja mais um erro meu. Quero quebrar a cara, quero voltar aqui e lhe
agradecer por me provar que me enganei. Terei orgulho de reconhecer. Mas hoje
não consigo ver isso acontecer. Por enquanto, estou certo. E nunca doeu tanto
estar certo.
Com tristeza, mas com o
sentimento que não pode parar, seu xará, Pedro Calil.
Título e Texto: França Fernandes, Vasco Notícias, 11-3-2025
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