quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O custo ao cidadão, e a falta de horizontes (a cidade, a ponte, o trem e os fundos de pensão)

José Manuel
O maior oleoduto do mundo estará pronto ainda em 2014 e ligará a Rússia, maior produtor de petróleo do mundo desde 2009 e a China, maior consumidor do produto desde 2010. São 4 mil e setecentos quilômetros de tubulação a céu aberto.

A sua versão submarina, com mil e duzentos quilômetros liga a Noruega ao Reino Unido, em tubos de um metro de diâmetro.  São obras perfeitamente exequíveis, mas  com um planejamento impecável, bastando para isso vontade política, e os que as realizaram, a tem de sobra.

A distância em linha reta de São Paulo à maior bacia hidrográfica do mundo em densidade de água, não passa de 2 mil e seiscentos quilômetros.
O Brasil detém 64,88 % da bacia amazônica em seu território.

Só o rio Amazonas possui uma descarga média final ao oceano, no valor de 175.000 m3/s . É tão descomunal que a água do mar é doce por vários quilômetros além da desembocadura. O rio Amazonas descarrega no oceano atlântico 20% de toda a água doce que chega aos oceanos.

A bacia amazônica é o maior sistema de água doce do mundo, com 7 milhões de Km2 de drenagem, uma fonte praticamente inesgotável pela convergência de dez dos maiores rios do mundo e as chuvas da zona do equador, além  do aporte de água da cordilheira dos Andes.

A CIDADE

São Paulo, é a cidade mais populosa do Brasil, do continente americano e de todo o hemisfério sul. O complexo de metrópoles em seu entorno, que se denomina complexo metropolitano expandido, ultrapassa hoje 30 milhões de habitantes ou 75% da população do Estado. 

É a primeira megalópole do hemisfério sul e está à beira de um colapso em seu abastecimento de água. Além de afetar diretamente a vida dos cidadãos e da rotina de instituições como hospitais e escolas, a falta de água poderá prejudicar o complexo industrial, já que o setor demanda grande quantidade de água para o seu funcionamento. Os prejuízos poderão se traduzir na queda da produção e de empregos, aumentando a paralisia econômica do Estado.

O custo da arena Corinthians ou como é popularmente chamada, Itaquerão, foi superior a um bilhão de reais e que provavelmente recairão nos ombros da população. Esse mesmo custo daria para fazer vários sistemas de captação de água, inclusive da bacia amazônica, 2.600 Km ao norte, para que essa mesma população nunca tivesse a falta desse precioso liquido em suas torneiras e a cidade de São Paulo que não pode parar pois é o motor do Brasil, não seja passível de uma verdadeira tragédia, ficando refém e apenas na dependência de fatores climáticos favoráveis.

A PONTE
Em 04 março 1974, a ponte Rio-Niterói era inaugurada ligando as duas cidades e com uma extensão de 13.290 metros era à época a terceira maior do mundo.
Hoje, 40 anos depois, caiu para 11º lugar no ranking internacional de extensão, sendo que a maior se localiza na cidade de Quigdao, China, e tem 42 km sobre o mar.
A nossa, sobre a baía de Guanabara, no primeiro ano atingiu a marca de 20 mil veículos por dia.

Hoje, quando o movimento já ultrapassa os 150 mil veículos dia, seus operadores preferem vê-la como uma grande rua unindo duas cidades.
Talvez seja essa, a mesma impressão dos usuários, que padecem diariamente nos horários de pico, levando quase o mesmo tempo para atravessá-la do que os antepassados do tempo das barcaças.
A razão para isso, foi a falta de visão a futuro, pois essa ponte já à época, não tão distante, poderia ter sido feita com mais duas pistas de rolamento, nos dois sentidos e visando as condições atuais.

Quando acontece um acidente por exemplo no sentido Rio, a cidade de Niterói entra em caos e permanece completamente paralisada em seu trânsito por muitos  quilômetros. Caso ocorra o contrário, é a cidade do Rio que sofre um engarrafamento monstruoso.

Atravessar essa ponte hoje, além de um eterno exercício de paciência, é um verdadeiro desafio para quem trabalha nas duas cidades a que ela serve, pois o acordar extremamente cedo e o chegar muito tarde é o resultado mais palpável dos erros de seu planejamento.

O TREM
A ferrovia Qinghai-Tibete tem uma extensão de 1.956 km e a construção foi um grande desafio para assentar mais de 1.000 km de trilhos em lugares remotos, escavar 7 túneis, construir 675 pontes e 45 estações em uma altitude acima dos 4.000 metros.

Foram investidos US$ 3,68 bilhões e usados 20 mil trabalhadores, 2 mil paramédicos, profissionais que durante cinco anos dessem forma à ferrovia mais alta e extrema do mundo. Para se ter uma ideia, a esta altitude as cabines do trem são pressurizadas e existe um fornecimento contínuo de oxigênio para evitar o desconforto.

A copa Fifa 2014 custou ao Brasil uma cifra acima de  R$ 30 bilhões, e as arenas após o término da referida copa, não conseguem preencher mais do que 30% de sua disponibilidade.

O TAV  (trem de alta velocidade ou trem bala) entre Rio e São Paulo, a principio estimado em  R$ 33 bilhões ou US$ 14 bilhões ou quatro vezes mais que o Chinês, para um percurso de 500 km, ou também quatro vezes menor do que a ferrovia Chinesa e sem os problemas imensos que  eles tiveram para a construir.


No quesito altitude, o nosso em nenhum momento alcança a cota de 500 metros acima do mar, não saiu ainda do papel e a preferência foi dada ao futebol, em detrimento dos dois centros econômico-culturais  mais importantes do país.

OS FUNDOS DE PENSÃO
No mundo moderno, nas sociedades mais avançadas economicamente, os fundos de pensão são instrumentos poderosos de geração de riqueza e poupança interna. Vejamos o que diz a lei sobre o assunto aqui no Brasil:

As entidades fechadas de previdência complementar  (fundos de pensão) são organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos e são acessíveis exclusivamente, aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes denominados patrocinadores ou aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial denominados instituidores. As entidades de previdência fechada devem seguir as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, por meio da resolução 3.121, de 25 de setembro de 2003, no que tange à aplicação dos recursos dos planos de benefícios. Também são regidas pela lei complementar 109, de 29 de maio de 2001.

A geração de um volume mínimo de poupança interna de forma continuada é um dos principais fatores de sustentabilidade do crescimento de uma economia. Esta poupança viabiliza os investimentos, que são canalizados ao setor produtivo por meio do sistema financeiro. Nesse contexto, devido à magnitude das somas administradas, os investidores institucionais, agrupados em fundos mútuos de investimentos, seguradoras e entidades fechadas de previdência privada, desempenham importante papel na formação de poupança interna.

À Superintendência Nacional de Previdência Complementar, enquanto órgão fiscalizador, cabe o papel de analisar e acompanhar a execução da política de investimentos dos fundos de pensão em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, e as normas do Conselho de Gestão da Previdência Complementar, que consideram os aspectos de segurança econômico-financeira, rentabilidade, solvência e liquidez dos planos de benefícios e de cada entidade fechada de previdência complementar. 

Para  concluir, podemos observar em apenas quatro casos, como a nossa cultura se comporta frente a adversidades, como no caso de uma grande cidade como São Paulo e o que pode acontecer à sua população, pela falta de um planejamento longo e bem estruturado de recursos hídricos.

A ponte Rio-Niterói segue nos mesmos moldes de uma visão míope com relação ao futuro e à taxa de crescimento populacional. Sequer foi observada a taxa de crescimento industrial, que jogaria milhares de novos automóveis nas cidades, fazendo com que uma via importante que liga duas cidades do porte do Rio de janeiro e Niterói, se tornasse obsolescente em tão poucos anos.

O nosso sistema ferroviário é conhecido por todos, como algo praticamente inexistente face ao tamanho continental, sendo que ele representa um dos melhores sistemas de integração, transporte de passageiros e de carga que existem.

Um trem expresso ligando o Rio a São Paulo era tudo o que o país precisava para alavancar a sua economia, e o deslocamento rápido e econômico de executivos, inter-cidades, coisa hoje inviável tanto aéreo pelos preços cobrados, como rodoviário, pela longa distância percorrida.

Quanto aos fundos de pensão, é irônico pensar que acreditamos que o que é importante e funciona no mundo exterior, aqui também funcionaria, como por exemplo o papel importante na formação de poupança interna. O que lemos todos os dias sobre o que acontece aos principais fundos de pensão, não é exatamente aquilo que por norma é atribuição do Estado.


Quanto ao AERUS, que é um fundo de previdência privada e portanto sujeito às normas da Previc, basta que nós, participantes desse fundo, nos olhemos diariamente no espelho e que vejamos o que aconteceu com a nossa imagem nestes últimos oito anos.
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 07-08-2014

3 comentários:

  1. Pois é, José Manuel, a sua compilação desses dados importantes mostra que você é um brasileiro preocupado com o Brasil. Infelizmente, o nosso povo vive em um país maravilhoso com uma natureza exuberante. Para que se preocupar com o futuro e com os políticos a quem entregamos a direção da nação? A grande preocupação é com o Carnaval e os campeonatos de futebol. Os políticos, como os "espertinhos" nas estradas, dirigem o país perigosamente, avançando sinais e ultrapassando os disciplinados pelo acostamento. Às vezes, acontece um acidente de percurso como no caso do mensalão! As grandes obras carecem de planejamento, visão do futuro e, sobretudo qualidade. Veja o caso da ponte Rio - Niterói que hoje já está engarrafada. Veja a Trans Amazônica que, apesar de todo o dinheiro investido é uma supervia super alagada! Agora, construíram um porto moderno (?) em Natal e os navios de cruzeiro, que tem altura entre 60 e 65 metros não conseguem chegar ao porto moderno para desembarcar os passageiros turistas pois a ponte construída tem um vão livre de apenas 55 metros! Realmente, o dinheiro que gastaram com a Copa daria para trazer água da Amazônia para São Paulo e para o nordeste! As obras não tem qualidade pois as empreiteiras que "vencem" a concorrência precisam extrair do custo da qualidade a verba para suprir os caixas 2 e as ajudas de campanha dos nossos políticos. Quem pede o "por fora" não tem o direito e nem moral para reclamar da obra mal feita! Delenda est PT!
    Parabéns pela sua exposição inteligente!
    Alberto José

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  2. Como sempre perfeito. agora dou meu pitaco:
    Com o montante gasto na tal fracassada transposição do rio são Francisco que está morrendo, gastamos até agora o valor de 8 usinas de ´osmose reversa para tratar água do mar em potável. 350 milhões de metros cúbicos por ano.
    Esse é o Brasil...

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  3. O Aqueduto é bem mais fácil, mais rápido e mais barato do que uma transposição e também diferente no seu uso, pois só atende determinada cidade em caso de absoluta emergência, como o que está ocorrendo agora em São paulo, apenas repondo os estoques em falta, e dentro de uma sazonalidade.
    A Ponte. pode perfeitamente ser alargada em seus tabuleiros,como já foram feitos em pequenos trechos para baias emergenciais, sem prejuízo do fluxo contínuo de tráfego.
    O Trem pode ser perfeitamente iniciado, pois para isso existe a disponibilidade de dinheiro farto pelos impostos pagos e uma demanda enorme para o tráfego tanto de pessoas como de carga. Só para se ter uma ideia do enorme problema, o meu filho foi recentemente a São Paulo para um curso de seis horas. Essa viagem ida e volta no mesmo dia custou à empresa a quantia de R$ 2.500,00 fora despesas periféricas. Com o trem bala, essa despesa sairia por 1/3 desse custo.
    Agora, quanto aos fundos de pensão, nós todos sabemos para que servem aqui no Brazil
    Infelizmente não existe vontade política, o orgulho exacerbado é só no futebol, pois a Pátria só existe de chuteiras e o que está escrito aqui neste artigo é simplesmente um devaneio sobre o ser possível.
    Mas o devaneio está no lugar errado.
    José manuel

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