terça-feira, 14 de maio de 2013

Amor de Pai

Luisa Castel-Branco

Quando chegou à escola e a filha não estava pensou que a tinham vindo buscar e não o tinham avisado. Passados três telefonemas já o pânico se instalara dentro dele. Tremia-lhe a voz. Tremiam-lhe as pernas. Em poucos minutos a escola parou e toda a gente se envolveu no assunto. Ele entrou em piloto automático, como se estivesse ali e não estivesse. Nada daquilo podia ser verdade. Durante 45 minutos não soube do paradeiro da sua princesa. Deu consigo a telefonar para as mesmas pessoas com quem já falara antes, a contactar pessoas que nunca a iriam buscar mas já não conseguia pensar. Sentia o coração a bater-lhe nos ouvidos, um pulsar com tanta força como se fosse rebentar. E continuava a fazer telefonemas. Chamaram a polícia. Não, aquilo não podia estar a acontecer! Na noite anterior ela tinha acordado com um pesadelo sobre raptos. Maldita televisão! Era o que lhe vinha à cabeça isso e imagens daquele pedaço de gente com oito anos apenas, mas tão esperta, tão inteligente, tão…tudo. O amor da sua vida. Sim porque a filha lhe ensinara o que era efectivamente amar perdidamente.
Quando passados 45 minutos soube finalmente quem a tinha vindo buscar e que se tratara apenas de um desencontro de informações, foi como se finalmente o seu corpo cedesse. Largou num pranto, sem vergonha, as lagrimas a correrem-lhe pelo rosto, pela barba e as pernas que não paravam de tremer!
Quando chegou junto dela tentou disfarçar mas sem resultado. Abraçou-a e continuou a chorar. Tinha perdido vinte anos de vida que nunca mais receberia de volta!
Título e Texto: Luisa Castel-Branco, Destak, 14-05-2013

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