Pode em Portugal um presidente ou um governo não serem socialistas?
Pode mas não deve. Porque tal é uma coisa muito cansativa (demais a mais se o
dito Presidente se chamar Cavaco Silva e portanto se obstinar primeiro em
derrotar os socialistas e em seguida, com igual afinco, em desconcertar aqueles
que o elegeram).
Em Portugal, as instituições e
a História são respeitadas se de alguma forma se conseguir fazer uma leitura de
esquerda dos factos e dos respectivos protagonistas. No mais é para abater,
caluniar ou atirar para baixo do tapete. E é válido tanto para a nossa História
- demorámos anos para conseguir falar do fenómeno dos retornados pois nesse
caso o papel dos heróis possíveis era no mínimo indigente - como para a eleição
de um Papa: de repente, o Papa Francisco tornou-se um herói inspirador pois nas
suas intervenções foi detectada pela esquerda uma crítica ao capitalismo e
quiçá a este fantasma a pedir a intervenção dos novos exorcistas que dá pelo nome
de neoliberalismo. No dia em que o Papa disser algo que não se enquadre na
cartilha progressista, o Vaticano voltará num ápice a ser visto como um estado
absoluto, misógino e portanto a erradicar da convivência das nações.
O cúmulo do ridículo desta
identificação entre os líderes e o Estado surge na expressão "tempo de
Salazar" para anatemizar leis, procedimentos, opiniões ou simples questões
de gosto - durante anos o fado era do "tempo de Salazar" - e os
autores dos ataques às fazendas em Angola no ano de 1961 quase acabavam heróis
libertadores porque tinham atacado, violado, decapitado e esventrado
portugueses no "tempo de Salazar".
Do predomínio da esquerda em Portugal resulta que as instituições só se respeitam quando a esquerda está no poder. Deste fenómeno é particularmente representativa a mudança que se opera na imprensa portuguesa de 1975 afecta ao PCP e à esquerda revolucionária (que então era quase toda): a dado momento as eleições livres e o parlamento pluripartidário que tinham começado por ser apresentados como a grande conquista do golpe militar de 25 de Abril de 1974 passam a ser desprestigiados e desvalorizados face à dinâmica revolucionária da rua. O que levara a esta alteração: os fraquíssimos resultados eleitorais do PCP e do MDP. Como se sabe a Assembleia acabou cercada e não fosse o facto de o PS ser indiferente às acusações de que defendia a democracia burguesa e ter-se aliado com aquele povo que de forquilhas na mão atacava as sedes comunistas, o CDS e sobretudo o então PPD ainda hoje estariam a discutir se deviam ou não defender a alienada e burguesa maioria eleitoral versus a inquestionável maioria sociológica de esquerda.
Do predomínio da esquerda em Portugal resulta que as instituições só se respeitam quando a esquerda está no poder. Deste fenómeno é particularmente representativa a mudança que se opera na imprensa portuguesa de 1975 afecta ao PCP e à esquerda revolucionária (que então era quase toda): a dado momento as eleições livres e o parlamento pluripartidário que tinham começado por ser apresentados como a grande conquista do golpe militar de 25 de Abril de 1974 passam a ser desprestigiados e desvalorizados face à dinâmica revolucionária da rua. O que levara a esta alteração: os fraquíssimos resultados eleitorais do PCP e do MDP. Como se sabe a Assembleia acabou cercada e não fosse o facto de o PS ser indiferente às acusações de que defendia a democracia burguesa e ter-se aliado com aquele povo que de forquilhas na mão atacava as sedes comunistas, o CDS e sobretudo o então PPD ainda hoje estariam a discutir se deviam ou não defender a alienada e burguesa maioria eleitoral versus a inquestionável maioria sociológica de esquerda.
Ora, actualmente, temos um problema: o PS única força capaz de conter a
esquerda radical não está no Governo, coisa que até agradece, mas também não
está na Presidência da República, coisa que não perdoa pois a PR, sobretudo
após a transferência de Macau para a administração chinesa, passou a ser
entendida como um reduto intocável do jacobinismo socialista. E assim,enquanto a esquerda jacobina não se
sentar na cadeira que acha sua por direito natural e histórico, vamos assistir
ao aumento da agressividade da esquerda radical contra as instituições e
aqueles que as representam.
No bendito dia em que os votos
voltarem a confirmar os vencedores naturais, os narizes de palhaço ficam no
fundo das gavetas, os jornalistas que agora estão muito indignados voltarão, à
semelhança do que fizeram em 1996 com Rui Mateus, a tratar como traidores
aqueles que então questionarem o PR e a direita viverá feliz porque finalmente
há respeito.
Título e Texto: Helena Matos, Ensaísta, Diário Económico, 28-05-2013
“Em Rio Maior, assalto e
destruição de sedes locais do PCP e da FSP. Esta acção foi considerada como o
início da escalada anticomunista do 'Verão Quente', e ainda que já
anteriormente se tivessem verificado agressões contra militantes de esquerda, a
partir daqui passou a verificar-se a planificação sistemática das acções. (JSC).
Julho de 1975”
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