O futebol é um espelho do
País? Parece que sim e, infelizmente, parece também que vice-versa. Não falo
das falências. Nem do aborrecimento. Nem da corrupção. Falo das ideias feitas e
do poder destas em subjugar a realidade: quando enfiamos um disparate na
cabeça, não o conseguimos retirar nem com o auxílio de uma rebarbadora. Vejamos
primeiro um exemplo da bola.
Graças à intervenção dos media
e dos "especialistas" do ramo, ao longo dos últimos anos
convencionou-se que o treinador do Benfica é um génio e o do Porto um monumento
à incompetência. Não importa que a equipa do sr. Jesus perca quase todas as
competições em que participa, nem que saia regularmente humilhado dos jogos com
o Porto, nem que o génio em causa tenha dificuldade em fazer--se entender pelo
cidadão (e, suponho, pelo jogador) médio, nem que revele uma arrogância
altamente desproporcionada face ao seu currículo. E não importa que o sr.
Pereira seja campeão duas vezes seguidas, ao que li com uma derrota em 60
partidas. Acima dos factos, o que importa é a força do clichê difundido, a qual
é responsável pela vontade dos adeptos benfiquistas em ver a permanência do sr.
Jesus no clube e pela vontade dos adeptos do Porto em ver o sr. Pereira à
distância.
Absurdo? Não mais do que os
clichês que tomam conta da actualidade nacional, ou do pedacinho da actualidade
que escapa ao futebol. Para os media e os "especialistas" da política
e da economia, logo para a vasta maioria da opinião pública, a austeridade em
que caímos é opcional. O Governo desatou a empobrecer os portugueses só porque
retira farto gozo do exercício e não porque uma dívida descontrolada nos
deixara próximos do colapso e em plena dependência da caridade (a juros) do
exterior. Poucos se dão ao trabalho de notar que sem os apertos vigentes (e os
que faltam) a troika não nos atura, que sem a troika os apertos serão
imensamente maiores e que no mundo real não há descontos: os golos sofrem-se
muito antes dos 92 minutos.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias
Grifos: JP
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