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Proclamação da República, óleo sobre tela, 1893, Benedito Calixto |
Muito para lá do que todos conhecem e que aconteceu neste dia em 1889, a
proclamação da República Brasileira nos faz chegar a uma outra comemoração.
Esta, nós também não vamos mais esquecer e não vai estar em nenhum livro
de história, porque estará marcada em nossas vidas e nas dos nossos
dependentes, como uma mancha vergonhosa e indelével
É a proclamação oficial da nossa indigência.
Há três meses, nos foi oferecido pelo governo um formal de acordo em
relação ao AERUS com toda a pompa que é de praxe a estes momentos.
De lá para cá, e parece que a palavra exata "formal", não era
aquilo exatamente o que pensávamos, ou seja, uma proposta entre partes e
devidamente consubstanciada por fatos e sentenças jurídicas já
conhecidas.
Evidentemente que o governo ao nos chamar para um acordo estava ciente
de que será perdedor nas várias áreas em que foi sentenciado, e joga com um
acordo para ter uma vantagem enorme nessa negociação.
Isto está claro.
Também a esta altura ou três meses após, estão claros os objetivos
a que se propuseram. Nos enrolar com promessas de toda a espécie, empurrando
sempre as datas, com a finalidade precípua de não realizar nada este ano e
postergar não se sabe para quando este crime contra pessoas idosas.
Esta semana mais dois candidatos à indigência, se foram, aumentando para
11 o número de pessoas falecidas desde o dito anúncio governamental.
Ao que tudo indica o "formal", com a troca de uma simples
letra acabou sendo transformado naquele líquido tóxico que todos conhecem e que
nos conserva em estado aparentemente normal.
Estamos literalmente sendo mantidos pelo governo em uma substância
de "formol psiquiátrico", para que aos olhos da população
pareçamos estar em estado íntegro.
Nos últimos seis meses, grupos de idosos já tomaram atitudes, desde
invasões, a greves de fome, com avanços significativos nas
negociações.
Hoje, pelo menos é público e através de Senadores que nos prestigiam, a
opinião pública conhece a irresponsabilidade da União e o que estamos passando,
fatos até então desconhecidos, enquanto se esperava pelo Judiciário, e não se
tomou nenhuma atitude contundente.
Hoje nós temos uma proposta de acordo, oferecida nada mais, nada menos
do que pela presidente desta República que hoje aniversaria. E não é
pouco, pois é uma responsabilidade assumida pela mais alta mandatária deste
país e tem que ser cobrada, com todas as forças de que dispomos.
Cada vez que nos acomodamos com novas perspetivas de realização, essa
mensagem é entendida por eles como um passaporte à postergação.
Faltam, a partir de hoje exatamente 40 dias para o Natal e, preto no
branco, ou tomamos uma atitude agora, ou não vai ter Natal, outros, quiçá nós,
vão morrer e, possivelmente jamais vão fazer acordo, baseados que estão em
nossas fragilidades, em nossas deficiências, porquanto acham que estão
lidando com velhos.
Mas eles se enganam, pois apesar da idade nem todos como eles acham, são
velhos e a capacidade de reagir é forte e sobre-humana.
É claro que não vamos cometer incivilidades, que talvez seja isso que querem,
para achar mais um bode expiatório para não nos pagar.
As incivilidades são protagonizadas por eles, os responsáveis
pelo fato, a cada postergação da assinatura do acordo, não por nós.
Todos, com lideranças ou não, têm o seu livre arbítrio para
protestar da forma como quiserem.
Eu exerço a minha cidadania, dentro de uma civilidade que os incomoda,
ou seja fazendo-os passar vergonha no cenário mundial.
Isto para eles e em um ano eleitoral pode significar a sua morte
política.
É exatamente aqui que os podemos fazer cumprir as suas promessas,
porque se promessa é dívida vamos cobrá-las, custe o que custar.
Venho esperando há um mês para iniciar uma terceira greve de fome
e só ainda não a iniciei por estar respeitando o protocolo assumido
inter-partes.
Mas o tempo está se estendendo em demasia, a minha paciência está se
esgotando e quem não está respeitando o protocolo, são os responsáveis
indicados pela presidente para o fazer.
Não admito de forma alguma que a minha indigência seja
oficializada.
Aos que não concordam comigo, lamento, mas os meus
67 anos de vida, 55 de trabalho e contribuição com impostos ao país não me
sinalizam para pensar de outra forma.
Aos que ficam em casa, que podem fazer algo, mas
continuam achando que sou seu representante, a minha tristeza e o meu
desapontamento.
Título e Texto: José Manuel,
ex-tripulante Varig, 67 anos, 15-11-2013
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