terça-feira, 21 de outubro de 2014

Josias de Souza e o apaziguamento seletivo. Dica para Aécio: faça o oposto do que Josias diz para fazer.

Luciano Henrique

O debate de ontem na Record foi deprimente. Mesmo que Dilma tenha ganho por pouco (embora tenha perdido de Aécio por goleada no debate do SBT, e por pouco no da Band), foi o mais fraco de todos os debates. Especialmente pelos ataques repetitivos (embora menos agressivos do que antes) de Dilma e pela tranquilidade excessiva de Aécio Neves.

É momento de relembrarmos o que Josias de Souza [foto] falou em relação ao debate anterior (do SBT). Estou citando Josias agora pois é esse tipo de discurso lamentável que incentivou a malemolência de Aécio no debate de ontem – claro que também temos uma colaboração do PT com o truque onde se fingiram de vítima dizendo que “Aécio desrespeitou as mulheres”. O texto é Nem Dilma, nem Aécio, vote em Anderson Silva, escrito em 17/10 por ele:


Pelo segundo debate consecutivo, Dilma Rousseff e Aécio Neves emboscaram a audiência. Quem se pendurou na tevê, na web e no rádio à procura de ideias desperdiçou tempo. No confronto eleitoral mais desqualificado desde a sucessão de 1989, os presidenciáveis exibiram apenas os punhos. Ninguém esperava por uma troca de perguntas florais. Mas se porrada resolvesse os problemas da nação, Anderson Silva seria um candidato bem mais competitivo.

O desempenho da economia é medíocre, a inflação é alta, os juros são elevados, o déficit externo bate recorde, a deterioração fiscal é alarmante, a dívida pública cresce e os investimentos definham. Sobre isso não se falou com a profundidade desejável. Mas ficou-se sabendo que Dilma, embriagada pelo marketing, acha que Aécio fugiu do bafômetro em 2011 porque estava bêbado. E Aécio revelou à nação que Dilma terceirizou o nepotismo, empregando o irmão na prefeitura companheira de Fernando Pimentel, em Belo Horizonte.

O presidencialismo de cooptação produziu na Petrobras uma roubalheira sem precedentes. Quando os depoimentos prestados em regime de delação puderem soar em público, o mensalão parecerá um desses casos que transitam pelos juizados de pequenas causas. Cutucada por Aécio, Dilma respondeu que sabe o que o PSDB fez no verão passado. E o tucano: por que, em 12 anos, não mandaram investigar?

Nesse lero-lero, nenhum dos dois abordou o essencial: o modelo político adotado por PT e PSDB faliu. O fisiologismo deixou de ser parte do sistema. Passou a ser o próprio sistema. Está tão integrado ao cenário brasiliense quanto as curvas da arquitetura de Niemeyer. O empate nas pesquisas e o nanismo dos debates impedem a antecipação do nome do próximo inquilino do Planalto. Mas já se pode assegurar, sem margem de erro: o PMDB e seus vícios serão os esteios da governabilidade.

As duas grandes encrencas nacionais —os desajustes econômicos e a hecatombe da delação— já fizeram de 2015 um ano miserável. Em relação à economia, Aécio faz o diagnóstico sem esmiuçar a terapia. E Dilma finge não enxergar nem a doença. Quanto à breca do sistema político, não se ouviu uma mísera palavra nos dois debates já realizados no segundo turno.

Já está claro que o atual modelo de debates precisa ser reformulado. O caso é de menos marketing e mais sobriedade. Se havia alguma dúvida sobre a decadência da fórmula, foi eliminada na noite desta quinta-feira, nos estúdios do SBT. Mas não há o que fazer nos dez dias que faltam para a eleição. Estão programados mais dois debates. De duas, uma: ou Dilma e Aécio levam meio quilo de ideias à bancada ou os telespectadores mais antigos terão saudades das baixarias encenadas por Fernando Collor em 1989.

É lamentável essa postura. É especialmente uma pena por que Josias estava fazendo um bom trabalho até o momento nessas eleições.

Até agora vivíamos um momento em que o PT batia sozinho. Não víamos do lado dele uma indignação tão grande quanto como agora, em que o candidato Aécio resolveu revidar os ataques na mesma moeda. Este é o apaziguador, o pior papel existente na política.

O que havia de “baixo nível” na atitude de Aécio, Sr. Josias? Se não há “baixo nível” na atitude de Aécio, então não temos uma “campanha de lado a lado de baixo nível”. Esse texto parece até discurso do amiguinho do bully, revoltado quando a vítima do bullying reage.

Então eu vou dizer isto aqui de forma tão clara quanto possível: todos os jornalistas que reclamam da “agressividade dos dois lados” dizendo que isso é “lamentável para a campanha” estão sendo intelectualmente desonestos. A mim não enganam!

O resultado é que ontem Aécio esmoreceu, enquanto Dilma continuou com suas baixarias. Mas se o PSDB tivesse atacado o PT desde o começo, lá no início do primeiro turno, aí sim o PT poderia estar mais contido, pois o verdadeiro respeito mútuo só existe quando os dois lados passam a temer o ataque do outro. O problema é que o PT ficou 90% desta campanha com o monopólio dos ataques. E os usou de forma plena.

Não é a reação de Aécio no fim do primeiro turno e agora que está criando uma “campanha agressiva”, mas a passividade da oposição durante grande parte da eleição. Também não deixa de ser verdade que a passividade de um lado atrai a agressividade do outro.

Os jornalistas que hoje estão lamentando “a agressividade dos dois lados” são corresponsáveis por sua omissão cínica quando apenas o PT tinha o monopólio dos ataques.

Parte da responsabilidade pela baixaria existente hoje (apenas de um dos lados) é destes apaziguadores, que sempre se escondem quando apenas o lado deles está atacando, mas aparecem quando o outro lado começa a reagir.

Que Aécio mande às favas esses apaziguadores indecentes e venha com “sangue nos olhos” para o debate da Globo. Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 21-10-2014

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