quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Culpados

João César das Neves
Portugal vive um momento muito difícil e doloroso, com grave sofrimento para o povo. Um dos traços mais elevados do carácter da nossa gente é a ausência de rancor e recriminação. Apesar de tantas e graves dificuldades não se anda a tentar procurar responsáveis ou castigar culpados. Somos um povo cordato e plácido.
Este não é um elemento fortuito, tendo-se verificado repetidamente no passado. Os Governos recém-empossados não costumam ser vingativos, e predomina uma paz podre, onde a culpa morre sempre solteira. Há décadas que são ínfimos os casos de responsáveis políticos ou administrativos julgados por incúria, erro ou crime, e tal não se deve à qualidade média da nossa gestão.
Isto tem vantagens e inconvenientes. Compreende-se o incómodo de muitos perante a injustiça da benevolência. A impunidade após anos de gestão danosa e talvez até dolosa passa pacificamente. A principal vítima é obviamente a justiça, que nunca chega a ser aplicada. Mas também se evitam averiguações, zangas e aproveitamentos a que estes processos sempre dão azo. A prioridade agora é salvar o país, não supliciar réus.
Assim pessoas evidentemente responsáveis por erros enormes, e até abusos e crimes, que precipitaram o país numa das maiores crises da sua história, saem calmamente das suas funções para um retiro temporário, alguns em cargos internacionais, onde preparam o regresso como heróis, logo que o povo esqueça. Nestes dias de crise, um único político é censurado pela dívida nacional, Alberto João Jardim. E ninguém conta que venha a ser castigado.
Título e Texto: João César das Neves, Destak, 05-10-2011
Edição: JP
José Sócrates, ex-PM de Portugal e
Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira.
 Fotos: AD. Colagem: JP

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