sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Acordei um dia em Salvador, e então tomei conhecimento da reeleição de Lula da Silva… Tomei a decisão: (…) Não vou continuar trabalhando para sustentar vagabundo. Já chega!"

Otacílio Guimarães
Escrevinhadores o Brasil tem muitos, estão saindo pelo ladrão. Não sei se você sabe o que é ladrão neste sentido. Se não souber, pergunte que eu explico.  
O que falta no Brasil são homens de ação. Escrever é muito fácil, agir é outra história. Eu agi e agora escrevo. Antes de escrever, eu agi. Por isto estou aqui do outro lado do planeta para não sentir o fedor que exala dos políticos brasileiros.
Não é o caso do professor Geraldo Almendra, que só escreve. Para analfabetos que não sabem interpretar o que lê. Que adianta escrever num país onde somente 10% gosta de ler e sabe interpretar um texto? É perda de tempo e masoquismo. Já li muito o que ele escreve, depois parei, por perceber que o que ele escreve não surtirá nenhum efeito e só serve como desabafo de alguém que está muito angustiado. Eu nunca permiti que a angústia, um sentimento terrível, e muito menos a depressão, tomasse conta de mim. De mim, eu tomo conta.  

29-10-2006, foto: AFP
Acordei um dia em Salvador, Bahia, e liguei a televisão para assistir ao jornal matutino e então tomei conhecimento da reeleição de Lula da Silva. Tomei três decisões:
a) tomar um banho quente para relaxar depois de uma noite curta, pois fui dormir tarde;
b) tomar o café da manhã do jeito de que eu gosto, um café sertanejo com cuscus, carne assada, ovos, coalhada, uma fruta (pode ser uma jaca);
c) esta foi a decisão mais difícil e só a tomei depois de ter fumado um cigarro e revolvido todo o meu passado desde onde pude me lembrar.
Não é fácil tomar a decisão de deixar o país onde você nasceu e viveu a sua vida toda. E eu estava com 62 anos de idade. Fiz contas para descobrir quanto valia o meu patrimônio, analisei se seria fácil vender o imobilizado, pensei para onde ir, e afinal tomei a decisão: não vou ficar nessa merda porque eu não vou continuar trabalhando para sustentar vagabundo. Já chega!
Quatro anos antes eu tinha feito uma viagem aos Estados Unidos e Canadá e houvera descoberto quanto o Brasil é um país atrasado e quanto o seu povo é medíocre. Dois anos depois eu fiz uma viagem à Austrália e Nova Zelândia e descobri que não era tão difícil sair do Brasil e mandá-lo à merda. Eu estava só, viúvo e com as filhas criadas e emancipadas. Tratei de vender tudo o que tinha e decidi ir para a Austrália, um país pelo qual me apaixonei à primeira vista. O processo de mudança não foi tão simples porque a Austrália não admite qualquer um que queira simplesmente emigrar para lá. Tem que ser alguém que, ao chegar lá, possa contribuir com o desenvolvimento do país. Minha idade já tinha estourado, pois a Austrália só aceita imigrantes até 45 anos. Acima disso, só pessoas que consigam provar que têm condições de sobreviver com seus próprios recursos.  
Eu fiz um projeto e comprovei que poderia viver na Austrália como empresário rural criando caprinos, coisa que eu já fazia no Brasil sem ganhar dinheiro, diga-se. O projeto foi aprovado e tive que comprar as terras onde me estabelecer. Escolhi a região de Katherine pois me possibilitava morar em Darwin. O início não foi fácil pois eu não dominava o inglês, mas um brasileiro que já morava em Darwin havia dez anos, o José Afonso, muito me ajudou. Não dá para contar tudo o que aconteceu depois num e-mail como este, portanto, resumo contando-lhe como foi minha viagem de saída do Brasil até a Austrália. 


Embarquei num avião da South Africa em Guarulhos com destino a Johanesburgo, África do Sul, num vôo noturno. Enquanto o avião cruzava o Atlântico sul, eu olhava para as estrelas lá no firmamento e meditava. Não consegui dormir durante a viagem e desembarquei em Johanesburgo no início da manhã e fiquei esperando um vôo da Qantas que me levaria a Perth. Três horas depois estava novamente no ar cruzando o Índico e cerca de uma hora e meia depois estava sobrevoando Mandagascar, cuja visão me impressionou, pois o dia era claro, sem nuvens. Começamos então a cruzar o Índico rumo a Perth. Exausto, eu dormi durante toda a viagem e só acordei quando o avião já estava no terminal.  
A conexão da Qantas para Darwin foi rápida, levou cerca de uma hora, e embarquei novamente para o meu destino final, Darwin. Descansado após algumas horas de sono, pedi para um passageiro trocar de lugar comigo e fui para uma poltrona na janela de onde poderia apreciar a imensidão do deserto. Foi ai que eu tomei consciência da decisão que havia tomado e isto me causou uma sensação de auto respeito que jamais havia experimentado antes. Pensei: seja o que Deus quiser. Vai dar tudo certo.
E deu. Deu muito trabalho, mas deu certo.

Hoje, aqui em Alice Springs, onde estou com minha esposa e amiga descansando e passeando pelo magnífico deserto australiano, minha mente retorna àqueles dias decisivos que exigiram de mim a decisão extrema de escapar de um lugar que eu previra iria se transformar num inferno sob o domínio de comunistas. Foi a decisão mais acertada da minha vida. Tudo o que aconteceu depois considero recompensas pelos momentos de preocupações e angústias ao longo de décadas que vivi no Brasil. Não quero ser injusto, pois houve momentos da minha vida no Brasil em que me sinti feliz, mas isto graças a pessoas que conheci, como a minha saudosa primeira esposa, filhas e inúmeros amigos.  
Espero e desejo sinceramente que o Brasil dê a volta por cima, pois é um país muito lindo.  
- Ei, Tate (é assim que a Naomi me chama), quando vamos conhecer o Pantanal?
- Ano que vem, prometo.  
- Sabe, eu gostei muito do Rio de Janeiro, mas o Pantanal...
- Vou te levar lá, e vou te levar à Chapada Diamantina, um lugar fantástico.  
Sabe, amigo Jim, tudo pode ser resolvido, menos a saudade que você sente de alguém ou de um lugar.  
Um grande abraço,
Otacílio Guimarães, 31-05-2013

Pantanal. Foto: Daniel de Granville
Chapada Diamantina

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