António Ribeiro Ferreira
Meu Deus. O que aí vem. A EDP foi vendida a uma empresa estatal chinesa, Portugal recebe uma verba
extraordinária pela participação de 21,35% na eléctrica nacional e estarão
garantidos investimentos fabulosos na economia nacional. É todo um mundo de
negócios que se abre para um país que caiu na bancarrota e teve de recorrer à
ajuda externa para cumprir com as suas obrigações essenciais. É claro que a
paróquia nacional, manhosa e já agora muito mal frequentada, levou um colossal
murro no estômago e vai andar por aí a debitar horrores, perigos e tragédias
sobre esta entrada de leão da China na economia portuguesa. É claro que em
primeiro lugar virão a terreiro os intrépidos defensores dos centros de decisão
nacionais, seja lá o que for esta treta, a falar nos malefícios de o Estado
ficar sem este activo estratégico. Neste domínio é sempre engraçado ver a
esquerda troglodita associada ao PS e a alguns homens e mulheres que fingem
adorar a economia de mercado e que até manifestam de quando em vez as suas
dúvidas sobre a presença do Estado na economia e nos negócios. Ainda ontem,
poucas horas antes de o Conselho de Ministros ter tomado a decisão de vender a
participação estatal na EDP à China Three Gorges Corporation, os socialistas
tentaram meter mais um grão na privatização com um apelo patético ao governo de
que não contratualize a operação antes de aprovar uma lei, mais uma, que
defenderia os chamados interesses estratégicos nacionais. É claro que o
executivo mandou António José Seguro e companhia limitada ir passar o Natal com
os tais interesses e decidiu mesmo vender a participação do Estado na EDP, num
processo que vai calar muita gente que passou estes últimos tempos a debitar
asneiras e a lançar suspeitas da mais diversa ordem sobre os membros do governo
e, claro, sobre o primeiro-ministro.
A partir de agora espera-se que se calem
os obscuros interesses que atrasam e bloqueiam a economia nacional há muitos e
maus anos e que a revolução no capital da EDP seja inspiradora dos outros
processos de privatização previstos no Memorando da troika, no programa do
governo e no próprio Orçamento do Estado para 2012. É também claro que os
manhosos do costume, que sempre viveram à conta do Estado e dos seus favores,
vão de repente transformar-se em acérrimos defensores dos direitos humanos, dos
direitos dos animais e afins para atacarem a venda da EDP a uma empresa estatal
de um país não democrático. Tudo vai servir para mostrarem a sua mágoa pela
perda de um centro de interesses, não estratégicos, não nacionais, de grupos obscenos
que floresceram à conta dos consumidores e do Estado. Pobres de espírito e
eventualmente mais pobres nos bolsos e nas contas bancárias, vão por certo
tecer rasgados elogios aos perdedores alemães e brasileiros, esquecendo-se
rapidamente das acusações que andaram por aí a fazer pelo facto de Passos
Coelho ter recebido os concorrentes alemães e de a senhora Merkel ser não só a
patroa da União Europeia como do governo português. Se tudo correr bem, talvez
não fosse má ideia trocar o feriado do 25 de Abril pelo de 22 de Dezembro.
Título e Texto: António Ribeiro
Ferreira, jornal “i”, 23-12-2011
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