sábado, 4 de fevereiro de 2012

A contaminação e o envenenamento que impregnam a política em Portugal

Meu querido amigo A. G.,
Obrigado pelo e-mail.

Pois é, fazes referência ao textinho “Gente, é ph… o que acontece em Portugal…”. O problema não é que muitos ainda não quiseram perceber que o país é (está) mais pobre do que devia, mais pobre do que parece. O problema está naqueles que fazem dessa crença uma "verdade" e saem disseminando-a por aí, sempre que podem e onde podem com claras intenções pouco nobres. Além do excelente viveiro que é a Assembleia da República eles vão podendo inoculá-la na mídia. A mídia que os apresenta como “jornalistas” ou “comentadores” quando, na verdade, eles são militantes ou dirigentes partidários disfarçados naqueles. Não há problema nenhum, dirás, em ser militante ou dirigente partidário e expressar a sua opinião. Claro que não há problema, é legítimo. O que é ilegítimo e desonesto é esconder dos cidadãos a verdadeira função (e intenção) do “jornalista” ou do “comentador”.

“Jornalista” escreve sobre o "asco" e "nojo" que sente pelo atual PM, “comentador” fala do "embuste" que é este governo, aqueloutra insinua que um ministro é travesti, o galambeiro e o horta são meros arruaceiros pavonescos, o líder comunista – o mesmo que se retirou do parlamento quando este votava uma moção de pesar pela morte de Vaclav Havel – repete à exaustão o slogan do “pacto de agressão” e a ameaça de que o povo vai derrubar este governo, um outro líder da esquerda, que senta perto do primeiro, vai para a estação de Metro protestar contra a recusa desta empresa em aceitar publicidade de um site de encontros homossexuais… e pede explicações ao governo...

Daí a contaminação e o envenenamento que impregna a política nacional, com os cidadãos, em mimese, a ampliar em fóruns, redes sociais, nas seções de comentários de jornais e revistas, a prática da suspeição, do insulto e da ofensa. Não existe debate de ideias. A conflitualidade não é intelectual é pessoal e insultuosa.

Passo a citar Alexandre Franco de Sá, no artigo “Democracia” in XXI – Ter opinião  2012, página 103:

… ao contrário do que por vezes se afirma, discute-se muito e há muitos fóruns de discussão política no país. O problema é que as discussões se restringem quase sempre a exercícios de dejá vu nos quais os mesmos protagonistas e argumentos, expostos e reexpostos mediaticamente, fecham o mundo político na presumida segurança de uma redoma feita de opiniões previsíveis, em vez de precisamente o ampliar nos seus horizontes e possibilidades. … as discussões políticas em Portugal reduzem-se quase sempre ao esboço de argumentação pré-formatada por parte de protagonistas vinculados aos partidos de sempre, chamados a expressarem-se em público em função justamente dessa previsibilidade.”

Não tenho essa profundeza analítica, nem a inteligência, well…

Passo batido pelo cinismo do Partido Socialista – que finge que chegou há dias de Marte – e a mediocridade oportunista nos assuntos ou temas a que se opõe. Como não tem nada para apresentar, a não ser a sua recente governação, encerrada em junho de 2011, vai fazer oito meses, nem alternativa a propor, vai atracando a banalidades pueris para se manter à tona e, claro, atormentar o atual governo.

Já quanto aos esquerdeiros, ah, aqui o negócio é mais em baixo, é francamente ofensivo e insultuoso, como certamente você já percebeu nas minhas linhas; usam expressões chulas, lançam a suspeita, estimulam a grosseria… e têm muitos adeptos que, como símios, repetem esses insultos nos “ambientes” que citei acima.

Enfim, meu amigo, o que percebo é que despolitizaram o cidadão, tornaram-no um mero veículo dos seus ódios (e invejas) pessoais, dos seus interesses partidários, das suas idiossincrasias políticas. E o cidadão segue se achando um ás em política e vai ventriloquando a suspeição, o insulto e a ofensa. Não percebem a quem (e ao que) servem.
É isso aí! Vamos nos falando.
Grande abraço./-
JP

2 comentários:

  1. Comentário de Zarathustra, Lisboa. 04.02.2012 18h04:
    A evolução do PC
    A cristalização do PCP e a sua absoluta incapacidade para perceber que o mundo mudou tem destas coisas inesperadas: onde antes se glorificava o valor do trabalho, se imprimiam cartazes com operários e trabalhadores em poses duras e produtivas e onde tínhamos dirigentes com ar austero e reprovador, vemos agora um partido preocupado com o carnaval e com a decisão de não ser dada folga aos funcionários públicos para irem brincar às matrafonas. Tenho uma ligeira impressão que até o camarada Cunhal deve estar a dar voltas no túmulo...

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  2. Imaginem, o biquinho socialista também é contra à decisão do Governo. O cuspidor-mor, Louçã, diz que é uma ataque aos trabalhadores... ataque??

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