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Luis Dolhnikoff
O Brasil é um BRIC. Ou seja,
faz parte do “luminoso” e ominoso grupo dos superemergentes, ao lado,
literalmente (ou literamente), de Rússia, Índia e China. Portanto, também é um
bric, um tijolo que arrima o futuro do mundo... Lula pode ter perdido a voz e a
barba, mas o Brasil não tinha perdido a pose de país da “nova classe média”,
que compra feliz e febril nos crediários sem fim ofertados a toda a imensa
multidão de novos e velhos otários. Qual o problema de pagar por uma Mercedes e
levar um Gol, se antes não se conseguia sequer ter um Fusca? Mas acabou.
As compras podem continuar
febris, porém o comprador não é feliz. Nunca foi. E isto não é uma opinião.
A organização Legatum Institute, que pesquisa o Legatum Prosperity Index, índice de
prosperidade relativa entre os países de todo o mundo, acaba de publicar a sua
pesquisa de 2011. A lista dos primeiros dez não surpreende: Noruega, Dinamarca,
Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Canadá, Finlândia, Suíça, Holanda e EUA. O
que talvez surpreenda sejam as variáveis envolvidas: economia, oportunidade,
governo, educação, saúde, segurança, liberdade pessoal e capital social. E tudo
isso se traduz no grau de “life
satisfaction”, satisfação com a vida, ou sensação de bem-estar, de cada
população – o que o Prosperity Index,
enfim, mensura. Ou seja, os noruegueses, aqueles pálidos nórdicos frios, são os
mais satisfeitos da vida. E os americanos não fazem nada feio, apesar das
cassandras canhotas que vivem a decretar e redecretar sua infelicidade. E onde
fica, afinal, o Brasil varonil com seu céu de anil e seu alegre povo mestiço,
sambista, futebolista, carnavalesco e tropical? Em um triste, insatisfeito e
insatisfatório 42º lugar...
Economia: a do Brasilzão é uma das maiores do mundo, mas isso não muda
nossos preços estratosféricos, nossos impostos insanos, nossos juros obscenos,
nosso capitalismo primitivo e parasita etc.;
Oportunidade: não é muito difícil imaginar que a vida de um
norueguês médio oferece oportunidades de todos os tipos maiores e melhores que
as de um brasileiro médio em sua mediania provinciana;
Governo: a ineficiência e a corrupção do Estado brasileiro, em
todos os níveis, estão além da capacidade de imaginação do norueguês menos
satisfeito;
Educação: ocioso comentar;
Saúde: idem;
Segurança: idem idem;
Liberdade pessoal: qual a verdadeira liberdade de quem vive preso
pela necessidade de enfrentar dia a dia pequenos, médios e grandes problemas
evitáveis que a inépcia, a incúria e a ignorância nacionais oferecem em doses
mais do que satisfatórias?;
Capital social: em meio à deseducação, à insegurança, ao
desperdício etc., muito pouco resta. Resta concluir que o mito do povo alegre e
brejeiro não passa de renomada besteira.
Trata-se, afinal, tão-somente
de aparência. No Brasil se sorri e se ri muito fácil. Também se abraça muito
facilmente. Tudo falso, tudo farsa. O sorriso é a arma maior contra o “horror à
distância” (Sérgio Buarque) que caracteriza a brutalidade e a caipirice social
do bravo povo brasílico. O abraço idem. Encurtada a distância, nem se apanha
nem se acanha.
O fácil sorriso dos
brasileiros é uma promessa facial de uma felicidade não dificultosa, mais do
que a tradução muscular de uma satisfação conquistada. E tem tanto valor quanto
qualquer promessa feita com um sorriso fácil. A seriedade norueguesa é, na
verdade, mais verdadeiramente alegre. Apesar do samba, dos bambas, dos
bambambans e de todos os balangandãs. Ou por causa deles.
Título e Texto: Luis
Dolhnikoff, no blog “Sibila – Cultura e Poesia”, 21-12-2011
Colaboração: Ari
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