O governo dos EUA continua a endossar silenciosamente a
virtual escravidão de empregadas domésticas praticadas pelos diplomatas
sauditas no Estado da Virgínia e em Washington.
Francisco Vianna
Que um país islâmico ou de
maioria muçulmana aceite manter mulheres trabalhando em casa em regimes de
quase escravidão é algo sabido em todo o mundo e que tanto causa asco no
Ocidente. Assim ocorre, por exemplo, com as mulheres sauditas, muitas das quais
aparentemente vivem nessas condições, em função dos preceitos teocráticos de
uma sociedade amplamente dominada por homens e que considera as mulheres como
pessoas de segunda classe feitas por Deus apenas para saciar-lhes o apetite
sexual e gerar filhos. Tudo isso é do conhecimento público nos seus países de
origem, mas ganha cores de escândalo social, quando o povo americano fica
sabendo que tais práticas são levadas a cabo dentro dos EUA, por elementos
diplomáticos da Arábia Saudita que se julgam livres para fazê-lo por trás da
escora da “imunidade diplomática”. Mais escandalosa ainda é a atitude do
governo Obama em fazer vistas grossas para o fato.
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Há quase um mês, o Serviço de
Imigração e de Alfândega dos EUA (SAI) começou a investigar a fuga de duas mulheres
de nacionalidade filipina de uma mansão em Washington, DC, numa área ocupada
por um contingente de diplomatas sauditas. As mulheres, aparentemente, vinham
sendo mantidas forçosamente em condições de quase escravidão doméstica, da
mesma forma como comumente ocorre na Arábia Saudita.
A famigerada imunidade
diplomática tem sido o escudo por trás do qual os responsáveis se escondem da
investigação que teve início, e, graças a este artifício, pouca coisa pode ser
apurada e toda a verdade provavelmente nunca será levantada, nesse caso.
As duas mulheres eram
obrigadas a trabalhar 14 horas por dia, sete dias por semana, sem remuneração e
descanso e a viver entre os adidos militares da Arábia depois que seus
passaportes eram apreendidos e retidos por eles e a partir de então a ausência
desse documento acaba gerando a prisão preventiva delas caso tentem escapar de
seu cativeiro.
Um porta-voz da embaixada
saudita nos Estados Unidos permaneceu mudo quando pressionado sobre o que
estava acontecendo na casa. Agora, suposta queniana apareceu com uma estória
semelhante de tráfico de pessoas, do qual fora vítima, relatando como ela foi
sequestrada de outra casa do Estado da Virginia e essencialmente mantida em
regime de quase escravidão doméstica numa mansão ocupada por diplomatas
sauditas nos subúrbios de Washington.
O canal 4 da NBC, em
Washington, entrevistou essa mulher, que falou sob o nome fictício de Sheila,
por telefone. A queniana, que chegara legalmente nos Estados Unidos por meio da
Arábia Saudita com um visto de trabalho, chegou até a estabelecer uma página
provisória no Facebook onde contatou um homem de área, depois de interagir
rapidamente com ele numa página da Internet feita para os quenianos que vivem
na área, dizendo que ela não tinha nenhum contato com o “mundo exterior”. Não
tinha permissão para ir sequer às áreas externas da casa. Com seu passaporte
confiscado ilegalmente e o tempo passando para vencer o prazo de seu visto de
trabalho, como disse ela, não tinha qualquer perspectiva de para onde iria ou
se jamais escaparia daquela prisão onde trabalhava mais de 14 horas por dia
praticamente pela comida e pela estada? Só conseguiu fugir depois que concordou em pôr um fim naquela situação com a ajuda do seu conhecido do Facebook, que a
NBC apelidou de "Marikio".
O resgate acabou sendo uma
experiência profundamente angustiante – disse Marikio, particularmente porque
ele sabia que se ligasse para o 911 (socorro policial americano), arriscaria a
chance, pois achou que o “patrão” de Sheila conseguiria convencer a polícia a
prender o denunciante ao invés de salvar Sheila, porque ele estava no país
ilegalmente.
Ainda assim, Sheila – vestindo
um lenço na cabeça como um véu – desceu até próximo ao saguão do Skyline Towers
na rodovia do Seminário e pulou para dentro do seu carro. Foi a primeira vez
que os dois se conheceram pessoalmente.
Marikio disse que Sheila
estava definhada e em óbvio sofrimento. Ela lhe disse que esteve com hemorragia
em função de uma condição patológica não tratada. Ele disse que ela voltasse à
casa para pegar o seu passaporte de modo a poder levá-la a um hospital, mas ela
retrucou dizendo que não fazia a menor ideia onde o documento estava guardado,
em poder do “patrão”.
Na polícia, ele contou que ela
estava doente e tremendo, e que a polícia perguntou-lhe: "Você quer uma
ambulância"? "Ela disse que sim e a ambulância chegou pouco depois”,
lembrou Marikio.
O homem disse que, apesar de
tudo, quando ela voltou para tentar pegar o seu passaporte, ela foi segurada
pela família para quem ela trabalhava. "Ela recuou, tentando se
desvencilhar do sujeito que a segurava mantendo-a como refém. Aí começou a
gritar enquanto tentava ligar o seu celular: ‘Veja bem, saia e me largue’!”
E Sheila explicou: "Eu
estava com medo, porque talvez eles pudessem ter me matado, porque sumiram com
todos os meus documentos, inclusive o passaporte”.
Os policiais então ordenaram
que o “patrão” devolvesse o passaporte de Sheila, o que foi feito sem qualquer
resistência. Foi quando, então, que a mulher pode, em seguida, receber
tratamento médico.
Tais diplomatas sauditas são
pessoas a quem as administrações, atual e anteriores, continuam a agradar e a
ignorar o modo como subvertem as liberdades constitucionais americanas,
limitando-se a no máximo fazer escassos e superficiais comentários sobre suas
condutas. Na verdade, elas são tratadas, tanto factual quanto moralmente, como
“convidados especiais” dos Estados Unidos, sem qualquer limite que, uma vez
ultrapassado, rompa com as tais “imunidades diplomáticas”.
Apesar de imunes a processo
criminal, esses diplomatas e/ou sequestradores sauditas deveriam, pelo menos em
teoria, esperar algum tipo de execração pública razoável por parte do governo e
do Capitólio americano, que pelo menos constituísse uma reprovação oficial vergonhosa
para as suas funções, e cujo agravamento pudesse até culminar com o pedido de
saída do país, como “personae non gratae”, por parte da chefia da Casa Branca.
Mas, ao invés disso, os americanos começam a ouvir sobre esses abusos no
noticiário da TV local, e em websites conservadores como o The Blaze (A Brasa), sem que haja qualquer
exposição nacional oficial com relação a sua cultura islamofascista doméstica
que os perpetra com a aprovação silenciosa do governo americano.
Mesmo que a escravidão já seja
uma lembrança antiga na Arábia Saudita (foi abolida em meados de 1962), a
“cultura da propriedade” sobre as pessoas ainda prevalece, principalmente
quanto às mulheres. O país pratica intensamente a importação de homens e
mulheres destinados a serem serviçais em regime de quase escravidão doméstica,
muitas vezes através de uma lei infame e hipócrita conhecida como
"contrato de servidão”.
reféns desses estupradores de classe
média e suas esposas, que fingem que nada ver para terem os favores das
escravas?
São os governos de vários
países pobres que abastecem o mercado de servidão doméstica saudita. Alguns,
como a Índia e outros países do Sul da Ásia proibiram o recrutamento saudita de
“trabalhadoras” domésticas ou definem os limites de idade para as mulheres, na
esperança de que uma temporada em uma família saudita possa melhorar sua pobre
situação financeira.
No entanto, a Arábia Saudita,
por ser uma aliada muito importante dos EUA no Oriente Médio, ostensivamente
ignora e debocha dos princípios ocidentais, assim como em outros países árabes
como a Síria, ou como a Jordânia do rei Abdullah, ricos em petróleo, e que
exercem uma influência depreciativa considerável sobre os direitos individuais
na região.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 29-05-2013
A escravidão nunca acabou. Ela usa qualquer ser vulnerável em qualquer lugar do mundo civilizado ou não. Esperar que o Obama acabe com esta triste realidade é o mesmo que acreditar em Papai Noel, super homem etc
ResponderExcluirCirce
Temos aqui uma frase antiguinha que encerra bem o que são as relações humanas. "Manda quem quer, obedece quem tem juízo".
ResponderExcluirManda quem tem mais poder. Sempre foi assim. Evoluímos um pouco com a invenção dos direito humanos, seus órgãos controladores e reguladores. Sim, porque sempre houve também os que estiveram fora da ciranda da escravidão.
O que choca o Ocidente hipócrita é o 'assumimento' desta faceta tão predominante da natureza humana transformada em religião e lei pelos muçulmanos.
Lembro do sistema de Justiça mais bem estruturado do mundo que não consegue dar fim a este comportamento entre pessoas de cultura formada em respeito e liberdade e me pergunto porque o autor do texto aponta Obama como responsável por não acabar com a escravidão.
Pra mim, este rapaz acredita em super homem e tem certeza de que Obama não o é. Ou então só quer mesmo o derrubar.
Circe
A frase correta é: "Manda que pode, obedece quem tem juízo".
ResponderExcluirCirce
Jim,
ResponderExcluirO "anônimo" não conseguiu interpretar corretamente o artigo que escrevi. Ninguém espera que Obama vá acabar com a escravidão no mundo, nem mesmo o Clark Kent... (risos)
O que o artigo mostra é o fato de a administração 'democrata' dos EUA estar a fazer vistas grossas para essa prática DENTRO DOS ESTADOS UNIDOS, na Virgínia e - pasme! - em Washington, em plena capital do país.
Que em outros países, principalmente os de "cultura" islâmica, isso ocorra, os americanos não podem evitar ou impedir (e talvez, aí sim, possam sequer ter interesse em fazê-lo), mas a condescendência com essa 'escravidão moderna' dentro de casa é algo que deixa os estadunidenses de pelos arrepiados e os conservadores irados em todo o mundo.
Os interesses econômicos de Washington no mundo NÃO DEVERIAM sacrificar os mais sagrados princípios da civilização ocidental, que é o da liberdade individual e o do respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana.
Saudações,
Francisco Vianna
Caro escritor, a anônima assinada Circe (rsrs) , que sou eu , concorda totalmente que escravidão é uma coisa absurda. Seja ela de pessoas ou animais. Entretanto, dentro de uma democracia o cidadão pode escolher ser escravo de uma situação, o que, aliás, é o que há de mais comum pelo mundo inteiro. Pessoas preguiçosas entregam nas mãos dos outros a responsabilidade por administrar as sua vidas. Muitos são escravos por opção e muitos o são por imposição. Os que são por imposição sempre sofrem violencia e merecem ser atendidos urgentemente pelo sistema que os garante o direito de viver como preferem. Abaixo a violencia, isso sim! Se alguém é feliz entregando sua vida a outro, não há o que se questionar.
ResponderExcluirNão entendi muito bem o que quis dizer quanto mencionou os conservadores em todo o mundo arrepiados com as práticas de escravidão nos EU.
Conservadores nos EU (Republicanos) não acabaram com Guantánamo, ao contrário. Obama, democrata, acabou com aquela vergonha.
Escravidão na capital do mundo, NY, data desde muito antes do Obama. Pessoas de classe média compram crianças em países pobres pra fazer delas seus empregados em troca de comida. Só tem uma diferença. Quando a policia descobre, os adultos que compraram as crianças são julgados e presos. Não foi o Obama quem criou todos estes problemas. Ele também não é capaz de resolver a todos em 8 anos. Não entendi o objetivo de apontar tanto pra ele e mencionbar os conservadores do mundo como os preocupadinhos.
Veja a França! Veja o tráfico de mulheres por todo o mundo! Quem não sabe do perigo que é, meninas adolescentes viajarem sozinhas pela Europa? Eu disse Europa, não África o Pápua Nova Guiné, há poucas milhas de um dos países de maior qualidade de vida do mundo, onde mulheres são queimadas como bruxas.
Já ouviu falar em casas onde se paga pra entrar e ter sexo com animais? Sim, ficam na Europa! Pedofilia? Pelo mundo inteiro!
Acho estranho estes conservadores pelo mundo todo apontarem o Obama sem olharem o resto do mundo, sem considerar o simples porém decisivo detalhe de que ‘manda quem pode e obedece quem tem juízo’. Ora, se fosse assim tão simples de se resolver, porque a França tão maravilhosa não resolveu seu problema com os muçulmanos até hoje? Algum medo existe. Mostrar para o mundo ajuda sim. Ajuda a Obama a resolver desde que tenha o apoio da opinião mundial.
A gente ama as pessoas pelo bem que podem nos fazer e respeitamos as pessoas pelo mal que podem nos causar.
Circe, a anônima.
Em tese, concordo com quase tudo o que a "Anônima Circe" (rsrsrsr) disse com muita propriedade. Todavia, quero explicar que Guantánamo não se encaixa no contexto pois não é uma comunidade civil, mas sim uma prisão militar e está fora dos EUA.
ResponderExcluirQuando me refiro aos conservadores (que nos EUA estão no Partido Republicano), entre os quais me incluo apesar de ser brasileiro, quero apenas me reportar às pessoas que, como eu, procuram CONSERVAR os valores civilizacionais judaico-cristãos de nossa cultura.
Não adianta dizer que isso é DIREITA, porque no Brasil ser de Direita é ser contra os intere$$e$ ideológico$ do PT e daqueles que constiuem a sua BA$E ALUGADA (nesse caso, me orgulho em ser 'de direita')...
De resto, acredito que concordamos em que Obama e os "progressistas" estadunidenses não podem resolver todas as mazelas do mundo que a comentarista apropriadamente citou, mas bem que poderia dar o exemplo dentro de casa, mesmo que isso colocasse, como deve ser, os princípios de um país adiante dos seus interesses comerciais...
Um abraço,
VIANNA