Com a prodigalidade de uma
imperatriz, a doutora Dilma anunciou em Adis Abeba que perdoou as dívidas de 12
países africanos com o Brasil. Coisa de US$ 900 milhões. O Congo-Brazzaville
ficará livre de um espeto de US$ 352 milhões.
Quem lê a palavra "perdão" associada a um país africano pode pensar num gesto altruísta, em proveito de crianças como Denis, que nasceu na pobre província de Oyo, num país assolado por conflitos durante os quais quatro presidentes foram depostos e um assassinado, cuja taxa de matrículas de crianças declinou de 79% em 1991 para 44% em 2005. No Congo-Brazzaville, 70% da população vive com menos de US$ 1 por dia.
O repórter José Casado chamou
a atenção para uma coincidência: Em 2007, quando a doutora Dilma era chefe da
Casa Civil, o governo anunciou o perdão de uma dívida de US$ 932 milhões. Se o
anúncio de Adis Abeba foi verdadeiro, em seis anos a Viúva morreu em US$ 1,8
bilhão. Se foi marquetagem, bobo é quem acredita nele.
O Brasil tornou-se um grande
fornecedor de bens e serviços para países africanos, e a Petrobras tem bons
negócios na região. As empreiteiras nacionais têm obras em Angola e na Líbia.
Lá, tiveram uma dor de cabeça quando uma revolta derrubou e matou Muammar
Gaddafi, um "amigo, irmão e líder", segundo Lula. Acolitado por
empresários, seu filho expôs em São Paulo uma dezena de quadros medonhos. Em
Luanda, os negócios vão bem, obrigado, e a filha do presidente José Eduardo
Santos é hoje a mulher mais rica da África, com um cofrinho de US$ 2 bilhões.
Ela tem 39 anos e ele está no poder há 33.
Se o Brasil não fizer negócios
com os sobas, os chineses farão, assim como os americanos e europeus os
fizeram. As caixinhas de Gaddafi para universidades inglesas e americanas,
assim como para a campanha do presidente francês Nicolas Sarkozy, estão aí para
provar isso. Contudo, aos poucos a comunidade internacional (noves fora a
China) procura estabelecer um padrão de moralidade nos negócios com regimes
ditatoriais corruptos.
A doutora diz que "o
engajamento com a África tem um sentido estratégico". Antes tivesse. O que
há é oportunismo, do mesmo tipo que ligava o Brasil ao colonialismo português
ou aos delírios de Saddam Hussein e do "irmão" líbio.
Título e Texto: Elio Gaspari, Folha de S. Paulo, 29-05-2013
Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil,
onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em
2003 por "As Ilusões Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos
na versão impressa de "Poder".
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