sábado, 4 de fevereiro de 2012

Aerus e Direitos Humanos

José Carlos Bolognese
Prezado senador Paulo Paim,
Concordando com suas observações em artigo publicado pelo jornal Zero Hora, (reproduzido abaixo) agradeço por mencionar o caso dos aposentados do Aerus. De fato, não só os ex-trabalhadores da Varig, mas também a maioria dos aposentados, somos tratados e retratados como palhaços, mas a culpa não é dos cartunistas. De quem será então?
Ao falar em direitos humanos em Cuba (numa parte em que, com todo o respeito, discordo do seu artigo no ZH), a presidente falou no “plano geral, aspecto universal” dos direitos humanos ou sei lá que em categoria de pensamento isto esteja incluído. Para quem é razoavelmente esclarecido, (ser capaz de) ver o geral no particular, ver o galho e perceber a floresta, é uma das qualidades essenciais. Não esqueçamos que ela também disse que nós brasileiros também temos telhado de vidro, admitindo assim a não imunidade do país às violações de direitos humanos.
Não seria o caso então, em sendo a presidente incisiva no aspecto geral dos direitos humanos e sendo realista em admitir que temos nosso “telhado de vidro”, estar vendo neste particular, o aspecto geral, universal dos problemas de direitos humanos? E assim ao dominar o conceito, não seria possível também, de maneira oposta, visualizar a partir do plano geral, o detalhe, o particular que permite abrir os caminhos do pensamento conduzindo ao entendimento integral das coisas?
Acredito que a presidente pense assim, pois é requerido para a sua função.
Ora, Senador, nós, ex-trabalhadores da Varig e aposentados do Aerus, somos uma sofrida parte desse “telhado de vidro” que ninguém, mesmo sabendo de sua existência e quanto nos é doloroso, mesmo tendo poder e conhecimento dos fatos, quer resolver. Aliás, este problema do Aerus e dos demitidos da Varig ter, para a sua solução, chegado ao nível do Executivo, é uma dessas vergonhas alheias com que temos de nos acomodar.
Mas o grande paradoxo deste país e seus governantes é que reconhecer a existência de problemas, não leva necessariamente a medidas eficazes para suas soluções. E todos sabemos que o tempo (de vida) das pessoas passa igualmente batido sobre problemas resolvidos quanto não resolvidos.
Nós já estamos há quase seis anos sofrendo, e o senhor sabe, vendo colegas definhando e morrendo pelas mais variadas mazelas provocadas pelo fim da Varig, o calote no Aerus e sobretudo, a inoperância da justiça e a indiferença do governo.
De minha parte, não estou mais querendo que a presidente se sensibilize com a situação dos variguianos. Estou sim, esperando que ela cumpra a lei, que reconheça que há um dramático estado de coisas, inclusive ameaçando vidas se esta questão do Aerus não se resolver no mais breve tempo.
Grato por seu persistente apoio aos variguianos e demais aposentados.
Atenciosamente, um aposentado ficha limpa.
José Carlos Bolognese
Comissário de Voo aposentado,Varig/Aerus  


Uma questão de direitos humanos
Paulo Paim
Louvável. Assim eu defino a declaração da presidenta Dilma Rousseff feita nesta semana, diante do memorial José Martí, em Cuba, de que a questão dos direitos humanos deve ser tratada de forma abrangente e não apenas localizada. Ela lembrou que os Estados Unidos mantêm a base naval de Guantánamo na ilha, com diversos presos detidos há 10 anos e sem julgamento.
A presidenta Dilma Rousseff tratou de forma universal os direitos humanos, como deve ser feito. Parabéns, minha presidenta. A senhora foi certeira, correta e justa. No meu entendimento uma declaração de estadista. Sem preconceito ideológico. Creio que Raúl Castro e seu irmão Fidel, agora afastado da presidência, entenderam... Só há um "direitos humanos": aquele que respeita e luta pela dignidade da vida das pessoas.
No Brasil, por exemplo, milhões de aposentados e pensionistas amargam reajustes pífios nos seus benefícios. Isto vem acontecendo nos últimos 25 anos. Sem dúvida nenhuma, esta também é uma questão de direitos humanos e, como tal, não é localizada, é abrangente. Ela envolve todo o nosso país, nossas crianças, nossos jovens e nossos adultos, pois eles serão os aposentados de amanhã. Aliás, nos próximos anos o nosso país terá a maior população de idosos do mundo.
Há anos venho defendendo os direitos dos aposentados e pensionistas. Às vezes, esta luta causa angústia, faz chorar, pois me deixa impossibilitado de agir. Fico de mãos amarradas, sozinho, tentando subir a montanha mesmo com desmoronamentos. Mas, vejam bem, jamais vou desistir.
A questão dos aposentados e pensionistas, esses mesmos que muitas vezes são figurinhas carimbadas dos comediantes e chargistas do nosso país, é de direitos humanos, sim! Sim, minha gente... Direitos humanos porque todos conhecem a aquarela de tintas derretidas que é a situação deles. Eles, que deram o suor pelo desenvolvimento do país, que têm marcas nas mãos e sulcos no rosto, fazem das "tripas coração" para sobreviver... Muitos morrem, por não terem dinheiro para comprar medicamentos ou nas filas dos hospitais. Portanto, creio que está na hora de o Poder Executivo avançar e dar uma atenção maior à situação do fundo Aerus e aos projetos que propus, e que já aprovamos no Senado, para acabar com o fator previdenciário e para corrigir os benefícios dos aposentados e pensionistas pelo mesmo índice do salário mínimo.
E assim, podem crer, continuarei sempre cantarolando José Martí:
Nos campos verdes,
És campo de primavera.
De onde crescem as faunas,
E antes de morrer espero,
Cantar em versos minha alma,
Meu verso de verde claro,
Que sobre as cinzas da vida,
Meu verso é um ser ferido,
Que busca no monte, amparo.

Título e Texto: Paulo Paim, Senador PT/RS

2 comentários:

  1. O Bolognese se supera a cada artigo que escreve sobre a causa Aerus/Varig.
    Parabens e obrigada aos grandes guerreiros que lutam em prol de todos nós, roubados do Aerus.

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  2. Obrigado, Vera, pela sua gentil visita e comentário!

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