José António Rodrigues Carmo
Miss Marple resolvia
intrincados casos policiais por analogias com personagens do seu pequeno mundo
rural. A sábia senhora sabia que a natureza humana está sempre perto da
superfície, mesmo que convenientemente escondida por sucessivas camadas de
verniz cultural e civilizacional.
A história, típica e anónima,
foi-me contada por quem com eles viajava.
Um casal seguia na autoestrada.
Ele ia a conduzir a 120 Km/h, e foi a essa velocidade que iniciou a
ultrapassagem de um camião. Algumas centenas de metros atrás, um fitipaldi em
aproximação já vinha a fazer sinais de luzes e, a uma velocidade estonteante,
colou-se à traseira do carro dos nossos protagonistas, apitando e barafustando.
O homem detentor de uma
notável fleuma, completou imperturbavelmente a ultrapassagem à velocidade a que
vinha, fez sinal e retomou a faixa da direita. O fitipaldi estava furioso e fez
questão de o demonstrar, plantando-se à frente do carro do casal e executando
sucessivas travagens. Enfim, uma situação perigosa, mas banal nas nossas
autoestradas.
Este poste é sobre a reação da
esposa que, visivelmente nervosa, desatou a criticar o marido e a assacar-lhe
culpas por ter incorrido na fúria do fitipaldi, apesar de ele não ter feito
rigorosamente nada, e ter agido até com notável contenção.
Numa situação daquelas, se
fosse eu o passageiro, a minha solidariedade estaria com o meu condutor e a
fúria e a crítica reservá-las-ia para o fitipaldi.
A senhora, pelo seu lado, vê o
seu mundo a ser agredido e, em vez de apoiar os seus, desata a criticá-los e a
culpá-los. Não se lembrou de criticar o óbvio culpado. É como se, para ela, o
fitipaldi não pudesse agir de outra forma, sendo obrigação do marido adivinhar,
ceder e adaptar-se às características do fitipaldi, mesmo que para isso
infringisse as regras do seu mundo.
É aqui que entra Miss Marple.
A senhora é de esquerda, mesmo
que o não saiba, porque a sua atitude é exatamente a que define a esquerda
“multiculturalista”: infinitamente tolerante para com o “outro” e absurdamente
crítica com a própria cultura e civilização; sempre disponível para justificar
e compreender o terrorismo e obcecada com a condenação e crítica daqueles que
lhe fazem frente.
Aquela senhora estava disposta
a todas as cedências e indignidades para desculpar o agressor e culpar o marido.
Porque ele estava ali e era a maneira mais fácil de descarregar a frustração e
o medo que a situação lhe causava. No imaginário dela, se o marido cedesse
completamente ao agressor, ela não teria passado pela situação.
É exatamente o mesmo estado de
espírito que explica a atitude da esquerda.
Na década de 80 a esquerda
berrava “antes vermelhos que mortos”, e criticava não os mísseis russos
apontados às suas cabeças, mas os que os americanos queriam instalar para
responder a essa ameaça. Temia os russos e por isso criticava os americanos,
por perturbar o seu tom ameaçador.
Hoje a esquerda critica, não o
terrorismo, mas a resposta ao terrorismo. Não o islamismo, mas a resposta ao
islamismo.
Não o Kim- Jong- Un, mas o
Trump.
Tem medo dos americanos? Não,
teme os "outros". Consequentemente, critica os americanos e todos
aqueles que, como o marido da senhora, não se colocam de cócoras perante a
vontade do "outro".
Onde desagua este estado de
espírito?
Na rendição e na derrota.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, Facebook, 2-5-2017
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