Ramiro Marques
Viciados em Socialismo
Os professores são, a par dos
enfermeiros, um grupo profissional que se habituou à ideia de que o Estado tem
a obrigação de dar emprego certo, permanente e seguro a todos os diplomados que
deixam as universidades e politécnicos com um diploma que diz "licenciado
ou mestre em ensino ou em enfermagem".
Durante décadas, assim foi. Os
governos ficaram reféns dos sindicatos e dos interesses corporativos e foram
insuflando a bolha dos serviços públicos, inchando-a para acomodar todos os
diplomados em ensino e enfermagem que, anos após ano, iam saindo das
universidades e politécnicos com um diploma na mão.
Escudados em estatutos da
carreira que eram autênticas vias rápidas para o topo, o vício do socialismo
entranhou-se nestes dois grupos profissionais. A pouco e pouco, a fraqueza dos
governos foi acomodando e formatando os serviços públicos de educação e saúde
aos interesses corporativos e à cultura dos direitos adquiridos e do emprego
certo para toda a vida. A pressão dos sindicatos e a fraqueza dos governantes
foram criando mil e um regulamentos, normas e regimes de exceção que tornaram
os sistemas autênticos monstros ao serviço das clientelas corporativas,
aumentando-lhes o tamanho ao ritmo das pressões dos que também queriam entrar
neles. Até que o socialismo estoirou como estoira sempre que o dinheiro dos
outros acaba.
E estoirou em junho de 2011 quando
o Governo Socialista, incapaz de cumprir os compromissos com os salários e
pensões, se viu obrigado a pedir assistência financeira à troika.
Foi então que a bolha começou
a minguar. Não por vontade dos governantes; apenas porque o dinheiro acabou e a
troika obriga a um programa de emagrecimento.
De repente, o mundo dos
professores e enfermeiros começou a ruir. Um mundo laboriosamente construído
com o dinheiro dos outros e que era um paraíso, sempre em construção, na
direção da perfeição, pendurado num Céu de direitos adquiridos e conquistas
civilizacionais.
O mundo ruiu. E o que propõem
professores e enfermeiros? Que acabem com a concorrência e e liberdade de cada
um escolher a sua vocação e assumir as responsabilidades e os riscos da escolha.
Já que o Estado deixou de
poder dar emprego certo, permanente e seguro a todos os diplomados em ensino ou
em enfermagem, os viciados em socialismo exigem agora que o Estado feche os
cursos que formam professores e enfermeiros. A solução é: acabem com a
concorrência e voltem a colocar o Estado e os governos reféns de grupos
profissionais protegidos.
O socialismo faliu? Qual é a
solução? Mais socialismo.
Não resisto a contar uma
história que ilustra o que disse atrás. É a história de duas pessoas que eu
conheço, uma delas muito próxima.
A Teresa fez a licenciatura em
Engenharia Biológica no Técnico. Optou pela investigação, ficou no Técnico a
fazer o mestrado e o doutoramento. Primeiro com bolsa de investigação, depois
de doutoramento e, por fim, de pós-doutoramento. Atualmente faz investigação
numa universidade com uma bolsa de pós-doutoramento. Vários artigos científicos
publicados nas melhores revistas internacionais. Tem 34 anos de idade, ganha
1300 euros por mês, não tem direito a subsídios de férias nem de Natal. O
contrato é temporário. Corre o risco de ficar sem nada assim que a bolsa de
pós-doc termine. Isso não a preocupa. Tem uma rede de contactos internacionais
e sabe que o Mundo é o seu local de trabalho. Fala fluentemente inglês e
francês. Nunca teve emprego certo nem sequer direito a subsídio de desemprego
ou a subsídio de férias ou de natal. Se a Teresa adoecer, perde os projetos e
fica sem bolsa.
A Isabel terminou a
licenciatura de professora do 1º CEB em 1999. Nunca esteve desempregada.
Primeiro, lecionou numa escola privada. Depois, entrou para o sistema público.
Aos 28 anos de idade já estava efetiva. Ganha mais do que a Teresa, até 2012
teve direito a 14 salários por ano, tem emprego seguro, certo e permanente. Se
a Isabel meter baixa prolongada, mantém a segurança no emprego e o direito a
ser avaliada de Bom para todo o período de duração da baixa, possa ser ela de
um mês ou de vários anos.
A Teresa aprendeu a gostar do
risco e sabe que o futuro dela depende daquilo que ela for capaz de fazer para
rentabilizar o talento e os conhecimentos.
A Isabel está viciada em
socialismo. Tem apenas 34 anos de idade mas volta e meia fala na reforma e não
pára de lamentar a perda dos direitos adquiridos.
Duas mentalidades, duas
culturas, duas formas de encarar a vida e o mundo. Portugal precisa, como de
pão para a boca, de portugueses como a Teresa.
Texto: Professor Ramiro
Marques, no “ProfBlog”, 24-12-2011
Colaboração e Título: Ari
Edição: JP
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