quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Eles só sabem tomar

José Carlos Bolognese
Para tirar não precisou muito. Nem tempo, nem assinaturas, nem personagens – jamais saberemos o número certo. E o comunicado também foi um só: A partir de hoje ficam reduzidos os pagamentos do Aerus a oito por cento na maioria dos casos. Pensionistas não herdam nada, deixam de ser pensionistas – o que significa que além de receber uma merreca de sua própria poupança previdenciária, o aposentado ou aposentada tem de ralar para continuar vivo, pois seus dependentes também são caloteados por tabela. O mesmo destino trágico desaba sobre os desempregados que, de repente, ficam como aquelas pessoas que os erros da burocracia de cartórios, vez por outra, declaram mortas: Não existem, não podem nem vender algum resquício de posses, não podem arrumar emprego e só são trazidos de volta à vida para pagar impostos.


Este é o desenho sinistro, o retrato macabro de um “governo” que só se sustenta pela máquina da propaganda, que desfaz mais do que faz, que desenterra ossos do passado e enterra o futuro da nação. Aliás, pode-se dizer que é sua especialidade enterrar quem está vivo – e reclamando por direitos usurpados – e desenterrar os mortos que sirvam aos seus propósitos. Enterraram uma Varig cambaleante sim, mas não morta e ainda gerando divisas e empregos no país. Para desenterrar um empresário picareta – que já se afundou financiado com dinheiro dos brasileiros - mas é amigo do “rei”, torram-se bilhões de reais, centenas de vezes mais do que a Varig precisava para não ser enterrada viva.

Há quase oito anos, os que se recusam a ser enterrados lutam pelo seu direito à vida.
Contra os variguianos se podem armar as maiores safadezas, mas não se pode desmenti-los. Não se pode negar – e nem o “governo” nega mais – que o golpe contra eles, contra a Varig, contra o Aerus, tem as marcas das digitais e das patas de muita gente que ainda manda muito nesse país. Como não podem mesmo negar, anunciam promessas aqui e ali, de negociações aqui ou acolá, para, em seguida, numa sucessão escandalosa de procrastinações, adiarem mais uma vez pela falta de uma assinatura de algum magano da república, ou a falta de um detalhe qualquer que… não se preocupem, estamos sensibilizados e blá-blá-blá…

É uma repetição dolorosa de mentiras que chegam ao desplante de apontar a devolução de nossa aposentadoria como ameaça aos cofres da “União”. Que o digam os picaretas recebendo diárias de mais de 450 dólares para visitar a ONU e o Congresso americano, este sim com C maiúsculo, onde eventualmente também se corrompe, mas também se pune na justa medida.

Nesta semana perdemos mais um colega, o Comissário Guerreiro, com quem tive a alegria de voar inúmeras vezes. Mais um que se soma a essa maldita rotina de perdas irreparáveis. Mas, não, falecer o Guerreiro, ex-funcionário da Varig não comove quem fica “tuitando” simpatias e condolências por mensaleiros condenados no STF.

Esse é o caminho, caros colegas e amigos da Varig, que nos levará ao oitavo Natal de penúrias e decepções, para usar termos razoavelmente modestos. Este é o caminho – o modus operandi de como se retiram os direitos de trabalhadores honestos e depois, quando não se pode mais continuar mentindo, passam a criar obstáculos cada vez menos sustentáveis, mas ainda assim extremamente danosos a pessoas honestas que só cometeram o erro de trabalhar e acreditar na inviolabilidade de contratos.

É natural esperar que, se – e quando – essa encrenca for finalmente resolvida, as pessoas venham a sentir-se gratas, e eu não sou diferente. Mas serei grato de uma forma bastante seletiva e limitada. Serei grato a Deus acima de tudo, depois à minha família e amigos e colegas de luta, bem como aos poucos políticos e jornalistas que não fizeram ouvidos de mercador ao nosso drama. Mas não praticarei em hipótese alguma agradecimento com meu título de eleitor.
Fé e Esperança
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 21-11-2013
Grifos: JP


Relacionados:

Um comentário:

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-