Cesar Maia
1. Filmes, livros, cobertura da
imprensa e ação sindical, durante mais de 100 anos, mostravam as greves como
interrupção do trabalho nas fábricas industriais. Os piquetes se concentravam
na porta das fábricas. E, por isso, esses eram os focos da cobertura da
imprensa, das análises, dos livros e dos filmes.
2. Assim eram as marcas das
greves no mundo todo. O dia 1 de maio, como dia do trabalhador, abriu, no
século XIX, as lutas pela jornada industrial de 8 horas. Os sindicatos
ingleses, desde o século XIX, tinham as fábricas como referência. No Brasil não
foi diferente. O martelo das fundições simbolizava a luta sindical, até na
bandeira dos partidos comunistas. E nem cabe lembrar da luta nos campos, das
ligas camponesas. As grandes propriedades no campo foram também
“industrializadas”.
3. O movimento sindical
brasileiro e suas lideranças mais destacadas, desde os anos 40, da mesma forma.
A greve dos metalúrgicos de 1979, de onde despontou Lula como presidente do
sindicato, mobilizava os trabalhadores nas portas das fábricas com aparelhos de
som em cima de caminhões e palanques improvisados. Os piquetes e as
paralizações das fábricas eram expressas nas imagens, filmes e fotos.
4. O debilitamento do
associativismo nos últimos anos como contraponto da emergência do setor de
serviços pulverizado por natureza, e das redes sociais, iniciou um processo de
“desindustrialização” do movimento sindical, de “desobrerização” efetiva dos
sindicatos, com maior expressão e substituição pelos sindicatos de classe
média, especialmente das corporações nos serviços públicos.
5. As expressões
correlacionadas aos sindicatos de têxteis, metalúrgicos, de petroleiros, da
construção civil, ferroviários, rodoviários, portuários, etc., desapareceram
das convocações para a mobilização do dia 28 e da cobertura da imprensa.
Certamente faltou, na cobertura da imprensa, presença de repórteres – especialmente
fotográficos – nas portas das empresas industriais. Se tivessem ido lá, teriam
destacado um clima de tranquilidade em todo o parque industrial, como se nada
estivesse acontecendo no centro das cidades.
6. A paralização parcial dos
transportes públicos teve muito mais a ver com a ameaça de queima de ônibus do
que de adesão dos rodoviários. As expressões – sindicato dos marítimos, dos
ferroviários… – desapareceram.
7. A própria
metodologia/tecnologia das mobilizações na chamada greve geral do dia 28 teve
muito mais a ver com a experiência das ruas marcadas pelas redes sociais nos
últimos quatro anos, que pelas centrais sindicais. Até a violência usada veio
dessas experiências como dos black-blocs.
8. Uma leitura adequada das
mobilizações no dia 28 de abril deveria servir para a reflexão dos sindicatos,
dos sociólogos, dos políticos e da imprensa.
Título e Texto: Cesar Maia, 2-5-2017
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