Para tirar não precisou muito.
Nem tempo, nem assinaturas, nem personagens – jamais saberemos o número certo.
E o comunicado também foi um só: A
partir de hoje ficam reduzidos os pagamentos do Aerus a oito por cento na
maioria dos casos. Pensionistas não herdam nada, deixam de ser pensionistas
– o que significa que além de receber uma merreca de sua própria poupança
previdenciária, o aposentado ou aposentada tem de ralar para continuar vivo,
pois seus dependentes também são caloteados por tabela. O mesmo destino trágico
desaba sobre os desempregados que, de repente, ficam como aquelas pessoas que
os erros da burocracia de cartórios, vez por outra, declaram mortas: Não
existem, não podem nem vender algum resquício de posses, não podem arrumar
emprego e só são trazidos de volta à vida para pagar impostos.
Este é o desenho sinistro, o
retrato macabro de um “governo” que só se sustenta pela máquina da propaganda,
que desfaz mais do que faz, que desenterra ossos do passado e enterra o futuro
da nação. Aliás, pode-se dizer que é sua especialidade enterrar quem está vivo
– e reclamando por direitos usurpados – e desenterrar os mortos que sirvam aos
seus propósitos. Enterraram uma Varig cambaleante sim, mas não morta e ainda
gerando divisas e empregos no país. Para desenterrar um empresário picareta –
que já se afundou financiado com dinheiro dos brasileiros - mas é amigo do
“rei”, torram-se bilhões de reais, centenas de vezes mais do que a Varig
precisava para não ser enterrada viva.
Há quase oito anos, os que se
recusam a ser enterrados lutam pelo seu direito à vida.
Contra os variguianos se podem
armar as maiores safadezas, mas não se pode desmenti-los. Não se pode negar – e
nem o “governo” nega mais – que o golpe contra eles, contra a Varig, contra o
Aerus, tem as marcas das digitais e das patas de muita gente que ainda manda
muito nesse país. Como não podem mesmo negar, anunciam promessas aqui e ali, de
negociações aqui ou acolá, para, em seguida, numa sucessão escandalosa de
procrastinações, adiarem mais uma vez pela falta de uma assinatura de algum
magano da república, ou a falta de um detalhe qualquer que… não se preocupem,
estamos sensibilizados e blá-blá-blá…
É uma repetição dolorosa de
mentiras que chegam ao desplante de apontar a devolução de nossa aposentadoria
como ameaça aos cofres da “União”. Que o digam os picaretas recebendo diárias
de mais de 450 dólares para visitar a ONU e o Congresso americano, este sim com
C maiúsculo, onde eventualmente também se corrompe, mas também se pune na justa
medida.
Nesta semana perdemos mais um
colega, o Comissário Guerreiro, com quem tive a alegria de voar inúmeras vezes.
Mais um que se soma a essa maldita rotina de perdas irreparáveis. Mas, não,
falecer o Guerreiro, ex-funcionário da Varig não comove quem fica “tuitando”
simpatias e condolências por mensaleiros condenados no STF.
Esse é o caminho, caros
colegas e amigos da Varig, que nos levará ao oitavo Natal de penúrias e
decepções, para usar termos razoavelmente modestos. Este é o caminho – o modus operandi de como se retiram os
direitos de trabalhadores honestos e depois, quando não se pode mais continuar
mentindo, passam a criar obstáculos cada vez menos sustentáveis, mas ainda
assim extremamente danosos a pessoas honestas que só cometeram o erro de trabalhar
e acreditar na inviolabilidade de contratos.
É natural esperar que, se – e
quando – essa encrenca for finalmente resolvida, as pessoas venham a sentir-se
gratas, e eu não sou diferente. Mas serei grato de uma forma bastante seletiva
e limitada. Serei grato a Deus acima de tudo, depois à minha família e amigos e
colegas de luta, bem como aos poucos políticos e jornalistas que não fizeram
ouvidos de mercador ao nosso drama. Mas não praticarei em hipótese alguma
agradecimento com meu título de eleitor.
Fé e Esperança
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 21-11-2013
Grifos: JP
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Milena