Reinaldo Azevedo
Se o Datafolha e o Ibope
estiverem certos, contra a maioria das expectativas — desde que o avião que
conduzia Eduardo Campos foi ao chão, no dia 13 de agosto —, o tucano Aécio
Neves vai disputar o segundo turno da eleição presidencial com a petista Dilma
Rousseff. Não se pode afirmar com certeza, é claro, já que a diferença está
dentro da margem de erro, que é de dois pontos: o senador mineiro está
numericamente à frente da ex-senadora do Acre por 24% a 22% no Datafolha e por
27% a 24% no Ibope. Ocorre que ele chega à reta final em ascensão,
especialmente em São Paulo e Minas, e ela, em declínio. O mais provável, então,
é que PSDB e PT voltem a se confrontar no dia 26 de outubro. Pois é… Esteja ou
não no segundo turno, chegou a hora de Marina parar de errar. Será que ela
consegue, pelo bem do país? Tomara que sim! Acho que ela perdeu o direito de
cometer mais equívocos, especialmente os velhos.
Começo com a hipótese que hoje
se mostra menos provável: ela passar para o segundo turno. Isso aconteceria
numa situação extremamente difícil porque vem aumentando a distância que a
separa de Dilma tanto no primeiro como no segundo turnos. Mas digamos que
aconteça… A quem apelará Marina? Apenas às redes sociais, aos “sonháticos”, aos
cultores da tal “nova política”, esse elemento etéreo e que se mostrou dos mais
deletérios quando ela ascendeu ao topo da disputa?
Como esquecer que Marina
rejeitou palanques tucanos em São Paulo e no Paraná, onde os governadores
Geraldo Alckmin e Beto Richa, respectivamente, se reelegem no primeiro turno
daqui a pouco? Em entrevista, Walter Feldman, um de seus coordenadores políticos,
chegou a prever o fim do PSDB… Num comício no interior, os militantes da rede
deram um sumiço em cartazes em que sua imagem aparecia ao lado da de Alckmin.
Houve outros erros — tratarei deles em outro post.
Muito bem: estando no segundo
turno, Marina vai procurar o PSDB para dialogar, ou vai insistir em que os
tucanos, a exemplo de petistas, são apenas a “velha política? Bastará contar
com o conforto de que a esmagadora maioria do eleitorado de Aécio migraria para
ela? Seria um erro fatal.
Mas…
Ocorre que, tudo indica,
Marina não vai para o segundo turno. E, mais nessa hipótese do que na outra, é
que se vai testar a dimensão de alguém que se quer uma liderança nacional. Em
2010, Marina optou por aquilo que se chama “zona de conforto”. O José Serra ao
qual ela andou dirigindo elogios recentemente é aquele mesmo que disputou a
eleição presidencial com ela. No embate do tucano contra Dilma, Marina se
omitiu na neutralidade. Disse, com aquele gesto, que, para o país, era
indiferente vencer um outro. Será que ela continua a pensar isso hoje? Será que
é o que nos diz a Petrobras? É o que nos diz o crescimento? É o que nos diz a
desordem nas contas públicas? É o que nos diz o aparelhamento de Estado? É o
que nos diz a campanha suja que o PT move contra… Marina?
Ora, o que será feito desta
vez? No debate da Globo, em que se saiu notavelmente mal, Marina chegou a dizer
que Aécio e o PSDB se igualam a Dilma e ao PT no ataque que fazem a ela. Não é
verdade! Essa desculpa não poderá ser usada de novo se Marina decidir apenas
assistir à disputa de camarote. As críticas de Aécio foram de natureza
política, absolutamente legítimas e naturais no debate. Lembrar a trajetória de
alguém não é sinônimo de mentir. Já a campanha do PT foi obviamente desonesta.
Afirmar que a independência do Banco Central levaria a fome à mesa dos
brasileiros é uma estupidez. Acusar a adversária de planejar um corte de R$ 1,3
trilhão da educação é um despropósito.
A escolha
Sim, é razoável o raciocínio
de que a esmagadora maioria do eleitorado de Aécio migraria para Marina,
independentemente do movimento que ele fizesse — que, obviamente, seria em
favor dela, mesmo indo para a oposição depois. Afinal, o agora senador é o
primeiro a afirmar que o país não pode continuar mais quatro anos sob o jugo petista.
Mas não só isso: os eleitores do PSDB são autenticamente oposicionistas, e a
esmagadora maioria faria um voto anti-Dilma ainda que o tucano pedisse o
contrário — o que, de resto, jamais aconteceria.
É, sim, compreensível a
especulação de que parte do eleitorado de Marina pode, inicialmente, resistir
ao tucano porque, sei lá, ou tem um viés mais à esquerda ou está por demais
imbuído dos prolegômenos da tal “nova política”, sejam eles quais forem. Isso
não a eximiria de fazer uma escolha. É justamente em momentos assim que entra
em cena aquele ou aquela que aspira ao papel de líder nacional.
Se Marina, eventualmente fora
do segundo turno, se omitir mais uma vez, então estará a dizer ao país que,
segundo seu entendimento, política é a arte de receber apoios, mas de nunca dar
apoio. Se, de novo, optar pela neutralidade, estará afirmando a seu eleitorado
que, para o Brasil, é irrelevante ter Aécio ou Dilma no comando. Na prática,
estará falsificando o próprio discurso. Afinal, ela própria fez o elenco dos
motivos — muitos motivos — por que o PT não pode continuar no poder. Fiel,
ademais, a seus princípios, não precisaria nem negociar cargos nem integrar a
base de apoio de um governo Aécio — que fosse para a oposição depois.
Incompreensível, aí sim, será se ela der a sua contribuição pessoal, pela via
da omissão, à eventual reeleição de Dilma.
Se passar para o segundo
turno, o que é pouco provável, Marina terá de refazer as pontes que dinamitou;
se não passar — e tudo indica que não passará —, terá de fazer pontes com o
futuro e com o seu próprio futuro político. Ela foi muito eloquente na campanha
em dizer por que o PT não pode continuar. Que colabore, então, para tirá-lo do
trono! A menos que considere que o povo faz por merecer os malefícios que ela mesma
apontou.
Assim, como ela mesma diria,
chegou a hora de Marina “ganhar ganhando” ou de “ganhar perdendo”. Só não vale
é “perder perdendo”.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 5-10-2014
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