segunda-feira, 15 de julho de 2013

É complicado!

Suzana Toscano
O que parece é que nos tornámos especialistas em problemas, não sei se já repararam mas uma das expressões que mais se ouve é "é complicado". Descreve-se um acontecimento, e "é complicado", faz-se uma reportagem na rua e as pessoas acabam sempre com a frase "é complicado" pergunta-se aos alunos se o exame correu bem e eles hesitam, procuram as palavras e lá vem "é complicado". A síntese da moda centra-se no problema, na dificuldade, e nunca na solução que possa antever-se. De certa forma, não se fecha o assunto, fica assim em suspenso o desfecho, ser "complicado" desculpa que ainda se esteja assim, sem saber, sem decidir, mas permite que se acentue uma angústia em relação a quem deveria vir em socorro do aflito mas que o deixa ali, na complicação, tão enredado na circunstância negativa que levou à notícia e sem saber como há-de sair dela.

Ouvir a comunicação social com todo o vasto leque de quem se quer pronunciar sobre o que nos vai afligindo mostra de facto esta nossa incongruência. Sorvemos avidamente as notícias, especamos em seguida a ver e ouvir tudo o que nos possa trazer alguma luz e nicles, é só os problemas, vistos de todos os ângulos, de todas as motivações, expostas as suas sombras mais sombrias e as suas luzes mais encadeantes, ao fim de umas horas os problemas aumentaram e tornaram-se inevitavelmente insolúveis, tantos e tais são os seus cambiantes e as armadilhas que escondem as hipotéticas soluções. A conclusão é sempre segura: faça-se o que se fizer, é sempre "complicado" mas, a não se fazer nada, então aí a parada sobe e pode ser mesmo "criminoso".

O desporto nacional parece ser, por esta ordem, o de dar a conhecer os problemas (informar), seguido da demorada explicação do mesmo, sua génese, extensão, consequências, culpados, vítimas, etc., (análise e comentário) segue-se uma fase menos agitada enquanto se aguarda que alguém se lembre de arriscar um movimento na direcção da solução (alívio, durante a qual cada um espera o momento de poder vir a terreiro dizer que tinha razão) e, finalmente, o movimento, qualquer que ele seja ou mesmo que não seja mas que podia muito bem ter sido (informar de novo).
Aí, haja Deus, renovam-se e acrescentam-se os "complicados". Se a decisão é prudente e dá azo a movimentos sequenciais, aqui d'el rei, que devia ter sido definitiva e não dar quaisquer hipóteses ao problema. Se, pelo contrário, é decisiva, ai, ai, como é que se sabe se não teria sido melhor de outra maneira? Nesta fase, o écran enche-se de corajosos, de arriscados, de duvidosos, de elaborados, de argumentativos, de uma miríade de gente que teria sido bem capaz de escolher a decisão certa desde que não fosse a que foi tomada. De repente, o problema está na decisão, seja ela qual for, em tudo o que certamente comporta, comportaria, comprtará, talvez, mas, porém, todavia, contudo, desde que, complicações evidentes que, claro, as decisões alternativas evidentemente não comportariam. Desde que não fossem tomadas, claro. Reconheçamos: é complicado!
Título e Texto: Suzana Toscano, no blogue “4R – Quarta República”, 15-7-2013

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