quarta-feira, 29 de maio de 2013

Governo de Obama fecha os olhos aos abusos sauditas na América

O governo dos EUA continua a endossar silenciosamente a virtual escravidão de empregadas domésticas praticadas pelos diplomatas sauditas no Estado da Virgínia e em Washington.
Francisco Vianna

Photos.com
Que um país islâmico ou de maioria muçulmana aceite manter mulheres trabalhando em casa em regimes de quase escravidão é algo sabido em todo o mundo e que tanto causa asco no Ocidente. Assim ocorre, por exemplo, com as mulheres sauditas, muitas das quais aparentemente vivem nessas condições, em função dos preceitos teocráticos de uma sociedade amplamente dominada por homens e que considera as mulheres como pessoas de segunda classe feitas por Deus apenas para saciar-lhes o apetite sexual e gerar filhos. Tudo isso é do conhecimento público nos seus países de origem, mas ganha cores de escândalo social, quando o povo americano fica sabendo que tais práticas são levadas a cabo dentro dos EUA, por elementos diplomáticos da Arábia Saudita que se julgam livres para fazê-lo por trás da escora da “imunidade diplomática”. Mais escandalosa ainda é a atitude do governo Obama em fazer vistas grossas para o fato.

Há quase um mês, o Serviço de Imigração e de Alfândega dos EUA (SAI) começou a investigar a fuga de duas mulheres de nacionalidade filipina de uma mansão em Washington, DC, numa área ocupada por um contingente de diplomatas sauditas. As mulheres, aparentemente, vinham sendo mantidas forçosamente em condições de quase escravidão doméstica, da mesma forma como comumente ocorre na Arábia Saudita.

A famigerada imunidade diplomática tem sido o escudo por trás do qual os responsáveis se escondem da investigação que teve início, e, graças a este artifício, pouca coisa pode ser apurada e toda a verdade provavelmente nunca será levantada, nesse caso.

As duas mulheres eram obrigadas a trabalhar 14 horas por dia, sete dias por semana, sem remuneração e descanso e a viver entre os adidos militares da Arábia depois que seus passaportes eram apreendidos e retidos por eles e a partir de então a ausência desse documento acaba gerando a prisão preventiva delas caso tentem escapar de seu cativeiro.
Um porta-voz da embaixada saudita nos Estados Unidos permaneceu mudo quando pressionado sobre o que estava acontecendo na casa. Agora, suposta queniana apareceu com uma estória semelhante de tráfico de pessoas, do qual fora vítima, relatando como ela foi sequestrada de outra casa do Estado da Virginia e essencialmente mantida em regime de quase escravidão doméstica numa mansão ocupada por diplomatas sauditas nos subúrbios de Washington.

O canal 4 da NBC, em Washington, entrevistou essa mulher, que falou sob o nome fictício de Sheila, por telefone. A queniana, que chegara legalmente nos Estados Unidos por meio da Arábia Saudita com um visto de trabalho, chegou até a estabelecer uma página provisória no Facebook onde contatou um homem de área, depois de interagir rapidamente com ele numa página da Internet feita para os quenianos que vivem na área, dizendo que ela não tinha nenhum contato com o “mundo exterior”. Não tinha permissão para ir sequer às áreas externas da casa. Com seu passaporte confiscado ilegalmente e o tempo passando para vencer o prazo de seu visto de trabalho, como disse ela, não tinha qualquer perspectiva de para onde iria ou se jamais escaparia daquela prisão onde trabalhava mais de 14 horas por dia praticamente pela comida e pela estada? Só conseguiu fugir depois que concordou em pôr um fim naquela situação com a ajuda do seu conhecido do Facebook, que a NBC apelidou de "Marikio".

O resgate acabou sendo uma experiência profundamente angustiante – disse Marikio, particularmente porque ele sabia que se ligasse para o 911 (socorro policial americano), arriscaria a chance, pois achou que o “patrão” de Sheila conseguiria convencer a polícia a prender o denunciante ao invés de salvar Sheila, porque ele estava no país ilegalmente.

Ainda assim, Sheila – vestindo um lenço na cabeça como um véu – desceu até próximo ao saguão do Skyline Towers na rodovia do Seminário e pulou para dentro do seu carro. Foi a primeira vez que os dois se conheceram pessoalmente.

Marikio disse que Sheila estava definhada e em óbvio sofrimento. Ela lhe disse que esteve com hemorragia em função de uma condição patológica não tratada. Ele disse que ela voltasse à casa para pegar o seu passaporte de modo a poder levá-la a um hospital, mas ela retrucou dizendo que não fazia a menor ideia onde o documento estava guardado, em poder do “patrão”.

Na polícia, ele contou que ela estava doente e tremendo, e que a polícia perguntou-lhe: "Você quer uma ambulância"? "Ela disse que sim e a ambulância chegou pouco depois”, lembrou Marikio.

O homem disse que, apesar de tudo, quando ela voltou para tentar pegar o seu passaporte, ela foi segurada pela família para quem ela trabalhava. "Ela recuou, tentando se desvencilhar do sujeito que a segurava mantendo-a como refém. Aí começou a gritar enquanto tentava ligar o seu celular: ‘Veja bem, saia e me largue’!”

E Sheila explicou: "Eu estava com medo, porque talvez eles pudessem ter me matado, porque sumiram com todos os meus documentos, inclusive o passaporte”.

Os policiais então ordenaram que o “patrão” devolvesse o passaporte de Sheila, o que foi feito sem qualquer resistência. Foi quando, então, que a mulher pode, em seguida, receber tratamento médico.

Tais diplomatas sauditas são pessoas a quem as administrações, atual e anteriores, continuam a agradar e a ignorar o modo como subvertem as liberdades constitucionais americanas, limitando-se a no máximo fazer escassos e superficiais comentários sobre suas condutas. Na verdade, elas são tratadas, tanto factual quanto moralmente, como “convidados especiais” dos Estados Unidos, sem qualquer limite que, uma vez ultrapassado, rompa com as tais “imunidades diplomáticas”.

Apesar de imunes a processo criminal, esses diplomatas e/ou sequestradores sauditas deveriam, pelo menos em teoria, esperar algum tipo de execração pública razoável por parte do governo e do Capitólio americano, que pelo menos constituísse uma reprovação oficial vergonhosa para as suas funções, e cujo agravamento pudesse até culminar com o pedido de saída do país, como “personae non gratae”, por parte da chefia da Casa Branca. Mas, ao invés disso, os americanos começam a ouvir sobre esses abusos no noticiário da TV local, e em websites conservadores como o The Blaze (A Brasa), sem que haja qualquer exposição nacional oficial com relação a sua cultura islamofascista doméstica que os perpetra com a aprovação silenciosa do governo americano.

Mesmo que a escravidão já seja uma lembrança antiga na Arábia Saudita (foi abolida em meados de 1962), a “cultura da propriedade” sobre as pessoas ainda prevalece, principalmente quanto às mulheres. O país pratica intensamente a importação de homens e mulheres destinados a serem serviçais em regime de quase escravidão doméstica, muitas vezes através de uma lei infame e hipócrita conhecida como "contrato de servidão”.

Salima perdeu seu bebê Abdi Sallam e o marido que amava num ataque mortal à sua casa em Mogadíscio (capital da Somália). Com nada mais a perder, ela decidiu ir ao Iêmen. Vulnerável e só, ela se encontra agora nas mãos de gangues de traficantes e provavelmente será escravizada pelos próximos anos de sua vida como empregada doméstica na Arábia Saudita. (Foto: Alixandra Fazzina/ NOOR)
São frequentes as estórias terríveis de mulheres trazidas do exterior como domésticas terem que servir aos seus “patrões” com os quais acabam tendo que viver como esposas subalternas e  reféns desses estupradores de classe média e suas esposas, que fingem que nada ver para terem os favores das escravas?

São os governos de vários países pobres que abastecem o mercado de servidão doméstica saudita. Alguns, como a Índia e outros países do Sul da Ásia proibiram o recrutamento saudita de “trabalhadoras” domésticas ou definem os limites de idade para as mulheres, na esperança de que uma temporada em uma família saudita possa melhorar sua pobre situação financeira.

No entanto, a Arábia Saudita, por ser uma aliada muito importante dos EUA no Oriente Médio, ostensivamente ignora e debocha dos princípios ocidentais, assim como em outros países árabes como a Síria, ou como a Jordânia do rei Abdullah, ricos em petróleo, e que exercem uma influência depreciativa considerável sobre os direitos individuais na região.   
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia internacional), 29-05-2013

6 comentários:

  1. A escravidão nunca acabou. Ela usa qualquer ser vulnerável em qualquer lugar do mundo civilizado ou não. Esperar que o Obama acabe com esta triste realidade é o mesmo que acreditar em Papai Noel, super homem etc

    Circe

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  2. Temos aqui uma frase antiguinha que encerra bem o que são as relações humanas. "Manda quem quer, obedece quem tem juízo".
    Manda quem tem mais poder. Sempre foi assim. Evoluímos um pouco com a invenção dos direito humanos, seus órgãos controladores e reguladores. Sim, porque sempre houve também os que estiveram fora da ciranda da escravidão.
    O que choca o Ocidente hipócrita é o 'assumimento' desta faceta tão predominante da natureza humana transformada em religião e lei pelos muçulmanos.
    Lembro do sistema de Justiça mais bem estruturado do mundo que não consegue dar fim a este comportamento entre pessoas de cultura formada em respeito e liberdade e me pergunto porque o autor do texto aponta Obama como responsável por não acabar com a escravidão.
    Pra mim, este rapaz acredita em super homem e tem certeza de que Obama não o é. Ou então só quer mesmo o derrubar.

    Circe

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  3. A frase correta é: "Manda que pode, obedece quem tem juízo".

    Circe

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  4. Jim,
    O "anônimo" não conseguiu interpretar corretamente o artigo que escrevi. Ninguém espera que Obama vá acabar com a escravidão no mundo, nem mesmo o Clark Kent... (risos)
    O que o artigo mostra é o fato de a administração 'democrata' dos EUA estar a fazer vistas grossas para essa prática DENTRO DOS ESTADOS UNIDOS, na Virgínia e - pasme! - em Washington, em plena capital do país.
    Que em outros países, principalmente os de "cultura" islâmica, isso ocorra, os americanos não podem evitar ou impedir (e talvez, aí sim, possam sequer ter interesse em fazê-lo), mas a condescendência com essa 'escravidão moderna' dentro de casa é algo que deixa os estadunidenses de pelos arrepiados e os conservadores irados em todo o mundo.
    Os interesses econômicos de Washington no mundo NÃO DEVERIAM sacrificar os mais sagrados princípios da civilização ocidental, que é o da liberdade individual e o do respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana.
    Saudações,
    Francisco Vianna

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  5. Caro escritor, a anônima assinada Circe (rsrs) , que sou eu , concorda totalmente que escravidão é uma coisa absurda. Seja ela de pessoas ou animais. Entretanto, dentro de uma democracia o cidadão pode escolher ser escravo de uma situação, o que, aliás, é o que há de mais comum pelo mundo inteiro. Pessoas preguiçosas entregam nas mãos dos outros a responsabilidade por administrar as sua vidas. Muitos são escravos por opção e muitos o são por imposição. Os que são por imposição sempre sofrem violencia e merecem ser atendidos urgentemente pelo sistema que os garante o direito de viver como preferem. Abaixo a violencia, isso sim! Se alguém é feliz entregando sua vida a outro, não há o que se questionar.
    Não entendi muito bem o que quis dizer quanto mencionou os conservadores em todo o mundo arrepiados com as práticas de escravidão nos EU.
    Conservadores nos EU (Republicanos) não acabaram com Guantánamo, ao contrário. Obama, democrata, acabou com aquela vergonha.
    Escravidão na capital do mundo, NY, data desde muito antes do Obama. Pessoas de classe média compram crianças em países pobres pra fazer delas seus empregados em troca de comida. Só tem uma diferença. Quando a policia descobre, os adultos que compraram as crianças são julgados e presos. Não foi o Obama quem criou todos estes problemas. Ele também não é capaz de resolver a todos em 8 anos. Não entendi o objetivo de apontar tanto pra ele e mencionbar os conservadores do mundo como os preocupadinhos.
    Veja a França! Veja o tráfico de mulheres por todo o mundo! Quem não sabe do perigo que é, meninas adolescentes viajarem sozinhas pela Europa? Eu disse Europa, não África o Pápua Nova Guiné, há poucas milhas de um dos países de maior qualidade de vida do mundo, onde mulheres são queimadas como bruxas.
    Já ouviu falar em casas onde se paga pra entrar e ter sexo com animais? Sim, ficam na Europa! Pedofilia? Pelo mundo inteiro!
    Acho estranho estes conservadores pelo mundo todo apontarem o Obama sem olharem o resto do mundo, sem considerar o simples porém decisivo detalhe de que ‘manda quem pode e obedece quem tem juízo’. Ora, se fosse assim tão simples de se resolver, porque a França tão maravilhosa não resolveu seu problema com os muçulmanos até hoje? Algum medo existe. Mostrar para o mundo ajuda sim. Ajuda a Obama a resolver desde que tenha o apoio da opinião mundial.
    A gente ama as pessoas pelo bem que podem nos fazer e respeitamos as pessoas pelo mal que podem nos causar.

    Circe, a anônima.

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  6. Em tese, concordo com quase tudo o que a "Anônima Circe" (rsrsrsr) disse com muita propriedade. Todavia, quero explicar que Guantánamo não se encaixa no contexto pois não é uma comunidade civil, mas sim uma prisão militar e está fora dos EUA.

    Quando me refiro aos conservadores (que nos EUA estão no Partido Republicano), entre os quais me incluo apesar de ser brasileiro, quero apenas me reportar às pessoas que, como eu, procuram CONSERVAR os valores civilizacionais judaico-cristãos de nossa cultura.

    Não adianta dizer que isso é DIREITA, porque no Brasil ser de Direita é ser contra os intere$$e$ ideológico$ do PT e daqueles que constiuem a sua BA$E ALUGADA (nesse caso, me orgulho em ser 'de direita')...

    De resto, acredito que concordamos em que Obama e os "progressistas" estadunidenses não podem resolver todas as mazelas do mundo que a comentarista apropriadamente citou, mas bem que poderia dar o exemplo dentro de casa, mesmo que isso colocasse, como deve ser, os princípios de um país adiante dos seus interesses comerciais...
    Um abraço,
    VIANNA

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