Isabel Stilwell
O próximo ano pode ser o
melhor da sua vida. Não se irrite, porque não é demagogia, nem frase feita
tirada de um qualquer compêndio. É mesmo assim, pela simples razão de que o que
define a felicidade não depende nem de crises económicas, nem tão pouco, e por
muito estranho que pareça, de se viver em guerra ou em paz, com saúde ou
doente.
Todos nós podemos fazer o
teste: basta deixarmos os pensamentos viajar para o passado, ordenando-lhes que
parem naqueles momentos que ficaram registados na nossa memória como grandes
momentos, para constatar que estão ligados ao amor, à paixão, a conquistas
pessoais importantes, ao nascimento de filhos ou netos, e pouco ou nada à
carreira ou à conta bancária.
A psicóloga Clay Routhedge,
fez um exercício semelhante, ao coordenar uma série de estudos destinados a
perceber a importância da Nostalgia para a saúde mental, concluindo que as
pessoas mais realizadas, satisfeitas e optimistas são aquelas que não só têm um
passado rico de experiências positivas, como relembram com prazer (e
frequência) esses momentos. Esse banco de memórias não é uma fonte de lamúrias,
do estilo “ai, antigamente é que era”, mas uma fonte de energia, de quem se
orgulha de poder dizer que a sua vida tem sido uma vida cheia, e que assim
há-de continuar.
A importância da nostalgia
para o recarregar das baterias da alma foi considerada tão importante, que os
terapeutas começaram a utilizá-la no tratamento de pessoas deprimidas e
excessivamente stressadas, que por alguma razão tinham bloqueado as memórias boas,
concentrando-se apenas nas experiências negativas passadas ou presentes.
Levá-las a evocar os acontecimentos felizes porque passaram, recorrendo até a
álbuns de fotografias para facilitar a tarefa, devolve-lhes o ânimo e a
consciência de que a tristeza que sentem não é mais do que um ponto, numa linha
que vem de trás e continua muito para além daquela circunstância.
E se assim é, diz Clay
Routhedge, então torna-se claro que precisamos de dedicar mais tempo e
criatividade a produzir momentos “para mais tarde recordar”, como dizia o
anúncio, porque são um seguro de vida para o futuro. E os momentos mais
garantidos, são aqueles que trazem ao de cima as nossas memórias felizes, as
recriam e transformam também em memórias felizes para os nossos filhos, numa
cadeia eterna. Se, como eu, adorava subir à serra para apanhar pinhas, saltando
de rocha em rocha, chapinhando nas poças com botas de borracha que ficavam
invariavelmente molhadas por dentro, trincando Azedas com o seu sumo amargo, é
exactamente esse o programa que deve fazer com a família, novos e velhos, num
destes últimos dias do ano. Garanto-lhe que a nostalgia recriada é a arma mais
poderosa contra a crise. Bom Ano Novo!
Título e Texto: Isabel
Stilwell, Destak, 28-12-2011
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