sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As reacções à venda da EDP mostram que a paróquia manhosa se sente ameaçada


António Ribeiro Ferreira
Meu Deus. O que aí vem. A EDP foi vendida a uma empresa estatal chinesa, Portugal recebe uma verba extraordinária pela participação de 21,35% na eléctrica nacional e estarão garantidos investimentos fabulosos na economia nacional. É todo um mundo de negócios que se abre para um país que caiu na bancarrota e teve de recorrer à ajuda externa para cumprir com as suas obrigações essenciais. É claro que a paróquia nacional, manhosa e já agora muito mal frequentada, levou um colossal murro no estômago e vai andar por aí a debitar horrores, perigos e tragédias sobre esta entrada de leão da China na economia portuguesa. É claro que em primeiro lugar virão a terreiro os intrépidos defensores dos centros de decisão nacionais, seja lá o que for esta treta, a falar nos malefícios de o Estado ficar sem este activo estratégico. Neste domínio é sempre engraçado ver a esquerda troglodita associada ao PS e a alguns homens e mulheres que fingem adorar a economia de mercado e que até manifestam de quando em vez as suas dúvidas sobre a presença do Estado na economia e nos negócios. Ainda ontem, poucas horas antes de o Conselho de Ministros ter tomado a decisão de vender a participação estatal na EDP à China Three Gorges Corporation, os socialistas tentaram meter mais um grão na privatização com um apelo patético ao governo de que não contratualize a operação antes de aprovar uma lei, mais uma, que defenderia os chamados interesses estratégicos nacionais. É claro que o executivo mandou António José Seguro e companhia limitada ir passar o Natal com os tais interesses e decidiu mesmo vender a participação do Estado na EDP, num processo que vai calar muita gente que passou estes últimos tempos a debitar asneiras e a lançar suspeitas da mais diversa ordem sobre os membros do governo e, claro, sobre o primeiro-ministro.
A partir de agora espera-se que se calem os obscuros interesses que atrasam e bloqueiam a economia nacional há muitos e maus anos e que a revolução no capital da EDP seja inspiradora dos outros processos de privatização previstos no Memorando da troika, no programa do governo e no próprio Orçamento do Estado para 2012. É também claro que os manhosos do costume, que sempre viveram à conta do Estado e dos seus favores, vão de repente transformar-se em acérrimos defensores dos direitos humanos, dos direitos dos animais e afins para atacarem a venda da EDP a uma empresa estatal de um país não democrático. Tudo vai servir para mostrarem a sua mágoa pela perda de um centro de interesses, não estratégicos, não nacionais, de grupos obscenos que floresceram à conta dos consumidores e do Estado. Pobres de espírito e eventualmente mais pobres nos bolsos e nas contas bancárias, vão por certo tecer rasgados elogios aos perdedores alemães e brasileiros, esquecendo-se rapidamente das acusações que andaram por aí a fazer pelo facto de Passos Coelho ter recebido os concorrentes alemães e de a senhora Merkel ser não só a patroa da União Europeia como do governo português. Se tudo correr bem, talvez não fosse má ideia trocar o feriado do 25 de Abril pelo de 22 de Dezembro.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 23-12-2011

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