quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Rússia envia armas à Síria e tenta ratificar seu papel na região

Francisco Vianna
Moscou atendeu a uma encomenda de armas feita pelo exército sírio para que enviasse “o mais rápido possível”, uma expressiva quantidade de armas de guerra suficiente para manter uma longa e cansativa batalha contra os insurgentes na guerra civil que vitima o país. A estatal russa exportadora de armas, a ROSOBORONEXPORT (Birô Russo de Exportação), enviou cerca de vinte mil rifles Kalashnikov com 20 milhões de cartuchos de munição, metralhadoras, lançadores de granadas, granadas de mão e rifles com mira de visão noturna.

Além da quantidade impressionante de civis mortos e refugiados, as cidades sírias estão devastadas por uma guerra civil de caráter religioso entre uma minoria alauita e uma maioria sunita.
O arsenal é capaz de manter o combate diário e contínuo contra as forças rebeldes por um tempo bastante prolongado e é composto de material e armamentos usados nas batalhas diárias desta longa e genocida guerra civil de uma minoria alauíta contra uma maioria sunita, o que faz supor que muita gente ainda vai morrer “em nome de Deus” neste hoje miserável país em se tornou a Síria.
Quanto à Rússia, o envio de armas e munições é mais do que apenas um “negócio” de exportação e representa uma tentativa de reafirmar sua influência e papel hegemônico na região, que na prática é como um convite às potências ocidentais a fazer o mesmo em favor dos rebeldes que lutam contra o regime de Damasco. Se isso realmente ocorrer, teremos um envolvimento bélico sem precedentes que poderá engolfar todo o Oriente Médio num conflito não declarado onde os vendedores de armas têm grandes chances de nunca receber de seus ‘clientes’ o respectivo pagamento, num cenário em que a teocracia islamofascista do Irã a tudo assistirá com indisfarçável satisfação, sem enviar um persa sequer para a luta ou uma arma que seja para engrossar a carnificina.
Além do material bélico convencional ‘exportado’ por Moscou, seguiram também as avançadas bases móveis de lançamento de mísseis defensivos antiaéreos S-300, prometidos pelo governo russo ao longo da semana passada.
Tudo isso ocorre em meio às citadas expectativas de que uma conferência internacional conjunta, proposta pelos EUA, possa levar a uma negociação capaz de por termo, politicamente, à guerra civil síria. Tal conferência, no entanto, só existe no terreno das hipóteses, uma vez que ainda não tem data para ser realizada e talvez não haja interesse real das partes em levá-la adiante. Apesar de tudo, fala-se em realizá-la até meados de julho, quando talvez já possa ser tarde demais para se evitar uma ampliação perigosa do conflito, no qual a OTAN e os países ocidentais relutam em participar diretamente, limitando-se a agir como a Rússia, só que enviando armas e logística para os rebeldes insurgentes.
Líderes da oposição síria, por sua vez, questionam quem os representaria nessa reunião ou mesmo se algum deles compareceria a ela, embora, o governo sírio esteja dizendo, atraves de seu Ministro do Exterior, que “compareceria a ela com a melhor das intenções”. Entrementes, todos os lados envolvidos reavaliam suas perspectivas quanto ao futuro do país e os rumos do próprio conflito fratricida.
Quanto ao Ocidente, a Grã-Bretanha e a França estarão à vontade para armar os rebeldes sírios se assim desejarem, enquanto lutam para levantar um embargo da União Europeia que expira na sexta-feira de amanhã. O governo Obama, que por enquanto se mantém for a do fogo, está propenso a começar a enviar ajuda letal para as forces de oposição ao regime de Assad.
Na vizinhança, o Qatar e a Arábia Saudita, junto com alguns ricaços do Golfo Pérsico já gastaram milhões em armas em prol de diversos grupos rebeldes.
O Irã começou a enviar suprimentos na área de tecnologia, equipamento e pessoal especializado para auxiliar o governo sírio, que conta também com a participação de um considerável contingente do grupo terrorista do sul do Líbano, o Hezbollah, um cliente do Irã e da Síria na luta contra Israel.
Todavia, nenhuma força externa tem tido um envolvimento tão consistente na Síria como a Rússia, que tem servido a Damasco como principal fornecedor de armas, como já havia feito anteriormente com o governo do pai de Assad.
Obama tem dito que Assad deve renunciar, e uma grande quantidade de autoridades americanas, em nome de preocupações humanitárias, tem instado Moscou a ficar fora do caminho ao longo do processo, ao invés de perigosamente, intervir nele e com isso proporcionar uma ampliação do mesmo na região, com limites e consequências incalculáveis.

2 comentários:

  1. Acho super irônico, a UE fornecer armas para os rebeldes e continuar a embagar o governo. A intenção da UE é absurdamente óbvia. Assad cai e quem sobe no poder? os Fanáticos Islamistas? antes um Assad do que esses terroristas fantoches.

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  2. O estado sírio é apenas aparentemente laico, porque é formado por uma minoria religiosa alawita (ou alauíta) em contraposição a uma maioria sunita.
    O fato da dinastia Al Assad "proteger" as outras minorias religiosas faz com que essas minorias sejam vistas pela maioria sunita como inimigas ou amigas de Damasco. Por isso a maioria dos cristãos (maronitas) já se mandou de lá e se estabeleceu no norte do Líbano onde, agora estão vivendo uma "paz tensa" entre a cruz e a caldeirinha, ou seja, entre a ameaça sunita do norte e a ameaça fundamentalista do Hezbollah do sul do Líbano.
    O fato é que, mesmo posando de estado laico, a dinastia Assad se tornou aliada do Irã em seus propósitos antissemitas e antissionistas servindo de passagem facilitada pelo seu território de armas para a luta jihadista do Hezbollah contra o povo israelense.
    Israel, por sua vez, prefere - e tem dito isso diversas vezes - a ditadura alauíta de Assad do que um regime imposto pela fundamentalista Irmandade Islâmica onde o Hezbollah teria um papel preponderante.
    Netaniahu tem dito também que, todavia, é muito mais fácil declarar uma guerra regular contra um país qualquer (no caso uma Síria fundamentalista islâmica) do que ficar combatendo assimetricamente grupos terroristas como faz com o próprio Hezbollah e o Hamas.
    E´ importante saber o que de fato há por trás dessa pretensa laiciedade do estado sírio. Não fosse o sectarismo disfarçado mas intenso dos alawitas no poder, al Assad já teria trazido para a mesa de negociação há muito tempo as principais lideranças sunitas para compor com elas um governo de algum consenso básico capaz de evitar a destruição em curso do país.
    A quem não interessa isso? Basicamente aos persas (iranianos). A Rússia entra como oportunista nesta estória e pode criar um barril de pólvora sírio com sinistros desdobramentos globais para o futuro deste pequeno planeta azul...
    Um abraço,
    Francisco Vianna

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