quinta-feira, 30 de maio de 2013

A mosca do poder

José Luís Seixas

Ao assistir às ululantes manifestações adornadas por saraivadas de insultos contra os titulares de cargos políticos, atingindo-os a esmo, sem seleção nem critério, não posso deixar de refletir o que levará alguém, com a sua vida organizada, a sujeitar-se a tudo isto. Acredito que a cupidez pelo poder mobilize alguns, como a inocência e o sentido do bem comum estimule outros. Até acredito que genéticas inclinações para comportamentos de risco determinem alguns. Compreendo que as frustrações coletivas irrompam neste tipo de atitudes grupais, em que o uníssono coletivo injuria o Presidente da República, primeiro-ministro, ministros e deputados. As excitações contagiam-se e o berro comum desresponsabiliza todos os intervenientes no eco em que se traduz. É a lógica das multidões.Mais difícil de perceber são posições assumidas por individualidades com notoriedade no espaço mediático e decorrentes obrigações na formação da denominada “opinião pública”. O que se ouve e lê em comentários e entrevistas ultrapassa a crítica e atinge diretamente o coração do regime. Podemos apodar quem nos governa de incompetentes – e há muitos –, de néscios – e alguns encontraremos –, de pouco esclarecidos – e até os poderíamos enumerar – e de outras observações e comentários contundentes e brutais. Mas daí até à ofensa à honra, à difamação ou à calúnia vai um passo de gigante. E é precisamente esse passo que pode empurrar o regime pelo precipício à beira do qual se vai colocando. Além da inaceitável sobranceria de se pensar que aqueles que elegemos são piores do que nós…
Título e Texto: José Luís Seixas, Destak, 29-05-2013

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